‘Vou presidir a Câmara com espírito de diálogo’, diz Danilo Bigeschi

Reeleito pela segunda vez consecutiva, o vereador Danilo Bigeschi (PSDB) foi o escolhido pelo novo plenário para presidir a Câmara Municipal de Marília no primeiro biênio (2025-2026) da 21ª legislatura (2025-2028).
Em sua primeira experiência no cargo, ele conta com apoio da ampla maioria governista dos colegas que darão sustentação ao governo municipal de Vinicius Camarinha (PSDB), que o havia indicado publicamente à chefia do Legislativo.
Em entrevista ao Marília Notícia, Danilo fala sobre seu relacionamento pessoal e político com o Executivo e como haverá espaço para fiscalização do poder público municipal. “Vou presidir a Câmara com espírito de diálogo”, frisou.
Danilo fala sua infância em Quatá como filho de vereador, a proximidade de décadas com a família Camarinha, o envolvimento de seu nome em uma investigação federal e como surgiu o seu nome de legenda, ‘Danilo da Saúde’.
Homem com maior número de votos recebidos no legislativo de Marília, o novo presidente comenta ainda sobre a maior bancada feminina da história da cidade e o que pensa sobre a eventual construção de uma nova sede ao Legislativo.
Nascido no dia oficial do aniversário de Marília, em 4 de abril, registrado em Assis (SP), mas criado desde os primeiros dias até a juventude em Quatá (SP), Danilo Augusto Bigeschi é servidor público municipal desde 1998.
Formado em Comunicação Social pela Universidade de Marília (Unimar), está em seu terceiro mandato após participar de seis eleições – uma delas, a deputado federal, em 2010. Aos 46 anos, é casado com Ana Paula e pai de Lucca e Nina.
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MN – Pela primeira vez, Marília tem um presidente da Câmara nascido em Assis (SP).
DANILO – Na verdade, eu sou de Quatá (risos). Eu só não nasci lá porque não havia maternidade. As gestantes faziam acompanhamento, mas para fazer o parto precisava ir para Assis ou Presidente Prudente. Minha infância eu passei em Quatá, onde meu pai era agricultor, foi vereador e minha mãe, professora de escola pública.
MN – Como ser filho de vereador em uma cidade pequena?
DANILO – A política lá era outra realidade. Eu cresci vendo meu pai recebendo as pessoas na porta de casa. Muitas vezes a gente estava almoçando e chegava alguém com alguma necessidade. Ele parava, pegava o fusca e levava para onde precisasse. Isso me inspirou.

MN – Ele socorria a quem precisasse?
DANILO – Então, meu pai faleceu muito cedo, aos 61 anos, porque teve um infarto e a cidade não teve condições de atendê-lo na época. Fizeram o que puderam, mas meu pai faleceu num pequeno posto de saúde. Foi algo que me chocou bastante. Tentaram estabilizá-lo para levá-lo para outra cidade, mas ele ficou na ambulância. Isso me motivou a me dedicar mais às questões da Saúde em Marília.
MN – Da experiência pessoal você fez a sua causa profissional?
DANILO – Sim, foi algo em que me dediquei desde quando entrei na secretaria de Saúde para implementar os pronto-atendimentos na cidade. Foi nessa época que foi construída a UPA da zona norte e o PA Sul passou a funcionar 24 horas na primeira gestão do Vinicius.

MN – Como foi sua vinda de Quatá para Marília?
DANILO – Vim para cá para estudar. Tinha 17 anos. Fiz Comunicação Social na Unimar. Naquela época, a gente fazia opção por Jornalismo ou Publicidade e Propaganda. Acabei escolhendo a segunda.
MN – Além de estudar, já começou a trabalhar por aqui?
DANILO – Passei no concurso da Prefeitura em 1998. Foi no serviço público que conheci minha esposa. Ela era dentista no PSF. Hoje eu considero Marília como a minha cidade do coração. Depois que meu pai e meus avós faleceram, minha mãe e minha irmã vieram para cá também.
MN – O ‘Danilo da Saúde’ surgiu em Marília, por vias eleitorais?
DANILO – Sim. O próprio pessoal da secretaria na época me pediu para que saísse candidato a vereador. Era outra realidade da cidade que eu vim. Mas, fui candidato, pela primeira vez, já como Danilo da Saúde.

