‘Robô Alexa’ pode virar um espião dentro de casa
O Astro, novo robô doméstico da Amazon, foi apresentado nesta terça-feira, 28, em um evento online da empresa. Mas o dispositivo mal chegou ao mundo e já despertou a atenção de quem se preocupa com privacidade. As preocupações começaram a ganhar força depois de um documento vazado da companhia afirmar que o aparelho foi programado para monitorar barulhos e todas as pessoas dentro de casa, por meio de um sistema chamado Sentry.
A informação, publicada pela revista americana Vice, conta que nos documentos internos, o Astro é chamado de “Vesta”, em uma espécie de codinome para o robô, e possui um sistema (Sentry) que é habilitado para “investigar” barulhos e pessoas desconhecidas. O que deveria ser, então, um dispositivo de segurança, como foi apresentado pela empresa, passa a ser um espião dentro da própria casa, afirma o site.
O Sentry foi programado para aprender expressões e sons para tornar o Astro um patrulheiro doméstico. O funcionamento desse sistema requer um mecanismo de reconhecimento facial e toda vez que um rosto não é identificado como parte da família por 30 segundos, o Sentry ordena ao Astro que siga imediatamente todos os passos do ‘invasor’, até que o sistema seja desligado.
A função é uma opção que precisa ser habilitada, mas, uma vez ativa, é uma autorização para que o Astro siga a pessoa desconhecida e grave sons e imagens enquanto faz a patrulha. A Amazon não especificou se essas informações são processadas em nuvem ou no próprio aparelho, mas elas podem ser enviadas para o aplicativo no celular do dono do robô — ou seja, existe a possibilidade da transferência dessas informações.
Funcionários demonstraram preocupação com a relação desse sistema e o que eles identificaram como uma falha de efetividade no reconhecimento facial. De acordo com as fontes ouvidas pela Vice, o sistema de identificação não funciona corretamente.
Além disso, pessoas que trabalharam com o dispositivo afirmam que o produto não é tão eficiente quanto a Amazon apresentou, em termos de durabilidade de segurança.
“O Astro é terrível e quase certamente se jogará escada abaixo se tiver a oportunidade. A detecção de pessoas não é confiável, na melhor das hipóteses, tornando a proposta de segurança interna ridícula”, disse uma fonte que trabalhou no projeto. “O aparelho parece frágil para algo com um custo absurdo. A haste (que sustenta a câmera) quebrou em vários aparelhos, travando na posição estendida ou retraída, e não há como devolver o robô para a Amazon quando isso acontecer”.
Outros funcionários ouvidos pela Vice revelaram a mesma preocupação com a qualidade material do robô e questionaram se o projeto estava mesmo pronto para ir à público. Segundo uma fonte que também trabalhou no projeto, a navegação não é o ponto forte do aparelho.
“Quanto às minhas opiniões pessoais sobre o dispositivo, é um desastre que não está pronto para ser lançado”, disse. “Eles se quebram e, também (na minha opinião), são um pesadelo que se torna um indício ruim da nossa sociedade e como trocamos privacidade por conveniência com dispositivos como o Vesta”.
Em resposta à Vice, Kristy Schmidt, gerente sênior de relações públicas para dispositivos e serviços da Amazon, afirmou que o robô passou por testes e por estudos de universidades americanas, com profissionais de computação e com especialistas em algoritmos.
“Essas caracterizações de desempenho, haste de câmera e sistemas de segurança do Astro são simplesmente imprecisas. O Astro passou por testes rigorosos de qualidade e segurança, incluindo dezenas de milhares de horas de testes com participantes beta. Isso inclui testes abrangentes no sistema de segurança avançado do Astro, que foi projetado para evitar objetos, detectar escadas e parar o dispositivo onde e quando necessário”, explicou Kristy em um e-mail.