

11 anos. Mais de 97 mil artigos.
O jornalista Fábio Rosa, de 43 anos, conhecido por seu trabalho na TV Record Paulista e na Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Marília Transparente (Oscip Matra), viveu uma experiência dramática após ser diagnosticado com dengue. A doença evoluiu rapidamente e comprometeu gravemente sua saúde, levando a uma infecção pulmonar severa. Fábio passou 66 dias internado na UTI da Santa Casa de Marília, 21 deles em coma induzido, intubado e totalmente dependente de aparelhos.
Ele foi submetido a uma traqueostomia e a uma cirurgia no pulmão, enfrentou um quadro que por pouco não o levou à morte. Mesmo diante das adversidades, Fábio resistiu. Com apoio da esposa, da equipe médica e de uma rede de solidariedade formada por familiares e amigos, ele encontrou forças para lutar.
Aos poucos, ele retomou a consciência, passou a respirar sozinho e iniciou um doloroso, mas surpreendente, processo de reabilitação física. Hoje, próximo de retornar ao trabalho, Fábio considera sua recuperação um milagre.
Pai do Ivan e marido da Natália, ele atendeu a equipe do Marília Notícia para contar sua história de superação, que comove e inspira, e mostra combinação entre fé, medicina e amor.
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MN – Como Marília entrou na sua vida?
Fábio Rosa – Nasci em Jaboticabal, mas Marília já estava presente na minha infância, pois tenho parentes aqui e passava muitas férias com primos, brincando no Bosque Municipal. Ao concluir o colegial, hoje ensino médio, vim para Marília fazer faculdade.
MN – E sua formação e o início da carreira?
Fábio Rosa – O objetivo inicial era a Unesp, cheguei a ficar na lista de espera. Mas fui chamado na Unimar e meu pai incentivou, para não perder tempo. Cheguei em 2000, me formei bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Unimar. Comecei como estagiário na TV Marília, onde aprendi muito.
MN – Sempre sonhou ser jornalista?
Fábio Rosa – Tinha dúvida entre Jornalismo e Direito. Direito era forte em mim, mas meu grande desejo era ajudar pessoas, embora sem aptidão para a área da saúde. Optei pelo Jornalismo, achando que poderia ajudar de alguma forma. Jamais imaginei trabalhar em TV, pois era muito tímido e queria escrever. Gostava muito de escrever e era bom em redação. Tinha o sonho de escrever em jornal, revista.
MN – Mas acabou na TV. Como isso aconteceu?
Fábio Rosa – A oportunidade surgiu na TV Marília durante a faculdade. Ali, “o mosquitinho da TV me picou”. A gente fica encantado pela mágica e pela adrenalina gostosa do dia a dia da TV. Depois dessa experiência, não saí mais.
MN – E a chegada e sua trajetória na Record?
Fábio Rosa – Quando surgiu a oportunidade na Record, em Marília, achei que seria um período curto, pois não tinha experiência em TV aberta. A TV Marília era muito local, a Record é outra dimensão. Achava que não tinha capacidade técnica para me manter, mas não podia perder a chance. Deu tudo muito certo, a gente foi crescendo junto. Devo muito à equipe e chefia, como Tânia Guerra, que me contratou, e Valéria, editora-chefe do Balanço Geral. Elas me deram dicas importantes que permitiram meu crescimento.
MN – O que mais te gratifica no Jornalismo?
Fábio Rosa – Trabalhar na Record hoje é uma satisfação porque consigo efetivamente ajudar pessoas. Vemos isso quase diariamente com reportagens sobre falta de medicamentos, buracos na rua, serviços à comunidade. Percebemos rapidamente o retorno, e isso é muito gratificante. Lembro que, durante minha internação, uma pessoa da limpeza na UTI me reconheceu e agradeceu, dizendo que um sobrinho sobreviveu graças a uma reportagem sobre medicação que fizemos anos atrás. Isso é extremamente gratificante.
MN – Além da Record, você também atua na Matra (Marília Transparente)?
Fábio Rosa – Sim, estou há oito anos como jornalista da Matra. É uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, algo extraordinário. Acho que toda cidade devia ter uma. São pessoas comuns, voluntários, que se dedicam ao controle social, cobrando maior eficiência na aplicação dos recursos públicos. Trabalhar na Matra também é muito gratificante e tenho aprendido muito.
MN – Você passou por um grave problema de saúde. Como tudo começou?
Fábio Rosa – Eu já estava com uma tosse residual, vindo de faringite e amidalite. Procurei apoio médico, otorrinolaringologista, pronto-socorro, mas era visto como algo corriqueiro. Senti agravamento com febre, dor no corpo, e o exame de sangue confirmou a dengue. A dengue provocou uma queda muito rápida das plaquetas e da minha imunidade.
MN – E o que causou o quadro grave?
Fábio Rosa – Eu já vinha enfraquecido pela tosse e a dengue baixou muito minha imunidade. Apesar de acompanhado por médicos, tive herpes na boca. Devido à queda grave da imunidade, a herpes foi para minha corrente sanguínea e foi para o pulmão. Isso gerou um quadro de sepsia pulmonar, uma infecção muito grave nos pulmões.
MN – Como foi a internação?
Fábio Rosa – Voltei a procurar ajuda na Santa Casa, fui duas vezes ao pronto-socorro. Na segunda vez, fui internado, a princípio, em leito comum com suporte de oxigênio. Era tratado como complicação da dengue. Mas no segundo dia, o quadro agravou. Eu já não lembro desse dia, foi o que minha esposa me relatou. Uma tomografia acusou o quadro grave pulmonar, com acúmulo de líquido e grande dificuldade de respirar. Dessa tomografia, fui direto para a UTI.
