Grupo protesta contra suposto ato homofóbico
Um grupo com cerca de 40 pessoas, entre ativistas do movimento LGBT e estudantes da Unesp, se reuniram durante a noite desta terça-feira (14) na frente de uma tradicional lanchonete da zona Oeste de Marília, para protestar contra um possível ato de homofobia ocorrido no estabelecimento no último dia 4 de outubro.
Com faixas, gritos de guerra e um discurso coletivo, os manifestantes repudiavam o suposto ato homofóbico cometido pelo dono da Fernandinho Lanches contra um casal homossexual.
“O ato de hoje foi um ato em repúdio a atitude tomada pelo Fernandinho, dono do estabelecimento, quando dois conhecidos meus estavam aqui e foram humilhados. Os dois estavam trocando carícias, não foi um beijo de língua, um passou a mão no ombro do outro e deram um ‘selinho’, quando do nada um funcionário chegou e pediu para ‘parar com a falta de respeito’. O Fernandinho veio também e falou de forma rude. Eles se sentiram tão humilhados que foram embora. Eu mesmo já vi aqui um casal hétero onde a namorada passava a mão no rapaz sem camisa enquanto se beijavam, num domingo a noite. Na ocasião ninguém falou nada. O pedido de ‘respeito’ foi totalmente direcionado contra a comunidade LGBT”, disse o estudante de Ciências Sociais da Unesp, Caíque Santana, um dos líderes do protesto.
O protesto lembrou do histórico de violência contra a população LGBT no Brasil e pediu retratação por parte do empresário. O grupo chegou a chamá-lo para uma ‘conversa’ fora do estabelecimento. Fernandinho não deu atenção e continuou o trabalho na parte interna do comércio.
Alguns clientes da lanchonete chegaram a gritar contra os manifestantes. “Bando de viado” e “fora seus vagabundos” foram ouvidos pela reportagem do Marília Notícia.
O ato terminou com algumas pessoas se beijando em frente ao estabelecimento.
Viaturas da Polícia Militar estiveram no local e fizeram a orientação com relação ao trânsito.
Com a palavra Fernandinho
Visivelmente abalado com a situação, Fernandinho disse ao MN que lamenta profundamente o caso e reafirmou que não foi homofóbico.
“Nós já chamamos atenção de casal hétero, na mesma situação, fico triste que tenham entendido da forma errada”, disse.
Com lágrimas nos olhos, o empresário disse que quem é realmente de família o apoia. “Eu só tenho a agradecer as famílias, porque eu também sou de família. Só peço respeito e paz, porque preciso trabalhar. Tenho funcionários que dependem do meu trabalho. Me deixem em paz, me deixem trabalhar honestamente”, finalizou.
Entenda
Tudo começou quando repercutiu nas redes sociais o comentário de um estudante que diz ter sido vítima de homofobia na lanchonete do Jardim Cavallari, no último dia 4 de outubro.
A publicação do jovem foi feita em um grupo de estudantes da FFC (Faculdade de Filosofia e Ciências) da Unesp.
Ele fala que “como qualquer casal” trocou “alguns carinhos e selinhos” com o seu namorado na lanchonete onde o casal frequenta “como de costume” às quartas-feiras para aproveitar uma promoção tradicional.
O rapaz afirma que as demonstrações de afeto foram suficientes para um garçom dizer que eles deveriam “parar com a falta de respeito” e parar “com essas coisas”.
“Como se ‘essas coisas’ fossem uma afronta ao lugar”, reclamou o estudante em seu post.
Em seguida, o dono da lanchonete também teria surgido atrás do funcionário e, de forma rude, segundo o estudante, pedido por “respeito”.
“Na ocasião não soube reagir, me senti muito mal e para não ficar pior emocionalmente acabei indo embora. Por uma reação homofóbica me senti coagido a sair de lá, por apenas estar amando”, desabafou o estudante.
O rapaz termina seu depoimento na internet pedindo sugestões do que fazer, “por acreditar que isso possa acontecer com mais alguém”.
Outro lado
Ouvido pela reportagem do Marília Notícia na época, o proprietário da lanchonete se defendeu. “Aqui frequentam várias famílias, entre crianças… estudante da Unesp. De quarta-feira tem a promoção de R$ 5 e vem todo mundo de boa, atendo todo mundo de boa, nunca maltratei ninguém”.
Sobre o episódio onde é acusado de homofobia o dono do estabelecimento comercial argumentou que recebeu o pedido de um outro casal, hétero, “que estava com duas crianças e disse que não tinha condições de ficar ali porque tinham dois meninos se pegando”.
O empresário alega que apenas pediu respeito. “Se fosse um casal hétero, na mesma situação, eu também teria pedido respeito, da mesma forma”.
Em uma publicação no Facebook, o proprietário da lanchonete também falou sobre o assunto. “Em um ambiente familiar trato todos com respeito (…) frequentam crianças, idosos, pai e mãe, estudantes. Desde já peço desculpas pelo ocorrido”.
“Pedi para um casal homossexual respeitar nosso ambiente e estou sendo tachado como homofóbico”, falou o dono da lanchonete.
“Algumas pessoas estão indo no meu Facebook, denegrindo minha imagem, fazendo baderna com meu nome, me avaliando como péssimo”.