MN – Como fui sua trajetória na secretaria da Saúde, de servidor a vereador?
DANILO – A Saúde foi uma escola para mim. Quando entrei, comecei trabalhando nos postos de saúde. Acompanhei a implantação do Programa Saúde da Família. Respondi pela chefia do setor de zoonoses e controle de dengue. Depois, fui convidado a assumir um núcleo de educação e de comunicação. Foi quando passei a ter mais contato com a imprensa. Fui coordenador de projetos, participei da implantação do Samu, da Farmácia Popular, do Centro de Referência ao Trabalhador. Conheci a estrutura da Saúde de ponta a ponta.
MN – Nesse processo, você acabou por estender a base política que tem hoje, não?
DANILO – Nesse período, através desse trabalho de mobilização de Saúde e capacitação de equipes passei a ter contato com várias lideranças sociais, religiosas, fazendo a interlocução da secretaria com as entidades. Isso acabou me dando uma musculatura política porque conheci melhor vários segmentos. Há pessoas que conheço há 20 anos.

MN – Você perdeu três eleições seguidas antes de ganhar a primeira para a Câmara Municipal. O que te manteve perseverante na busca pelo cargo nas urnas?
DANILO – Na minha terceira eleição, em 2012, eu estava no PSB e tinha alguns ‘leões’ como o Herval (Rosa Seabra) e o Yoshio (Takaoka). Eu analisei que não tinha condições de concorrer com eles. Decidi mudar para o PTN (atual Podemos), onde teria mais chance. Tive 1.808 votos, e fiquei de fora. Se tivesse ficado no PSB, teria sido eleito.
MN – Mas, na verdade, não desistiu…
DANILO – O Vinicius havia sido eleito prefeito e eu tinha decidido a não sair mais candidato. Passei a dar o suporte em mutirões, em programas e projetos com mulheres, gestantes, crianças e o pessoal voltou a me falar que deveria concorrer ao cargo outra vez. Foi quando fui o mais votado.
MN – Por conta disso, assumiu a cadeira da presidência na sessão de posse, como determina o Regimento Interno. Qual a diferença daquele Danilo que assumiu esse posto por alguns momentos ao de hoje, por um biênio?
DANILO – Aprendi muito, amadureci bastante, sobretudo com as dificuldades. Naquele época era muito afobado. Os colegas me ensinaram muito. E fico contente pela oportunidade que recebo agora. Conto muito com apoio de todos. Vou trabalhar com espírito de diálogo.
MN – Como foi ter sido um vereador de oposição nas duas últimas legislaturas? Chegou a sofrer alguma retaliação por isso?
DANILO – Muitas. Eu tinha opção de me afastar como servidor e ficar só na Câmara. Eu optei por continuar trabalhando porque o dia a dia, no contato com os servidores, com a população. Depois que fui eleito vereador voltei para minha função de origem nas unidades de saúde. Meu trabalho era fazer a supervisão, o apoio técnico dos agentes de saúde. Foi algo que me ajudou muito na questão política porque eles são o elo entre a população e o serviço de saúde. Estão distribuídos em todos os bairros e atuam nas condições de vida da população que refletem na saúde.

