MN Entrevista: Delegado Wilson Damasceno
O Marília Notícia estreia nesta terça-feira (20) a série de entrevistas semanais com personalidades e lideranças na cidade. O primeiro entrevistado é o vereador Delegado Wilson Damasceno, o mais votado nas últimas eleições e um dos poucos que fazem oposição ao atual prefeito Vinicius Camarinha (PSB).
Formado em Direito pela Univem, ele exerce a função de Delegado de Polícia. Damasceno, morador da zona leste de Marília, é casado e tem duas filhas.
Ele foi eleito vereador para o 1º mandato com 2.111 votos pelo Partido da Social Democracia Brasileira, no dia 5 de outubro de 2008. Foi reeleito para a 18ª Legislatura, 2013-2016, com 3.365 votos também pelo PSDB.
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Marília Notícia – Damasceno, tudo bem? Vamos começar falando um pouco de onde o senhor veio, como foi sua trajetória..
Wilson Damasceno – Tudo certo Gabriel e com você? Olha, sou natural de Assis, 8 de julho de 1962 nasci lá. Eu e minha família viemos para Marília em 1966, quando nasceu aqui minha irmã Regina. Meu pai foi outra vez pra Assis e morei lá até os 13 anos. 10 anos depois, em 76, voltamos e ficamos de vez em Marília. Meu pai era mecânico e fechou uma oficina. Ele veio trabalhar em uma retificadora. Com 13 anos eu fui trabalhar na estação de trem, na plataforma, onde hoje existe infelizmente uma situação de abandono e serve como abrigo para moradores de rua. Ali eu carregava no pescoço um tabuleiro. Quem não descia do trem pra comprar algo, eu passava na janela oferecendo.
MN – Ah é? Vendia o que?
WD – Eu falava assim: “Vai biscoito, bolacha, água, guaraná, sorvete, sanduíche!”. Pessoal comprava de mim na janela. Lembro também que fiz datilografia, trabalhei em um escritório de contabilidade como office boy, que na época era chamado de preguinho. Como eu tinha o curso de datilografia, surgiu uma oportunidade no setor de pessoal do escritório. Fiquei um ano e fui pra Associação de Ensino de Marília, que hoje é a Unimar, isso com 17 anos. Em 1981 fui chamado para trabalhar no Banco Noroeste. Terminei o tiro de guerra e fiquei no banco. Com três anos virei gerente de vendas. Só em em 1989, 1990 que pensei em virar delegado de polícia.
MN – Decidiu como?
WD – Pensei banco pra mim é presente e não futuro, foi pra isso que eu estudei, fiz Univem. Sempre tive interesse na faculdade, mas fui deixando de lado. O duro que eu já tinha quatro anos de formado e não lembrava mais nada de direito. Fui fazer um curso no Senac, nem perguntava nada nas aulas porque não lembrava de nada. Terminou esse curso no Senac, eu fui fazer as mesmas aulas, só que dessa vez no Amilcare Mattei. Aí eu já tinha dúvidas, comecei a lembrar das coisas. Não tava dando certo mas eu insisti e fiz pela terceira vez o mesmo curso, em uma sala lá no Pio X. Depois estudava sozinho, passava na primeira fase e ficava na segunda..
MN – Demorou quanto tempo para passar?
WD – Demorou dois anos. Estudando das 7h30 da noite às 2h da madrugada. Eu tirava só o domingo pra minha esposa e uma menininha de dois anos, que hoje já está casada e com 26 anos.
MN – O senhor tem quantas filhas?
WD – Tenho duas e perdi a do meio, com seis horas de vida. Aquela lá (diz apontando para um porta-retrato em sua sala). Viveu seis horas. Chama Giovana de Fátima. Hoje era pra ela ter 21 anos. Tenho a mais velha que é a Priscila e a Isabella que é a caçula. Enfim.. em 91 depois de três cursos e não ir pra fase oral do concurso de delegado de polícia, eu falei ‘Ah não vou mais tentar não poxa. Era pra eu ter passado no Diário Oficial aí, eu acerto tudo e não me chamam’. Aí um amigo meu que era delegado de polícia falou, ‘Vou levar a mesma prova que você fez pra um examinador amigo meu ver onde que está o erro’. O cara falou que era pra eu caprichar na letra. ‘Tem 400 pra ir pro oral, o examinador não vai ficar tentando adivinhar letra não. Coloca a sua de lado e pula pra próxima’, me falaram.
