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Entrevista da Semana
seg. 02 jun. 2025
PSICANÁLISE

‘Passamos a viver de uma forma onde há exigência da produção’, diz Cibele Brandão

Presidente do GEP fala sobre a entidade e os tratamentos oferecidos à sociedade adoecida na ‘era’ dos bebês reborn.
por Rodrigo Viudes
Presidente do GEP, Gisele Brandão (Foto: Divulgação)

Fundado em 1994 como um núcleo, o Grupo de Estudos Psicanalíticos (GEP) de Marília e região reúne psicólogos, psiquiatras e outros profissionais dedicados ao estudo e desenvolvimento da psicanálise no interior paulista.

Passadas três décadas, a entidade tem atuado em tempos marcados pela piora nos indicadores de análise da saúde mental da população, inclusive em Marília, na sociedade atual dos bebês reborn.

“Se a gente entende que essa correria toda que nós vivemos não favorece tanto a criação de vínculos reais, bem próximos, bem intensos, aparecem as substituições”, afirmou a presidente do GEP, a psicanalista, Cibele Brandão.

Em entrevista ao Marília Notícia, a dirigente fala sobre motivos que levam o adoecimento mental das pessoas e os caminhos terapêuticos oferecidos pela entidade. “Marilia vai ter uma sociedade de Psicanálise”, destacou.

Graduada em Psicologia pela USP de Ribeirão Preto, Cibele Brandão é membro da International Psychoanalytical Association (IPA) pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo desde 1999. É casada com o advogado Júlio Brandão.

* * * *

MN – O GEP caminha para três décadas de existência. O mudou desde então na atuação da psicanálise?

CIBELE BRANDÃO – As mudanças foram muito profundas. Em 1994, nós tínhamos o Núcleo de Psicanálise de Marília e região. Houve um crescimento grande, mas entre 2021 e 2022 a gente começou a pensar seriamente em sermos o grupo de estudos psicanalíticos. A diferença central nisso é que nós passamos a pertencer a uma organização internacional, que é Associação Internacional de Psicanálise que, inclusive, foi fundada pelo próprio Freud em 1910. Nós estamos nos preparando para a possibilidade de formarmos novos analistas aqui no GEP. Nós, os mais velhos, viajamos toda semana para São Paulo para fazer essa formação. Marília vai ter uma sociedade de psicanálise. A pessoa que se interessar, a exemplo dos jovens que queiram se tornar analistas, terão uma situação um pouco mais confortável, de não precisar viajar tantos quilômetros semanais.

MN – O quanto as formações específicas oferecidas pelo GEP aprimoram a qualidade do atendimento?

CIBELE BRANDÃO – A formação não é só para psicanalistas, mas nem todo mundo vai fazer. Aliás, é uma pequena parte da população que faria. Entretanto, seria importante, por exemplo, para um psicólogo. Nós temos um curso em que nós estamos na 14ª turma, que é de psicoterapeutas na teoria psicanalística. É um curso de dois anos. Frequentemente nossos alunos se referem a ele como a um divisor de águas. O antes e o depois ajuda muito. Temos um programa muito sério, com muita coisa dedicada ao aprimoramento da profissão. Eu gostaria de dizer que não é só a formação para psicanalistas, mas o aprimoramento de profissionais.

MN – Como a senhora avalia os cursos de formação em psicanálise oferecidos atualmente?

Aula especial proferida por Cibele Brandão a profissionais no GEP (Foto: Divulgação)

CIBELE BRANDÃO – Bem, a formação que eu estou descrevendo é ligada a um órgão internacional específico, tem seriedade extrema, critérios de excelência. É uma formação que dura muitos anos e, no meu entender, não tem fim. Nós estamos constantemente estudando, conversando, lendo, dialogando. É uma obra em construção. Exige bastante de quem se propõe, mas também devolve muito. É uma profissão fascinante. Agora, a pessoa que se interessa por essa área precisa muito conhecer onde está se colocando para estudar. Às vezes, podem existir situações que não tem a seriedade necessária. A pessoa vai trabalhar com aquilo que tem de mais delicado e importante no ser humano, que é o mundo interno. Então, o profissional que vai interferir nisso, tem que ser muito bem formado.

MN – Qual é a importância de uma formação prévia para o estudo da Psicanálise?

CIBELE BRANDÃO – A gente tem a Psicanálise como uma pós-graduação, uma especialização e é necessário ter uma graduação anterior. Sobretudo da Psicologia, da Medicina, para ter um embasamento teórico mínimo. Um dos critérios que você pode analisar é exatamente esse. Por vezes, você faz um curso, disponibiliza uma quantia financeira que não é fácil para ninguém e pensa ser uma escolha que realmente capacitasse você. Mas a Psicanálise é uma pós-graduação. Na faculdade de Psicologia, por exemplo, você estudará sobre princípios éticos, técnicas. É uma área que oferece atendimento ao sofrimento humano. O que você terá, por exemplo, na Psicanálise, é um aprimoramento.