MN – Quanto tempo você passou na UTI e como foi o tratamento?
Fábio Rosa – Passei 66 dias na UTI. Fiquei 21 dias entubado, totalmente inconsciente, em coma induzido. Fui submetido à curarização, um processo com medicamentos fortíssimos para paralisar os músculos, para que eu ficasse totalmente entregue ao respirador mecânico e aos antibióticos. O tubo na boca não pode ficar muito tempo, o recomendado era 14 dias, esticaram para 21. A tentativa de extubar não foi possível.
MN – E como foi depois da intubação?
Fábio Rosa – Tive que fazer a traqueostomia. Sair dela é mais difícil. Fiquei mais de 30 dias consciente na UTI, ainda respirando por aparelhos pela traqueia, na tentativa de respirar sozinho. Só tenho lembranças a partir do 31º dia de internação, quando estava consciente na UTI com traqueo.
MN – Como foi estar consciente em um ambiente tão crítico como a UTI?
Fábio Rosa – É algo raro e muito complicado. A UTI é um salão amplo, com 14 leitos, todo mundo em situação crítica, respirando por aparelho. Não tem janela, a luz fica acesa 24 horas. Há muito barulho de equipamentos apitando. Você escuta tudo que acontece, pessoas morrendo, sendo reanimadas, a equipe correndo. É um período muito assustador.
MN – Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou neste período?
Fábio Rosa – Além do ambiente da UTI, a falta de contato com meu filho foi algo que pegou muito. Tive que tomar antidepressivo. Estava restrito de visitas devido à imunidade baixa. Via apenas minha esposa diariamente e meus pais a cada 15 dias. Perdi 15 quilos de massa muscular, fiquei muito fraco, sem conseguir levantar a mão para coçar a sobrancelha. É inacreditável acordar sem controle do próprio corpo. Tive momentos de desespero, querendo fugir, mas não tinha força para levantar da cama. Passei fome e sede, não podia tomar uma gota de água por causa da traqueostomia. Sonhava com água.
MN – Acredita que o apoio que você recebeu foi importante?
Fábio Rosa – Foi fundamental. Minha esposa permaneceu ao meu lado o tempo inteiro. Ela teve a iniciativa de pedir vídeos de apoio de pessoas próximas, o que fez muita diferença. Fiquei impressionado com a repercussão e o carinho das pessoas. Os funcionários da Santa Casa falavam que todo dia perguntavam por mim. A Santa Casa abriu uma exceção e, na Páscoa, meu filho pôde me visitar na UTI, vestido de coelhinho. Vê-lo foi incrível e fundamental para minha recuperação, me deu força para lutar e voltar. As orações e a energia positiva de muita gente também ajudaram muito.
MN – Como está o processo de recuperação agora, fora da UTI?
Fábio Rosa – Tem sido rápido e surpreendente, até para os profissionais. Minha fisioterapeuta está impressionada. Demanda muito esforço e dor. Sinto muita dor nas pernas, que ainda estão muito fracas. Não posso tomar analgésico para não atrapalhar a recuperação muscular. Para dormir, tem sido difícil por causa da dor, mas vale a pena, pois vejo progresso diário. Já engordei 10 quilos. Estou caminhando com dificuldade e começando a treinar subir escadas. É um processo de aplicação com fisio, fono, alimentação, suplementos para recuperar músculos.
MN – Qual a data prevista para seu retorno ao trabalho?
Fábio Rosa – A data marcada é 17 de junho. Espero não precisar prorrogar o atestado, quero voltar ao trabalho, que também está fazendo falta.
MN – Qual a lição ou perspectiva você tira dessa experiência?
Fábio Rosa – Tomei um susto. A gente nunca pensa nisso, acha que é novo, que tem a vida inteira. De repente, percebi que podia literalmente ter morrido. Graças a Deus, estou aqui. Serviu muito de aprendizado. Saí da UTI sem nenhum equipamento, era previsto sair com traqueia metálica. Respirar normalmente, autônomo, foi mais um milagre. Tenho certeza que fui fruto de um milagre, da minha fé e das orações.
MN – O que pode ter causado o agravamento tão rápido da dengue?
Fábio Rosa – Minha imunidade já não estava boa, e é muito provável que eu estivesse com dengue e Covid-19 ao mesmo tempo. Isso não está no relatório médico, mas em conversas informais com a equipe. Eu sou vacinado contra Covid, tive dengue no ano passado, tudo indicava casos leves. Mas essa combinação de dengue, Covid e baixa imunidade agravou tudo muito rápido.
MN – Você precisou de cirurgia no pulmão?
Fábio Rosa – Sim. Fui submetido a uma cirurgia chamada decorticação. Tiraram um pedaço do meu pulmão que necrosou devido à carga inflamatória. Precisou tirar essa parte para que o restante do pulmão pudesse inflar melhor. Graças a essa cirurgia e todo o processo, estou muito bem hoje, saturando muito bem.
MN – Como foi o tratamento recebido na Santa Casa?
Fábio Rosa – Tenho que aproveitar para agradecer muito à equipe da Santa Casa de Misericórdia de Marília. Eles foram fundamentais. Na UTI, fui acompanhado por uma equipe multidisciplinar gigante, com médicos, dentista, psicólogo, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional. Eles permitiram que eu saísse na situação que estou. A alegria deles com a minha recuperação também foi surpreendente e bacana. Hoje só tenho a agradecer. Ainda estou com um pouco de medo de contato e de ficar doente de novo. Mas isso vai passar.