MN – Não passou por causa da letra?
WD – Da letra. Acredita? Falei ‘Ah é?’. Comprei um caderno de caligrafia pra melhorar minha letra bagacinha. Melhorei a letra e tô aqui, delegado de polícia faz 24 anos.
MN – E gosta?
WD – Minha vida né. Polícia tá no sangue, não tem jeito. Tô em vias de aposentar mas dá dó de largar.
MN – Quanto tempo ainda tem?
WD – Dois anos.. (diz pensativo)
MN – O que te motivou a ser delegado?
WD – Quando eu fui fazer concurso, ao retornar de umas dessas provas, a minha esposa deu a notícia que meu tio ‘Ticão’ tinha sido morto na cidade de Assis por conta do crack. Isso na verdade foi em 90. Um mês depois, acho que por conta do sofrimento, minha avó faleceu. No ano seguinte eu passei pra delegado e fui trabalhar em Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista (regiões de São Paulo) e lá comecei a observar essas coisas né? O que aconteceu na minha família sabe? Meu tio morrer daquela forma, um cara que não tinha boca pra nada e sucumbiu às drogas. Fui delegado de polícia em Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Oscar Bressane, Vera Cruz e voltei para Marília, fui trabalhar na entorpecentes. Aí eu me envolvi nessa causa anti-drogas. Até pra ajudar as famílias que tem uma condição igual ao que aconteceu na minha. A partir daí que começou essa história de política. Depois de 5 anos trabalhando na causa sem nem pensar em política, um dia chegou na minha frente no 1º DP, o Pio Marquesi, Valter Cavina e Elias Leonel, que eram da executiva do PSDB. Naquele momento eu era aqui em Marília presidente do Conselho Municipal de Entorpecentes.
MN – Por conta da Dise?
WD – Do meu trabalho voluntário de prevenção. Aí eu levei pra uma reunião do Conselho e perguntei o que achavam. Pessoal concordou e disse que seria ótimo alguém na Câmara que defende essa causa e nos ajude a melhorar principalmente a questão do tratamento do dependente químico.
MN – Bom ter tocado nesse assunto, era um dos questionamentos mesmo. O seu slogan na última campanha era ‘Seriedade na luta contra as drogas’. O que o senhor fez especificamente como vereador neste assunto?
WD – Primeiro que o trabalho preventivo eu nunca parei e vou continuar enquanto eu respirar. Isso é uma questão pessoal, que não envolve nem profissão nem política. Mas como vereador eu vejo uma dificuldade terrível do poder público de investir no tratamento do dependente. Eu fiz uma lei em Marília que coíbe a existência de festas rave na cidade. Mas isso precisa da fiscalização..
MN – A fiscalização é ruim?
WD – Não.. diminuiu bastante sim. Mas existem ainda as festas clandestinas em chácaras. Que prejudica muito a formação dos jovens. Mas isso em desacordo com a lei que foi aprovada na Câmara por minha iniciativa. Por minha iniciativa também foi aprovada outra lei proibindo nas escolas particulares e públicas a venda de bebidas alcoólicas para os pais das crianças. Em Marília acontecia isso. Com o pretexto de se arrecadar dinheiro para associação de pais e alunos se vendia bebida na festa. Você imagina? Uma criança que o pai é alcoólatra, vê a professora vendendo bebida pro pai. Vai pensar, ‘mas pera lá, minha mãe briga com ele, mas minha professora tá vendendo’. Então é proibido. Tem uma lei que está aprovada desde o Bulgareli e depende hoje da regulamentação do prefeito Vinicius Camarinha, fiz até requerimento pro Hélio Benetti da Assistência Social, porque é ele que autoriza custear o dependente químico carente. Não é dinheiro para o indivíduo, é fazer um contrato com uma clínica e ajudar no tratamento dele. Uma família que tem renda de até 3 salários mínimos, a Prefeitura ajuda até 900 reais. De 4 a 7 salários mínimos, até 500 reais. E de 8 a 10 salários mínimos de renda familiar, o poder público ajuda em até 300 reais.
MN – Não regulamentou por que motivo? Senhor imagina?