MN – Como o GEP tem revertido seus conhecimentos em prol da comunidade?

CIBELE BRANDÃO – A gente tem no GEP o atendimento à comunidade. Há uma parte que é de aprimoramento dos profissionais, com várias modalidades. A outra é do atendimento à comunidade. Por exemplo, os próprios alunos do curso de Psicoterapia oferecem atendimento num preço de clínica social, um preço menor, mais acessível. Nós temos o Cine Debate aqui, que é alguma coisa que toda população pode se servir. Geralmente escolhemos filmes que têm a ver com diferentes temáticas. No mês passado, foi exibido aquele filme com a Debbie Moore que se chama A Substância, que é a angústia da pessoa que vai envelhecendo, vai saindo do mercado de trabalho e as coisas desesperadas que ela tem que fazer para se manter jovem. Não podemos deter o tempo. Como que uma pessoa vai ficar eternamente jovem? É uma reflexão que nós temos aqui. Houve um primeiro encontro que se chama ‘roda de conversa’, que são questões ligadas à educação de crianças, de jovens para pais, professores.

Cine Debate promovido pelo GEP discute temas relacionados à Psicanálise (Foto: Divulgação)

MN – Como foi ao GEP passar pela pandemia em suas atividades e atendimentos?

CIBELE BRANDÃO – Foi um período que nós trabalhamos incessantemente. A pandemia foi uma coisa muito triste que aconteceu, mas trouxe alguns ensinamentos inegavelmente. Por exemplo, nós aprendemos a trabalhar online e algumas coisas vieram para ficar, o que facilita o trabalho. A gente tinha que dar aula online. Eu nunca tinha feito isso. E você vai pela necessidade, vai aprendendo, se virando. Hoje, às vezes, eu nem percebo quando eu estou online e quando eu estou presencialmente. Já normalizou, né? Veio para ficar.

MN – Como a Psicanálise pôde contribuir nesse período?

CIBELE BRANDÃO – Nós fomos muito requisitados. Muitos solicitados porque foi um momento insano para as pessoas. De repente, a gente teve casos de família que se dizimaram totalmente, que todas as pessoas faleceram. É um sofrimento indescritível vivido de insegurança, de medo, de preocupação. Por isso, todos os analistas trabalharam enormemente. De repente, você tem que estar pronto para responder uma demanda dessa. Daí, a importância da formação. E a gente viu que as pessoas puderam realmente responder.

MN – Por que ainda hoje, com tanto acesso às tecnologias digitais, parece ser tão difícil a um jovem decidir a profissão?

CIBELE BRANDÃO – Eu acho que há um conjunto de coisas que dificultam, mas a gente poderia destacar uma situação. A cobrança que existe hoje de as pessoas terem que se desenvolver muito, principalmente financeiramente. Portanto, a pessoa tem que ter sucesso. Não existem olhos muito voltados para o que a pessoa será, o que ela quer, como vai conseguir, mas terá que ser uma pessoa bem sucedida. Isso assusta.

MN – O que a Psicanálise diz sobre o processo de adoecimento mental na sociedade atual?

CIBELE BRANDÃO – Nós passamos a viver de uma forma onde há exigência da produção. É aquilo que nós falamos de ganhar dinheiro, ter sucesso profissional. O trabalho é muito grande dentro de uma família. O pai sai, a mãe sai, aquela correria toda. Sobra pouco espaço na nossa vida social para conversar, para ir atrás de outros valores. O ser humano necessita disso. Às vezes, o jovem não tem com quem conversar. Isso acaba tendo um reflexo. É um salve-se quem puder, corre daqui, corre dali e fica pouco espaço dedicado ao crescimento mental. Isso traz consequências. As redes sociais, por um lado, podem ser benéficas. Você se comunica rapidamente, as notícias podem transitar, mas fica também um estilo de convivência com a solidão que começa a acontecer dentro de cada ser humano de uma forma muito grande. Isso também traz consequências.

GEP realiza eventos para aprimorar a formações de profissionais na Psicanálise (Foto: Divulgação)

MN – Qual a relação desse distanciamento com o aumento do consumo de ansiolítico no país?

CIBELE BRANDÃO – Veja, a pessoa procura um recurso para se sentir melhor. A gente entende, como psicanalista, que não tem recurso melhor que a palavra, que a troca de experiências. É preciso se conscientizar do que está acontecendo. A medicação ajuda enormemente em muitas situações, em muitos casos. Faz diferença total em determinados quadros, mas é receitada por médicos, entende? É diferente da automedicação. E aqui não vai crítica nenhuma à pessoa que recorre a um remédio. O problema é aquela velha automedicina.

