Enem exige mais conteúdo; 1,1 milhão de alunos faltam
O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) impôs um nível de dificuldade maior aos alunos. Especialistas apontaram que houve pouco tempo para os exercícios de Exatas, considerados trabalhosos, e destacaram a exigência de que os candidatos tivessem conhecimento de conteúdo específico – resolver no “improviso” não funcionou.
A abstenção no segundo dia da prova foi a maior desde 2009, de 32% – 1,1 milhão de candidatos deixaram de fazer a prova. No total, 4,7 milhões de inscritos fizeram o exame. “Pelo que nós deduzimos, o nível da parte de Exatas aumentou. Acho que a seleção será mais rígida. Os primeiros ‘Enems’ eram bem mais fáceis. Hoje é prova que exige conhecimento do conteúdo programático de Física, Biologia, Química. Não é mais só leitura”, diz Nelson Dutra, coordenador pedagógico do curso e Colégio Objetivo.
O professor de Matemática da plataforma de educação online SAS Thiago Pacífico acredita que a prova deste ano foi a mais difícil de todas as edições. “Alguns assuntos, como trigonometria e logaritmo fizeram o aluno perder muito tempo.”
O professor de Biologia da SAS Flávio Landin reclamou do número de questões relacionados à disciplina. Ele destacou que a prova estava mais “conteudista”, exigindo dos alunos conhecimentos “bastante específicos” para garantir boa nota. “A prova do Enem tem fama de ser mais fácil do que os outros vestibulares. Acham que só saber interpretar texto já é suficiente. Mas nos últimos anos o exame tem trazido conteúdos muito complicados”, diz.
O professor de Química do Descomplica, Allan Rodrigues, corrobora a visão do colega. Para ele, a prova veio excepcionalmente complexa. Ele destacou uma questão que abordou cromatografia, tema quase sempre visto só no ensino superior. “Tinha uma questão sobre eletroquímica que ocupava uma página inteira e seria impossível de resolver em três minutos. Eu mesmo demorei para resolver. O aluno certamente só de olhar já ficava impactado.”
Para o professor de Física Vasco Vasconcelos, do SAS, faltou tempo para resolver todas as questões. “Principalmente em Física há mais questões com textos e exemplos, que nem sempre são fundamentais para responder ao problema.”
Nicolas Yudi Dutra, de 18 anos, aluno do 3.º ano, fez a prova pela primeira vez e o maior desafio foi Física. “Os enunciados estavam muito difíceis.” Já Vitória Dalbon, de 17 anos, faz faculdade de Pedagogia e reclamou do conteúdo. “Caíram coisas que não são ensinadas nas escolas públicas.”
O ministro da Educação, Mendonça Filho, classificou o Enem de 2017 como um dos mais tranquilos da história da prova. E falou em “sucesso total” na aplicação do exame em dois domingos. “Houve pouquíssimas ocorrências.”
Fraudes
Enquanto a prova era realizada, a Polícia Federal deflagrou a Operação Passe Fácil, para investigar quadrilhas especializadas em fraudar concursos públicos e processos seletivos, incluindo o Enem. A PF cumpriu 62 mandados, sendo 31 de busca e apreensão e 31 de condução coercitiva de pessoas inscritas no exame em 13 Estados. Não houve prisões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.