A Importância do Trabalho para a Mente Humana
Olá, caro leitor! Cá estamos em 2016!
“O trabalho dignifica o homem.”. Por trás dessa conhecida frase da sabedoria popular, existem aspectos de finanças, da capacidade física do ser humano, intelectual, de direitos, da previdência, aspectos sociais, da nossa cultura e também íntimos e pessoais. Pretendo lançar luz para aspectos psicológicos que permeiam a questão do trabalho para o ser humano e que de maneira alguma excluem os demais. Para tanto, vamos retomar algumas regrinhas:
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Nestes tempos de início de ano a questão que envolve o nosso criar – seja ela através do trabalho, de lazer ou de necessidade – vêm à tona. É um emprego novo ou a ânsia por ele, é aprender algum instrumento, estudar mais, se exercitar fisicamente, pendurar quadros pela casa, cuidar daquele avô adoecido ou da horta dos fundos ou procurar um psicoterapeuta. O que vamos criar toma parte dos nossos pensamentos no início desse novo ano, desse novo tempo.
Desde os primórdios o ser humano intervém e transforma a natureza, de forma que o desenvolvimento psíquico não existe separado das relações que são mediadas pelo trabalho que as pessoas se constituem socialmente. O ser humano criou instrumentos para a agricultura, a pecuária, para se deslocar de lugar, para modificar o seu ambiente. Criamos e estamos em constante movimento, sendo o trabalho a condição essencial para a realização humana. Contudo, ele representa, ao mesmo tempo, duas vias de compreensão. A do prazer e a do desprazer. Mas como assim? Ora, se por um lado o trabalho é valorizado socialmente e dotado como a fonte de dignidade, por vezes é relacionado à dor e ao sofrimento (regrinha nº4).
Estava eu me atendo a um artigo essa semana que trazia algo interessante. A origem latina do vocábulo “trabalho” remonta ao termo tripalium, que era um instrumento usado para torturar escravos rebeldes. Também o termo labor remete à idéia de esforço penoso, da fadiga, da dor e do sofrimento (Trabalho e Capitalismo: Uma Visão Psicanalítica, de Jorge e Bastos, 2009). Penso que, psiquicamente, há essa fatia do trabalho que representa algo sofrido. Com isso, não é difícil notar o caráter penoso que, por vezes, o fazer pode ter. Mas, será que o trabalho é só sofrimento? Penso eu que existe outra fatia dentro da gente (regrinhas nº3 e 4) e que trabalhar tem a ver com transformar.
Lançando os olhos para interação pessoas-coletividade, é por meio do criar que a sociedade enxerga o que há de mais sublime vindo do ser humano. E ele também em si próprio. O fazer, ou o construir, facilita e justifica a existência humana em sociedade, promovendo e mantendo, inclusive, laços sociais. Em termos de representação, dentro da gente, o trabalho é como uma técnica que garante um lugar seguro na realidade e na comunidade, no mundo (regra nº1), (O Mal Estar na Civilização, Freud, 1996/1930). Por essa ótica, não é difícil perceber o trabalho e as construções/criações humanas como sendo o que há de mais valorizado socialmente.
O trabalho possui uma relevância quanto à identidade por representar um pertencimento a uma dada comunidade. Mas quero chamar atenção para algo além, mais interno (regra nº1). Psiquicamente, criar fortalece a noção de identidade através das habilidades produtivas. Como se estivéssemos com um microscópio, lá no fundo e bem ampliado, o trabalho representaria uma via pela qual o ser humano encontra a possibilidade de saciar sua necessidade do saber, do crescer, do criar e de lidar com as dores da vida. Por meio daquilo que cria, ele pode transformar, se realizar e se perceber enquanto agente transforma-a-dor.
Assim, de qualquer maneira, trabalhar permite ao ser humano a possibilidade de construir boa parte da sua própria identidade e de si mesmo. Já que é no social, isto é, no contato com o outro que o trabalho acontece, o homem pode ser, finalmente, visto e revisto. E então, como num espelho, criamos e podemos nos enxergar. O trabalho ajuda a proporcionar, portanto, a identidade pessoal, ou o “quem sou eu”.
Temos, então, que o homem se constrói conforme ele intervém no mundo. Pois que é o anteverso da destrutividade,– ver artigo A Destrutividade Humana, clique aqui – o criar revela a nossa humanidade na medida em que possibilita uma ação transformadora na natureza e, portanto, em nós mesmos (regra nº4). Trabalhar possibilita às pessoas, através da criação,a construir ou a re-construir. Há quem chame isso de amor. Penso eu que, mesmo que minimamente, ele está envolvido nisso (regra nº2).
Bem, não pretendo esgotar o assunto e, como venho mencionando, me restrinjo somente a curtas reflexões. Quem acompanhou minhas últimas colunas pôde notar a importância que dei para o que é novo e aquilo que nasce, renasce e se desenvolve. A criatividade ou o criar faz parte da natureza humana e é, também, des-envolver. E criar é também nascer e renascer. É por meio de sua intervenção no mundo que o ser humano se constrói. E é a partir de sua própria e constante construção que ele intervém no mundo.O trabalho é algo que ocorre entre o homem e a natureza, mas acima de tudo, entre ele e a sua própria natureza.
Um abraço e bom retorno ao trabalho!