WD – Falta de vontade política. Imagina que Marília ajude 100 dependentes químicos pobres. Chuta 900 reais que é o máximo de cada um. Dá 90 mil por mês. Isso é dinheiro em um orçamento de 800 milhões? É falta de vontade política. Ou maldade com dependente químico, porque foi uma iniciativa minha e me tem como oposição. É esse tipo de política rasteira, radical e vaidosa que eu não admito. 90 mil por mês não é nada. Isso tá na mão do Hélio Benetti, não faz por que não quer. Viabilidade e dinheiro tem, é só estabelecer os critérios. Eu como vereador não posso fazer isso. Meu tio foi viciado 10 anos. Minha vó era diarista e não tinha dinheiro pra tratar. Foi assim até que ele morreu. E isso continua 25 anos depois, a Prefeitura espera morrer e não faz nada. Ahh mas diz que vai trazer o cartão recomeço para Marília. Vai trazer quando? Quando que vai estruturar, readequar um órgão como o Hospital das Clínicas para atender essa gente? Até lá, quantos ‘Ticão’, igual meu tio, vão ter que morrer?
MN – Se combate errado essa questão hoje?
WD – Sim. Em Marília o que temos hoje para a mulher? Cadê a Secretaria Municipal da Saúde? Cadê a Secretaria Municipal da Juventude? Cadê a Secretaria Municipal de Assistência Social? Cadê essa rede pública para atender a mulher dependente química em Marília? Não existe. E pro homem? ‘Ah tem o Caps’. Mas o Caps é do Governo Federal! Nós do Comem (Conselho Municipal de Entorpecentes de Marília) conseguimos com o trabalho que desenvolvemos durante 25 anos, a condição para que o município fosse aceito no programa ‘Crack,é possível vencer’. O dinheiro tá na mão do prefeito Vinicius Camarinha, tá liberado. O que ele fez até agora? O dinheiro ta aí pra construir, ele disse que faria esse ano. Não fez nada!
MN – Te colocando talvez em uma cilada. O Haddad, prefeito de São Paulo, faz algo parecido com o que o senhor propõe aqui. O que acha disso?
WD – Isso não é uma questão partidária. É social, humanitária. O Padilha já foi lá dentro da Cracolândia quando era Ministro da Saúde. É o que tem que ser feito. Marília tem condição de resolver a situação, só depende de vontade, de priorizar.
MN – Já que o senhor falou do prefeito de Marília, qual a nota da gestão dele de 0 a 10?
WD – Um. Nota um. Ele disse que ia recuperar a malha viária e não recuperou. Em ano eleitoral ele vai fazer isso? Casca de ovo? Em três anos não resolveu. E olha que teve recurso hein? Teve muito dinheiro. Aliás, ou ele mentiu que esse dinheiro veio né? Só em uma tacada 18 milhões. E a saúde como tá? Diz que ano que vem, ano eleitoral (diz enfatizando) que vai fazer uma parceria com os hospitais para que os residentes façam atendimentos na rede municipal. Ano que vem? 2016? Porque já não fez isso desde o primeiro dia que sentou na cadeira de Prefeito?
MN – Mas não teve nada bom?
WD – Ele priorizou a propaganda, o marketing. Talvez nesse ponto ele foi bem. Enganou alguns. Alguns! O trabalho com o idoso e com a criança da assistência social melhorou um pouco, tenho que reconhecer. Mas e o morador de rua? O que tá sendo feito desde o início da administração? Cada semáforo que você passa tem, 7 ou 8 por ali. Dinheiro tem pra melhorar isso. O esporte? Quais talentos se formaram via Secretaria Municipal? A gente exporta gente de fora pra disputar os Jogos Regionais. Tenho email gravado de pais de jovens que vão no Clube dos Bancários e não tem nenhuma estrutura para o atletismo. E os poliesportivos? Nenhum recuperado, servem hoje para usuários de drogas. Deu uma ‘garibada’ no Pedro Sola e olhe lá. E o resto? Estamos falando aqui de 5 prioridades. A educação tem recurso próprio, vinculado e que tem que gastar lá por lei, ainda bem. O esgoto ta aí vendendo. E veio dinheiro hein? A Câmara aprovou R$ 8 milhões para o prefeito pagar a contrapartida. Ele foi fazer o financiamento? Se foi, onde pôs o dinheiro? Pagou a contrapartida? Não deu R$ 8 milhões, precisa de mais? São uma série de questões não respondidas e que a gente vê, que me obrigam a dar nota um.
