População se une e dá abraço simbólico na Santa Casa
A decisão de uma família, que conhecia o desejo de seu ente querido, após a morte, deu nova vida para o pedreiro Erivaldo Chicota, 55 anos, paciente da Santa Casa de Misericórdia de Marília. Ele recebeu um novo rim durante cirurgia realizada no hospital no início de agosto e saiu da fila, porém, mais de 9 mil pessoas ainda aguardam pelo órgão somente no estado de São Paulo.
Para que histórias de sucesso se tornem mais frequentes, o hospital realiza o Setembro Verde, com uma programação especial para marcar o mês e destacar o Dia Nacional do Doador, lembrado em 27 de setembro.
Uma das principais ações da campanha foi o “Abraço Simbólico à Fila de Espera pelos Transplantes”, que aconteceu ontem (25) em frente à Santa Casa de Marília.
A iniciativa foi viabilizada por funcionários que realizam, durante todo o ano, a campanha de educação permanente para sensibilizar a comunidade para o tema. Desde o dia 1º a fachada do hospital foi iluminada na cor verde, a exemplo do que já ocorre com alguns prédios públicos e monumentos no Brasil.
A coordenação do Setembro Verde na Santa Casa de Marília é da fisioterapeuta Izabel Travitzky (Sesmt) e da psicóloga Deborah Milani (hotelaria e ouvidoria). Com apoio da diretoria do hospital e dos demais setores da instituição, elas promovem um trabalho voluntário com o envolvimento de profissionais de saúde, educadores, clubes de serviços e Poder Público.
SUPERAÇÃO – Erivaldo Chicota conta que descobriu a doença renal há cerca de 12 anos. No caso dele, o diagnóstico foi demorado e nos anos seguintes ao surgimento dos primeiros sintomas o problema se agravou. Em 2012, foi encaminhado à Santa Casa, hospital referência em nefrologia para a região. Passou a fazer sessões de diálise peritonial e acompanhamento constante.
“É muito ruim perder a saúde, porque a gente passa a ter limitações que antes não tinha. A alimentação muda, tudo muda. A gente perde até a liberdade de viajar, ficar longe de casa porque depende do tratamento para continuar a viver”, relata Erivaldo Chicota.
Após cerca de três anos e meio à espera de um rim, preocupado com a progressão da doença e o risco da falência total dos rins, o pedreiro foi surpreendido pela convocação da Central de Transplantes. “Foi uma alegria grande, estou na fase de adaptação. A baixa imunidade deixa a gente vulnerável, às vezes preocupa, mas tenho certeza que vai dar tudo certo”, declara.
Se tivesse oportunidade, o que ele diria aos familiares de seu doador? “Eu diria muito obrigado, vocês me deram uma nova chance. Só Deus pode retribuir o que vocês fizeram por mim”, responde emocionado.
Durante o tratamento, nos cuidados pré e pós operatório, Chicota contou com o atendimento multidisciplinar e especializado do hospital, que realizou todos os procedimentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A esposa, a servidora aposentada Aurora Pereira Sarmento, destaca o acolhimento e profissionalismo dos funcionários, médicos e equipe de apoio. “Eu não imaginava o que era a Santa Casa. Só passando por isso, tendo esse atendimento, é que a pessoa pode dar valor. Somos muito agradecidos”, declara.
Entenda a captação
No Estado de São Paulo, a captação é coordenada pela OPOs (Organização de Procura de Órgãos). São dez unidades em todo o estado, sendo quatro na Capital e seis no interior. Marília conta com uma destas unidades, com área de abrangência em 131 municípios e sede no HC (Hospital das Clínicas) da Famema (Faculdade de Medicina de Marília).
A coordenadora do serviço, Debora Gutierrez, relata que as ações de conscientização são fundamentais para a captação. Em 2015, a unidade já registrou 34 doadores de múltiplos órgãos. No ano passado, até o mesmo período do ano, foram apenas sete.
Segundo dados consolidados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) o Estado de São Paulo tinha, em março deste ano, 9.178 pessoas na fila do rim, 690 à espera de fígado, 107 precisando de um coração, 108 de pulmão, 12 à espera de pâncreas e 2.415 pacientes necessitando de córneas.