Qual é o principal aliado da democracia e da educação?
Recentemente eu escrevi sobre o trabalho de construção de “pontes” entre democracia e educação. Disse que as ferramentas que empoderam os cidadãos para lidar com os eventos históricos e políticos são aquelas especializadas em nossas faculdades mentais, principalmente o poder de discernir, de analisar, de sintetizar, de respeitar e fazer respeitar os diferentes julgamentos e de criticar.
Em comparação ao trabalho de construção de uma ponte de concreto, também disse que, como o ferreiro sem a ferramenta adequada que dificilmente será capaz de lidar com o ferro, os cidadãos sem as suas ferramentas dificilmente conseguirão lidar com os eventos históricos e políticos. Foi um chamado ao papel da educação enquanto cultura brasileira na construção da democracia.
Mas há um aliado da democracia ainda mais importante do que a educação, a indiferença. Explico. Ontem (12), em sala de aula, eu perguntei aos alunos: Quem esta acompanhando a política no Brasil? E quem não esta? Muitos alunos disseram que não estavam acompanhando os eventos políticos, alguns deles históricos, como a votação pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente pelo Senado e as eleições municipais de 2016. Indiferença!
Então, como a indiferença é um aliado importante da democracia e da educação? Primeiramente, vale ressaltar que indiferença não é leviandade, isto é, o tratamento de algo importante – como o trabalho de construir pontes entre democracia e educação – com sarcasmo ou falta de respeito. Para o filósofo alemão Immanuel Kant, indiferença é o estado de uma ação de julgar (uma das nossa faculdades mentais) que amadureceu com o tempo e se cansou de cair no “canto da sereia” ou nas “promessas de campanha”. Nesse caso, há muitos jovens para os quais a ação de julgar importantes eventos históricos e políticos se encontra aposentada. Entretanto, é o estado de indiferença das pessoas que fornece a possibilidade de a razão se sentir novamente atraída por algum evento histórico e político e se renovar.
Voltando à sala de aula, após saber da indiferença dos meus alunos, tomei alguns minutos para discutir com a classe alguns eventos históricos e políticos atuais. Foi emocionante, pra mim e pra eles. Pra mim pois tive a oportunidade de falar um pouco de filosofia e corrupção, de Platão e do “filosofar com o martelo de Nietzsche”, com alunos de Administração de Empresa. Pra eles pois perceberam que estão maduros e indiferentes, portanto, no estado de se auto conhecerem pra participar do espaço público e levantar suas vozes, passar julgamento sobre como querem que seus políticos ajam.
Não surpreende que muitas “raposas” políticas, líderes empresariais ou pessoas que desfrutam de “boquinhas” em cargos públicos comissionados repitam aos quatro cantos que “Política é lugar de bandido”. Eles fazem a manutenção da indiferença em doses homeopáticas nos bates papos informais e em doses químicas pelos meios de comunicação de massa. Eu prefiro pensar diferente e dizer que há bandidos na política.
Quem esta indiferente à tudo isso tem o potencial de se sentir atraído e renovar seus julgamentos. O trabalho de construção de “pontes” entre democracia e educação é árduo. Mãos à obra, cidadãos.