A sustentabilidade na construção civil
A construção civil é considerada uma das atividades que mais contribui para o desenvolvimento econômico do país atualmente, entretanto, é a atividade que mais gera impactos ambientais negativos. Uma obra, por menor que seja, além de consumir uma grande quantidade de recursos naturais, também influencia significativamente nos índices de emissão de gases de efeito estufa, no aumento das taxas de desmatamento, no consumo de energia, geração de resíduos, entre outros.
Os números divulgados através de pesquisas são assustadores: a construção civil consome 75% dos recursos naturais do Planeta, 34% da água, 50% da energia elétrica e 72% da madeira comercializada no Brasil não tem certificação, portanto, é ilegal. A construção civil é também considerada a atividade que mais gera resíduos. Cerca de 60% do total de resíduos produzidos nas cidades brasileiras têm origem na construção civil e os estudos mostram que apenas em São Paulo a geração de resíduos de construção é de aproximadamente 17 mil toneladas por dia.
A produção de materiais para alimentar o setor da construção é também responsável pela poluição provocada por poeira e por emissões de enormes quantidades de gás carbônico (CO2), que são geradas na produção do cimento. O lançamento de CO2 na atmosfera dobrou nos últimos 30 anos, por isso o setor da construção civil tem como estimativa a responsabilidade de reduzir para 1% as emissões totais de gases de efeito estufa até 2030.
Diante tantos impactos, a engenharia civil e a arquitetura precisaram desenvolver técnicas construtivas menos agressivas ao meio ambiente, surgindo então o conceito de Construções Sustentáveis. Um prédio verde, ou uma construção sustentável deve proporcionar um ambiente saudável aos seus ocupantes, minimizar os impactos ambientais e preservar recursos naturais, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade sem comprometer as futuras gerações.
Em uma construção sustentável, deve-se utilizar técnicas construtivas ecológicas que envolvam diferentes aspectos, desde a localização do terreno e o impacto que a obra provocará na vizinhança, até sua fase operacional após a conclusão das obras.
Algumas medidas que podem ser adotadas para reduzir os impactos ambientais gerados pelas obras são a utilização de materiais reaproveitados e/ou reciclados, uso de madeira certificada, aproveitamento da iluminação natural, aquecimento solar, sistema de captação de água da chuva e reuso da água, descargas com duplo comando nos vasos sanitários, o gerenciamento de resíduos durante a obra e na sua fase de operação, substituição de lâmpadas comuns por fluorescentes T5 ou LED, aplicação de películas para redução de calor nos vidros de prédios administrativos, entre outros.
Outra técnica que está sendo muito empregada são os telhados ou coberturas verdes, que são construções em que as coberturas de telhas são substituídas por vegetação. Esse tipo de construção reduz o calor e melhora a qualidade do ar nos centros urbanos, pois absorve gases do efeito estufa emitidos por veículos e diminui grande parte das águas de chuva que poderiam causar enchentes.
No Brasil, certifica-se que uma construção é ou não sustentável a partir do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações, concedido pelo Green Building Council (GBC) Brasil.
Muitas pessoas não sabem, mas as edificações sustentáveis começaram a ganhar mais espaço nas construções brasileiras nas últimas décadas. O Brasil já é o quarto país do mundo com mais prédios verdes certificados, como o prédio da Agência do Santander em Granja Viana em São Paulo, que foi o primeiro prédio a obter um certificado LEED na América Latina, a sede da Editora Abril na Marginal Pinheiros e o Edifício Faria Lima Square, também na cidade de São Paulo.
Recentemente também foi criado o Referencial GBC Brasil Casa, com o intuito de avaliar questões de eficiência e sustentabilidade em projetos residenciais através da construção de casas com melhor desempenho energético, maior conforto térmico, ambientes internos saudáveis, além de reduzir perdas financeiras.
Os princípios da construção sustentável podem ser aplicados desde projetos de pequenas casas populares até a construção de grandes prédios, como fábricas, indústrias ou hospitais. Entretanto, a justificativa de muitos empreendedores para não usar técnicas sustentáveis em suas obras ainda é em relação ao aumento de gastos.
Pesquisas recentes indicam aumento de cerca de 5% nos gastos no processo de construção caso sejam feitos investimentos em sustentabilidade, porém, um prédio verde gera economia de energia de cerca de 30%, redução de 35% na emissão de carbono, entre 30 e 50% de redução no uso de água e diminuição de 50 a 90% do descarte de resíduos, compensando os custos de sua construção.
A construção civil é atualmente um dos ramos de maior potencial na redução dos impactos ambientais, pois ainda existem muitas possibilidades de evolução de técnicas construtivas mais sustentáveis e do desenvolvimento de outras técnicas de reaproveitamento e reciclagem de materiais. A tendência dos “prédios verdes” é irreversível e os profissionais da área precisam se preparar, pois desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente devem andar juntos para atender os princípios da sustentabilidade.