MN – Qual é o maior problema de Marília hoje?
WD – A questão do esgoto. Interfere no desenvolvimento da cidade. Todos nós reconhecemos isso. O que eu não concordo é com a solução deles. É uma questão de saúde da população e de desenvolvimento das indústrias.
MN – O PSDB tem histórico grande de privatizações..
WD – Eu não partidarizo essa questão. A gente tem que separar as coisas, isso é uma questão de governo, não de partido. Eu como vereador pensando em Marília, me preocupo com o patrimônio da minha cidade. A situação está tentando levar para esse viés partidário, mas temos que separar as coisas. A questão é administrativa. Na minha trajetória profissional, eu aprendi muito com pessoas com quem trabalhei, Paulo Magarotto na Unimar, Paulo Diniz, dono do Chaplin, aprendi com eles. Aí eu separo. A questão político partidária você vai pensar no plano eleitoral, agora na questão político administrativa, você tem que pensar na sua cidade. A minha cidade tem uma autarquia com história de luta de 49 anos. De construção de uma estrutura que é viável. Estamos vendo aí, é o poço Cascata pronto, novo reservatório que foi mostrado esses dias na zona sul.
MN – Quem é contra essa medida diz que o Daem foi sucateado de propósito, o senhor acha isso também?
WD – Não é nem sucateado, a rede é muito antiga. Desvalorizam os funcionários na medida que começaram a terceirizar muita coisa lá dentro.
MN – Eu vi o senhor falando que por exemplo, falta agora água na zona sul, coisa que não acontecia antes. Isso é de propósito?
WD – Não posso afirmar isso. Mas precisa ser investigado. É estranho. Já falei isso pro Polegato (diretor do Daem), investiga Polegato.
MN – Isso seria investigado em uma possível CPI que o senhor quer propor?
WD – Também, mas essa parte é difícil de constatar. Precisamos investigar muitas coisas. Qual é a intenção disso que tá acontecendo na cidade? Fazer o povo pegar raiva e clamar pela privatização? Retomando sua pergunta de antes, o partido também é contra em Marília. Não é só o PSDB. É a sociedade civil. Maçonaria, industriais, OAB, Rotary, líderes sindicais, é quase todo mundo.
MN – A oposição está tomando uma ‘surra’ desde 2012. 10 a 3 em todas as votações. Queria que o senhor desse também uma nota e falasse sobre a Câmara Municipal e seus vereadores.
WD – Nota 3. Representando aqueles que você diz que estão apanhando. Então três! A gente não precisava estar nessa situação. Mais dois vereadores foram eleitos na oposição. O vereador Marcos Rezende foi eleito na coligação com o PT. O Bassiga também eu acho. Mas por convicção própria e isso temos que respeitar, eles decidiram se juntar ao grupo que se elegeu juntamente com o prefeito Camarinha. É 10 a 3, mas poderia ser 8 a 5. Com cinco na oposição a gente conseguiria uma CPI por exemplo, para investigar tudo o que acontece por aí.
MN – Vocês precisam de 5 assinaturas para uma CPI, de onde vão tirar mais duas?
WD – Não sei, mas nós vamos pedir. Vamos pedir um por um. Se não quiser, o espaço vai ficar em branco lá.
MN – Falando de eleição, o senhor foi o último vereador mais votado e muita gente na cidade queria que o senhor saísse como candidato a prefeito. Não tem vontade?
WD – Não. Aí eu respeito muito o partido. Quem vai sair é o Daniel Alonso, ele teve mais de 20 mil votos na última eleição e é nosso pré-candidato.
MN – Nos bastidores também se fala em muita desunião do PSDB de Marília. O Daniel desistiu de última hora de ir pro Partido Verde e fontes do PSDB confirmaram pra reportagem do MN que se ele mudasse, o partido, ou pelo menos parte dele, iria fechar acordo com o grupo dos Camarinhas. Existem muitas críticas também que o PSDB fica ‘em cima do muro’, querendo negociar demais. Como o senhor vê essa situação lá dentro?
