Estado quer modelo ‘shortline’ e mobilização para reativar ferrovia
A Secretaria de Logística e Transporte do Estado de São Paulo promoveu, nesta quarta-feira (6), reunião na Prefeitura de Marília para apresentar o Plano de Retomada do Modal Ferroviário no Estado de São Paulo. Grupo técnico criado pela pasta propõe o modelo “shortline”, com linhas mais curtas e máquinas mais leves, que poderiam funcionar por meio de parceria entre a Rumo Logística – que detém a concessão do trecho – e um consórcio local de empresas.
Além do prefeito Daniel Alonso (PSDB), participaram do encontro os gestores de Garça, João Carlos dos Santos (PSD) e Rodolfo Silva Davoli (Republicanos). A apresentação foi feita pelo coordenador do Grupo Técnico Ferrovias SP, Luiz Alberto Fioravante, ex-secretário de transportes de Sorocaba, responsável pela implantação do BRT na cidade.
Fioravente alertou que as projeções indicam a saturação da maioria dos trechos nos eixos de acesso à Região Metropolitana de São Paulo até 2030. Por isso, o transporte intermodal, desde o interior, é apontado como imprescindível.
“Estamos fazendo um mapeamento do Estado e vemos muito potencial intermodal, mas isso passa por um esforço regional. Hoje, abaixo do Tietê (rio), todos os ramais ferroviários estão desativados. Temos apenas uma única operação, que é da MRS, que liga o Mato Grosso do Sul ao porto de Santos”, disse.
O coordenador destacou ainda que a lei que institui o novo marco legal do transporte ferroviário – autoria do senador e ex-governador José Serra (PSDB) – revoluciona o setor e permite, por exemplo, que as concessionárias estabeleçam parcerias com empresários, inclusive por meio de consórcios, dispostos a investir e operar as linhas ferroviárias.
“Os últimos investimentos expressivos que ocorreram no transporte ferroviário no Brasil foram na década de 50. De lá para cá, houve um sucateamento. Nos Estados Unidos aconteceu o mesmo, mas você vai lá hoje e vê que o país começou a recuperar a malha de uns dez anos para cá e os trens estão de volta. Vai acontecer aqui também”, disse o assessor técnico da Secretaria.
O prefeito Daniel Alonso afirmou que Marília nutre um sonho, “inclusive romântico” de ativar uma linha de transporte ferroviário, pelo menos, de Nóbrega até Lácio, utilizando a tecnologia de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT).
O chefe do Executivo cobrou ainda que a eventual retomada do transporte de carga seja feita considerando investimentos em solução logística, para evitar passagem em nível com o centro da cidade, o que – segundo o prefeito – poderia gerar impacto na mobilidade das pessoas e veículos de emergência.
“É viável pensar em recuperar essa malha viária até o Porto de Santos, até porque de Jundiaí para lá já está recuperado. Mas volto a dizer, para atravessar Marília, o investimento é grande, não sei se a iniciativa privada estaria disposta”, ponderou.
O prefeito de Garça lembrou que definições sobre projetos a serem executados na região dependem das concessionárias que detêm a malha paulista. O contrato original entre a Rumo Logística e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que venceria em 2028, teve renovação negociada e antecipada por mais 30 anos, a partir do ano passado, mediante série de contrapartidas.
Alonso se comprometeu a apoiar ações para a reativação do trecho, no modelo “shortline”. Ele indicou o presidente da Empresa Municipal de Mobilidade Urbana (Emdurb), Valdeci Fogaça, para articular lideranças locais, com o grupo técnico estadual.
“As famílias de imigrantes que vieram para São Paulo, vieram de trens, viveram seus negócios, sustentaram seus filhos e desenvolveram o Estado. Vamos restaurar isso, temos que buscar de volta a conectividade com a sociedade da ferrovia”, disse o assessor técnico da pasta.
O Marília Notícia procurou a concessionária para questionar sobre interesse e participação da Rumo no projeto do governo paulista. A empresa não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.