MN – Ou seja, te aproximava diretamente com as realidades da Saúde na cidade…
DANILO – Sim. Isso me ajudou muito no meu trabalho legislativo porque eu sabia o bairro que estava com problema de saneamento, de moradia. Isso me dava um panorama da cidade. A grande maioria das minhas pautas veio dessas abordagens, alinhadas com as necessidades da população.
MN – Durante a primeira gestão do Vinicius o senhor chegou a responder pela Saúde por quase um ano. Em que essa experiência contribui agora em sua chefia no Legislativo?
DANILO – É diferente, porque lá passei por vários setores e por uma linha de sucessão. Eu respondi pela pasta na primeira gestão do Vinicius porque o secretário saiu. Já havia um corpo administrativo tocando. Já tinha uma certa afinidade com o expediente. Aqui na Câmara é algo novo para mim. Não tenho, ainda, a experiência administrativa no Legislativo.
MN – À época de sua gestão na Saúde houve uma operação a Polícia Federal para apuração da venda de tablets. Qual sua posição hoje sobre o assunto?
DANILO – Foi um momento muito difícil da minha vida. Nunca tive qualquer tipo de problema, ou envolvimento. Foi uma questão política muito forte em transição de governo. Fazia oposição e isso teve um peso muito grande. O processo licitatório não é nem a secretaria que fazia. A gente não participa disso. Tenho tranquilidade e confiança na justiça e sempre me coloquei à disposição. Já fui absolvido em processo da corregedoria do próprio município.
MN – Depois de reeleito em 2024, qual foi o momento em que se decidiu pela sua indicação à presidência da Câmara? Após as eleições ou na véspera da votação?
DANILO – Na verdade, nunca tive qualquer pretensão do cargo. Houve conversas após as eleições. Numa delas, me interpelaram. Foi amadurecendo a ideia e vi que tinha aceitação pelos colegas do grupo. Confesso que ainda não caiu a minha ficha (risos).
MN – Como o prefeito Vinicius Camarinha (PSDB), que admitiu publicamente o apoio do seu nome, atuou neste processo?
DANILO – Fizemos uma campanha juntos e elegemos 12 vereadores. O Vinicius não se opôs ao que esse grupo decidiu e deu o respaldo para a gente encaminhar. Era natural que o grupo mais vencedor nas urnas definisse a presidência, embora tenhamos ótima relação com os demais eleitos.

MN – A tua proximidade política com o Vinicius, aliás, não é de hoje…
DANILO – Eu tenho uma relação muito próxima com o Vinicius há muito tempo. Trabalhei na primeira eleição dele, em 2002. Meu pai, quando era vereador, tinha muito contato com o pai dele, Abelardo Camarinha. No fundo da minha casa em Quatá havia um pé de manga. Era debaixo dele que o Camarinha fazia as reuniões de campanha para deputado. Minha mãe ajudava com um bolo de fubá.

MN – A sua eleição à presidência incluiu algum tipo de compromisso com os colegas vereadores?
DANILO – O que eu construí ao longo do tempo com os vereadores e com as pessoas que me elegeram é uma relação de muita franqueza. Eu não posso assumir o que não possa fazer. Há limitações e temos que agir com coerência. O que assumi é que serei uma pessoa presente. Vou ajudar os novos colegas, por exemplo, para que possam conduzir seus mandatos.
MN – Como pretende conduzir a chefia da Câmara Municipal?
DANILO – A ideia é trabalhar com responsabilidade, em parceria com os colegas, com o corpo jurídico e administrativo da casa para que tome as melhores decisões. Inclusive, para que haja uma margem de devolução do recurso ao município. Recebi a Câmara em ordem. Não por acaso, as últimas contas foram aprovadas. Além da presidência, vou manter o meu atendimento como vereador.
MN – Qual sua posição sobre a eventual construção de uma nova sede para o Legislativo?
DANILO – A gente vê que há algumas limitações nos espaços da Câmara. Principalmente, para o atendimento da população. O prédio é antigo. Houve adequações ao longo do tempo. A TV Câmara já foi para uma casa alugada. A biblioteca e o acervo histórico também estão em outro imóvel. A acessibilidade é um problema. Tivemos eventos com pessoas com deficiência que não tiveram acesso ao plenário. A gente tem que agir com coerência, dentro do orçamento. Qualquer decisão neste sentido só ocorrerá depois de ouvir os colegas e a população.
MN – Com tantos vereadores governistas no novo plenário ampliado para 17, sobrou espaço para fiscalizar o Executivo?
DANILO – Sem dúvida. A Câmara tem participação fundamental na modulação das necessidades e dos anseios da população com o governo. O que movimenta a Câmara são as cobranças da população. O saudoso Sydney Gobetti de Souza já dizia que o vereador é o braço que o povo alcança. É o ator político mais próximo da população. O fato de o Vinicius ter feito um plano de governo participativo vai ajudar bastante no trabalho dos vereadores. Mas a fiscalização vai acontecer da mesma forma. Com o aumento do número de vereadores, aumentou a representatividade.