WD – Isso não é verdade. Quando a gente fala em divergência e união, eu retorno na pergunta: Qual o partido em Marília, exceto aqueles de suvaco, subaco, não sei qual é a palavra certa, qual deles não tem divergência? Só aqueles que o cara põe debaixo do braço e fala é você, você e você, são tantos que vão estar no partido, tá ‘bão’? Fora esses, quais não tem? Todos tem divergência. Todos que tem a liberdade de debate, a liberdade de discussão, de decisão, principalmente de decisão, tem divergência. E o PSDB não é diferente.
MN – Por que motivo o Daniel queria sair?
WD – O Daniel.. e isso é uma realidade, é de conhecimento de todos, havia ou há ainda, não sei.. um parte do quadro do partido que enxergava na junção com o prefeito Vinicius Camarinha algo palatável, viável de se compor com ele e administrar a cidade, junto com ele, entendeu?
MN – O grupo do Paulo Alves?
WD – Não vou falar nomes aqui, mas o Paulo foi uma das pessoas que entendeu e entendia na proposta do Vinicius, que o Vinicius procurou ele, uma via uma alternativa para o PSDB. Não é ir ao poder, isso palavras dele, mas o PSDB contribuir na administração.
MN – E quem segurou isso? O senhor, o Daniel? Quem liderou?
WD – Foi a maioria. Outro dia chegaram pra mim e falaram assim, os vereadores Marcos Custódio e Zé Menezes: ‘Ô Damacesno, você que tá mandando no partido? Dando todas as cartas lá?’. Respondi que não, eu tenho um voto..
MN – Ah, mas o senhor tem muita influência né?
WD – Mas tenho só um voto, não importa. Pode ser que as pessoas que estão no diretório entendam as razões que nós apresentamos. Um projeto de política diferente, que não seja raivosa, radical, que não seja como fala o prefeito na rádio. Ele fala ‘Ah eles só querem o quanto pior melhor’. Não é assim não. Dos últimos projetos que ele mandou para a Câmara, nós só não concordamos com um, que é vender o Daem. A reestruturação administrativa que ele promoveu nós somos favoráveis. Temos que praticar uma política que não seja raivosa, interesseira e prejudicial à cidade.
MN – Um dos leitores do MN me pediu para perguntar se o senhor acha que a população vai esquecer de tudo o que o prefeito prometeu e não cumpriu. Se o senhor acha que a máquina pública e o dinheiro vão falar mais alto na próxima eleição.
WD – Não tem como eu saber né? E me recordo da campanha do Pedro Pavão, ele quase chegou.. na virada de uma urna lá ele perdeu. O Salomão ganhou e foi uma surpresa. Acho que muita gente vai me xingar por eu ter dado nota 1 para o prefeito. Acham que eu deveria dar zero pelo o que ele vem fazendo com a população, tá judiando, judiando mesmo do povo. Só é agradável na propaganda, no marketing. Tem que ver se vão lembrar no ano que vem. Nós tivemos a epidemia da dengue que matou muita gente, existe um subnotificação eu imagino. De 80 a 100 mil adoeceram. Os servidores públicos municipais foram pisoteados..
MN – Acha que eles não vão esquecer disso?
WD – Pode até perdoar, mas esquecer não. Isso vai repercutir lá na urna? Não sei, o voto é da intimidade, é um momento único de cada um.
MN – Como oposição, o que o senhor acha que é necessário para ganhar do grupo que comanda a cidade há mais de 30 anos? Uma época se falou em Frente Única para combater o prefeito, como está isso?
WD – Isso está adormecido, surgiu, parou e pode ressurgir ano que vem. Quem sabe..
MN – Acha que é possível superar o ego de cada um dos líderes de oposição, que é bem grande por sinal?
WD – É possível. Eu percebi uma possibilidade disso na ilha da Galeria Atenas, durante a manifestação contra a privatização do Daem. Todo mundo lá, espontâneo. Pode acontecer. A máquina tem força? Tem! Mas eu vejo uma situação bastante fragilizada por conta da visão administrativa do prefeito. Ele não sabe eleger prioridades que atendam de verdade a população. O Vinicius vai ter muita dificuldade.
MN – Papo do povo, papo de bar. Alguns falam pela cidade que o Abelardo é muito melhor que o Vinicius, outros que o Abelardo é ‘menos pior’, mas sempre o Vinicius é visto como inferior ao pai. O que o senhor acha?
WD – O Vinicius é mais deputado do que prefeito. Ele não sabe administrar. É o que ele tá mostrando.. se mal orientado ou não, não sei. Mas teve dinheiro hein? Falar que qualquer um é bom é difícil.