MN – Qual a explicação da Psicanálise para o fenômeno atual dos bebês reborns?

CIBELE BRANDÃO – Eu vejo assim. Conforme a maneira que estamos nos estruturando e vivendo, trazemos consequências. Se a gente entende que essa correria toda que nós vivemos não favorece tanto a criação de vínculos reais, bem próximos, bem intensos, aparecem as substituições. Essas bonecas, chamadas de bebês reborn se assemelham enormemente ao bebê humano. Isso pode ser entendido como um hobby no caso de um colecionador. É possível ainda haver fins educativos para simular o trabalho de uma dola na amamentação ou para um pediatra no exame. Torna-se preocupante quando isso substitui o bebê humano. A pessoa esquece que aquilo é um brinquedo. Chega-se ao ponto de não conseguir sair porque não tem com quem deixar o brinquedo, entende? Aí começa a entrar numa fronteira preocupante e que pode ter situações patológicas, de você não se saber diferenciar o que é real e o que é fantasia.

MN – A que a senhora relaciona a decisão de quem abrevia a própria vida, do ponto de vista da Psicanálise?  

CIBELE BRANDÃO – É muito possível que isso esteja ligado a diferentes questões, como a da solidão para enfrentar muita coisa sozinha. Por isso é importante haver valores dentro da família como de se importar com o sofrimento humano, de se importar quando alguém está passando por alguma coisa. Dentro de casa é que se fala. A família toda precisa se unir e procurar atender, dando a isso uma importância muito grande, entende? Na medida do possível, ninguém pode enfrentar os medos, as fobias sozinho.

MN – Como a senhora avalia o serviço oferecido pelo município?

CIBELE BRANDÃO – Olha, Marília é uma cidade que sempre se destacou nesse sentido. A gente que é mais velho, que participou de muita coisa, por exemplo, temos um marco aqui, que durante uma época projetou a cidade para o país, que era quando o Hospital Espírita tinha a comunidade terapêutica. E Marília é uma referência na formação de profissionais na área de saúde mental.

Cibele Brandão em evento na biblioteca, cujo acesso é permitido à comunidade (Foto: Divulgação)

MN – Há algum serviço online que a senhora indicaria a quem precisa de ajuda?

CIBELE BRANDÃO – Eu gostaria de citar um que eu até faço parte. É um atendimento nacional que se chama o SOS Brasil. É totalmente online e gratuito, e que se destacou muito na época da pandemia. Em todos os lugares que acontece alguma coisa de calamidade pública, você tem como acionar esse SOS, a exemplo das enchentes do Rio Grande do Sul. Eu mesma participo e tenho aprendido muito.

MN – Que caminhos a Psicanálise oferece para tratar a saúde mental?

CIBELE BRANDÃO – O atendimento de psicoterapia propriamente dito sempre foi uma preocupação nossa para que a possa conversar sobre assuntos que estão oprimindo a alma.

Por isso oferecemos arte, convívio, reflexão, discussões e terapia.

MN – Do ponto de vista do indivíduo, em que a Psicanálise ajuda?

CIBELE BRANDÃO – Olha, eu acho que você ter acesso a isso é um privilégio. Toda pessoa que puder ter vai se beneficiar, mesmo que você não tenha um diagnóstico. Na Psicanálise há duas vertentes. Uma é o atendimento caso você tenha alguma coisa em termos de sintomas, mas existe outra, do desenvolvimento. Depois que você passa por um processo a sua mente se amplia, entende? Quando você começa a não dar conta das coisas, pode se beneficiar e se desenvolver internamente. Eu acho um privilégio e que todos têm que ter direito a isso.

MN – Em que momento o psicanalista precisa de psicanalista?

CIBELE BRANDÃO – Isso é a marca principal na vida de um psicanalista. Ele precisa disso para se formar como psicanalista. A atividade principal na formação do psicanalista é formada por um tripé. A análise didática é a principal. Depois, ele tem as supervisões e os seminários teóricos, clínicos e técnicos. Mas a gente chama a análise do analista a pedra angular. Porque ele vai trabalhar a própria mente. E essa mente precisa estar apta para poder receber toda carga. Nós costumamos falar, por exemplo, que o consultório de um psicanalista é o reflexo da mente dele. É com isso que você forma a sua clínica. O ambiente diz muito sobre ele. Freud dá um conselho aos que exercem a psicanálise. A cada cinco anos, voltar para a análise. Por quê? Porque em cinco anos a sua vida muda muito. Você fica com outras indagações e necessita conversar com alguém. Inclusive o psicanalista.

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