MN – Essa proximidade com o prefeito e o apoio da ampla maioria do plenário proporcionam um momento ideal para exercer a presidência?
DANILO – A gente nunca está pronto. Como disse, conto muito com o apoio dos colegas vereadores. A Câmara tem uma equipe de funcionários fantástico. Isso facilita bastante. Temos vários colegas vereadores que poderiam desempenhar a função da presidência até melhor do que eu. Acho que minha trajetória me ajudou bastante, me deu certa bagagem e essa proximidade política facilita.
MN – Depois de 25 anos, um servidor público volta a presidir a Câmara. O que isso pode influenciar em suas decisões em propostas relacionadas à categoria?
DANILO – Eu sou servidor, defendo a categoria. Precisamos prover as condições necessárias de trabalho e salariais para que desempenhem um bom atendimento à população. Da mesma forma, eu tenho sido coerente. Nem tudo é possível. Tenho dialogado muito com os servidores e sido transparente. Não dá para apoiar situações que criarão benefícios e vão gerar situações insustentáveis lá na frente. É preciso olhar para o futuro.
MN – Pela primeira vez, a Câmara terá quatro vereadoras. Uma delas, sua primeira vice-presidente. Qual significado desta representatividade feminina em sua presidência?
DANILO – Eu sempre admirei as mulheres por estarem ocupando cada vez mais cargos importantes. Elas têm um olhar diferente para as coisas. Eu fico muito feliz que isso tenha ocorrido nesta legislatura, inclusive com a mais votada da história.
MN – Superando, inclusive, seu posto…
DANILO – Sim, mas entre os homens, continuo como o mais votado até hoje (risos). Eu torço para que essa representatividade feminina aumente ainda mais.
MN – O senhor entende que a Câmara poderia ter outras representatividades da sociedade mariliense?
DANILO – Isso fica mais facilitado com o aumento no número de vereadores. Há uns que atuam em determinados segmentos. Há quem esteja próximo da causa das pessoas com deficiência, e nós não temos, nesta legislatura, um vereador que tenha alguma necessidade especial. Ou seja, é possível ter uma pluralidade de representatividades.

MN – Pela primeira vez, o eleitor reelegeu a maioria dos vereadores em Marília. Por quê?
DANILO – Às vezes, há críticas aos vereadores por uma determinada votação ou posições que ele tenha tomado em alguma pauta. Mas há algo, que fica invisível, que é o dia a dia da prestação de serviço a população. Ou seja, há todo um trabalho de base que ele desempenhou dentro de um ou mais segmentos que deu respaldo para que fosse reeleito.
MN – Por outro lado, com aumento do plenário, a maioria agora é de novatos. Em que isso contribui ou não à sua presidência?
DANILO – O desafio maior é suprir as condições de suporte e orientação para que desempenhem a atividade legislativa. Eu observo que mesmo os novos já têm um trabalho de base e atuação política que facilitam nesse processo.
MN – Que marca espera deixar ao final de sua presidência na Câmara Municipal?
DANILO – Eu quero me dedicar para que consigamos avançar em pautas importantes. A cidade passa por momentos muito difíceis e a Câmara tem uma responsabilidade muito grande em fiscalizar mas, principalmente, propor e aprovar ações que vão trazer benefícios para a grande maioria da população. É evidente que, às vezes, um ou outro segmento não será atendido plenamente, mas precisamos pensar no geral.
MN – Haveria espaço, por exemplo, para se revisitar em sua presidência temas como a reforma previdenciária e o plano de carreira dos servidores e a concessão do Daem?
DANILO – São pautas que precisam da aprovação legislativa, mas são do Executivo. Vejo que o governo está revendo algumas coisas, buscando outros caminhos. Isso logo vai ser apresentado à população e à Câmara, principalmente, para aquilo que tenha necessidade de ajustes e correções. A gente percebe que há muitas coisas deixadas a desejar no município. Defendo que tudo seja dialogado. Gostaria de terminar o mandato com uma Câmara mais atuante, participando mais das decisões do governo e, sobretudo, buscando melhorar o dia a dia da população de Marília, principalmente a mais carente.