MN – Voltando para a polícia. Algum caso te marcou? Alguma coisa legal pra contar?
WD – Nossa, tanta coisa.. (pausa pensando). Algo que parece muito banal mas eu nunca me esqueço, foi quando eu era delegado no 1º DP. Recebemos a informação que furtaram uma filhote de Pitbull e uma criança estava muito triste e doente por conta disso. Nós descobrimos onde estava a cachorra e fomos buscar. Quando a gente chegou em frente à casa da criança e abrimos a porta da viatura, a cachorrinha ‘voou’ na direção da criança, foi uma de encontro com a outra. Foi muito bacana. Parece banal mas eu nunca esqueci, foi em 2003 lá no Santa Antonieta. No Santa Antonieta também eu lembro de um caso de outra criança. Em 2003 eu investiguei 13 homicídios em Marília, teve uma guerra de gangues feia. Fui fazer uma busca e apreensão em uma casa de favela, eu desci da viatura e coloquei a mão na cabeça de uma menininha de 4 ou 5 aninhos. Ela pulou e falou: ‘Tira a mão de mim, você é polícia’. Nós entramos no quarto do barraco e ela subiu em cima da cama, começou a gritar para não mexer em nada e estava muito nervosa. Eu perguntei pra tia o que estava acontecendo. Descobri que o pai dela havia morrido fazia uma semana em troca de tiros com a polícia em São Paulo. Eu peguei e ofereci uma bala pra ela. Ela aceitou, deu um tempo e veio: ‘Tem outra?’ Eu perguntei ‘Pra que?’, ela disse que era para o priminho. Então Gabriel, você vê que a criança tratada com carinho sai da violência. A gente achou a arma e prendeu o rapaz autor do homicídio, mas a doçura da menina me marcou.
MN – E com relação as ‘coisas ruins’?
WD – Ah nada em especial, só levanto a mão para agradecer de não ter tido nunca que atender acidente de trânsito fatal com criança. Ah espera, lembrei de uma coisa. Na cidade de Vera Cruz, uma menina de 9 anos não aguentava mais ser molestada pelo próprio pai. Quando chegamos no local, que era meio zona rural, o homem fugiu pro meio do mato. Ele cercou a casa com um parreiral. Era tudo escuro, lá ele dominava a família e abusava das filhas, era terrível. Por fim a gente prendeu ele. Mandei derrubar todo aquele parreiral. Sabe com o que ele se preocupou? Com o maldito parreiral derrubado. Disse que ia matar quem tinha derrubado. É brincadeira? Ih, tantos casos. Prendi um rapaz que abusava das irmãs também. O pai morreu e ele achou que podia fazer o que quiser. Detalhe que o pai abusava dele antes. Tem bastante coisa.. eu estava escrevendo um livro e parei, preciso retomar.
MN – O que o senhor acha dos investimentos do Alckmin e a relação dele com a Polícia Civil. Ele recebe muitas críticas por isso.
WD – O Marcos Rezende, nessa onda do Vinicius de querer partidarizar as decisões e querendo defender a privatização do Daem, coisa que ele abominava meses atrás, diga-se de passagem, disse equivocadamente que PSDB quebrou o Banespa também, tentando fazer uma relação entre os casos. ‘Ah faz 20 anos do PSDB no poder’. Faz, mas o Mario Covas pegou o estado já quebrado. A Polícia Militar e Civil não tinham nada. Eu falo isso porque eu entrei nessa época na Polícia Civil, em 1991. Na época as prefeituras tinham que ajudar com combustível, aluguel e outras coisas. Não tinha nem armamento adequado. O que se falava era a polícia com 38 e o bandido com arma pesada.
MN – Mas hoje não é assim?
WD – Ah melhorou muito. Em termos de recursos materiais melhorou muito. O que aconteceu foi a diminuição dos recursos humanos, e isso é fato não só aqui como na Polícia Militar. Isso por conta do salário. Muitos entram na polícia e logo galgam outros degraus de remuneração nas instituições como poder judiciário, entre outros. A polícia não consegue segurar o efetivo. Existe uma rotatividade muito grande e a as contratações não dão conta. Só que hoje eu tenho um arma ponto 40, eu não tinha mesa, tive que comprar no começo da carreira. Hoje tem uma estrutura de recursos materiais infinitamente maior. Mas mesmo assim eu acho que em termos de remuneração poderia melhorar sim. Eu não nego que poderíamos aumentar o efetivo principalmente de escrivães e investigadores. Eu comento com os colegas, não podemos deixar que se condene a polícia se não tem uma reposição pelo menos à altura.
MN – Mudando outra vez. O que o senhor fez que deu resultado mesmo como vereador?
WD – De bate pronto? Deixa eu pensar.. acho que pelo menos até hoje é barrar a venda do Daem. Na administração do Bulgareli nós fomos na Justiça e impedimos. Eu tenho essa vontade de novo. Pode por aí, eles estão ‘ninjas’ agora. Por enquanto tudo dentro da lei orgânica, porque juridicamente eu estou de olho, se vacilar eu entro na Justiça outra vez. Eu inclusive já acho que teve falha, vou apurar. Outra coisa foi impedir os 21 vereadores em Marília. É muito pra cidade, não dá. Acho que 17 seria o número ideal, proporcionalmente é o número que bate com critério constitucional.
MN – E frustração? Algo que o senhor errou?
WD – Frustração tenho com a CPI da merenda. Que até hoje não vi resultado. Tive quase uma alegria com a CPI da Fumes, mas parece que parou né? A coisa da corrupção na Famema parece que calou. CPI do Asfalto fiquei bem contrariado também. Houve uma blindagem muito grande nesse trabalho e acabou não dando em nada. O Takaoka que era presidente da Câmara na época, colocou o Herval na presidência da CPI e o Donizete Alves como relator, aí não tem como. Nessa composição atual da Câmara ia acontecer a mesma coisa. Eu torço muito para que na próxima eleição a população acerte a mão. Posso até não estar, mas torço para que o famoso 10 a 3 seja do povo e não do prefeito. Temos que ser base aliada da população e não do Camarinha. Eu não admito isso que acontece na cidade e no Brasil. O parlamento e os vereadores acabam sendo submissos ao executivo e isso não pode acontecer.
MN – Já que falou em Herval, o que acha especificamente dele? É um presidente que foi condenado por desvios de verbas públicas e ainda está lá firme e forte..
WD – Já falei na tribuna..
MN – Ele tem que sair?
WD – Falei pra ele renunciar à presidência e voltar para o cargo de vereador. É um favor que ele deve fazer.
MN – Mas ele foi condenado. É um caso gravíssimo. Mesmo assim acha que ele tem condição de continuar como vereador?
WD – Exigir isso de alguém sendo que a Justiça já negou o afastamento dele e sendo que ainda tem recurso é complicado. Mas eu quero uma Comissão Processante, para a gente apurar o que aconteceu e decidir em conjunto.
MN – O senhor não cai em uma contradição? Disse que ele não tem legitimidade para ficar na presidência, mas não é a mesma coisa sendo vereador? O que difere um ou outro? Segundo a 1ª instância da Justiça, ele desviou uma montanha de dinheiro público quando era presidente. Mas era vereador também não é?
WD – É.. sob esses aspecto talvez sim. Mas eu não posso exigir..
MN – O senhor está fugindo dessa questão..
WD – Não é fugindo. Tenho que caminhar com o que tenho na mão. É o cargo que ele tá sendo acusado de desvios. Sendo verdade ou não, ele praticou os atos no mesmo cargo que está hoje. Pelo menos senta na cadeira de vereador e reponde por isso. É o mínimo.
MN – Damasceno, acho que é isso, muito obrigado pela entrevista.
WD – Obrigado vocês pela oportunidade. Aprecio muito o ótimo trabalho do Marília Notícia. Aliás, antes queria te confessar um negócio. Não tô conseguindo dormir com essa história do Daem. A Márcia, minha esposa, disse que eu tô de olheira. Fico pensando o que vamos fazer para derrubar essa história. Eu e o Cícero. Pior, eles estão fechados, ninguém tira isso da cabeça do prefeito. Tá bem claro, não tem como convencer que isso vai ser péssimo pra cidade. Falei como rapaz da portaria aqui da CPJ, ele está preocupado com o preço da conta de água. Eles (atual administração) estão se lixando pra isso. Nem aí.. é complicado. Mas é isso, vamos trabalhar! Obrigado Gabriel.