Marília realiza primeiras cirurgias de implante coclear bilateral e transforma vidas

O médico otorrinolaringologista Rodrigo Lupp concluiu neste sábado (26) o ciclo pós-operatório de duas bem-sucedidas intervenções inéditas em Marília: a cirurgia de implante coclear bilateral — instalação simultânea de próteses em ambos os ouvidos — para a recuperação auditiva dos pacientes Luciano Raimundo de Souza, 41 anos, e Janaína Cassia da Silva de Oliveira, 35.
As cirurgias aconteceram no centro cirúrgico do Hospital Beneficente da Unimar (HBU) nos dias 20 e 21 de março. Neste último sábado, após a recuperação cirúrgica, os implantes foram ativados.
Janaína havia perdido a audição há seis anos e agora está reaprendendo a ouvir e a interpretar os sons. Já Luciano, que perdeu a audição aos seis anos de idade, não conteve as lágrimas ao escutar novamente a voz de sua mãe.

A ativação dos implantes bilaterais foi realizada pelas fonoaudiólogas Lívia Maria Daniel (de São José do Rio Preto) e Isabela Tiezi Rombola (de Marília). As cirurgias inéditas foram conduzidas por Rodrigo Lupp, com a supervisão do otorrinolaringologista Luiz Fernando Lourençone, chefe da Seção de Implante Coclear e diretor clínico do Centrinho da USP de Bauru.
“A cirurgia coclear já era realizada em Marília, mas não a bilateral, ou seja, nos dois ouvidos em uma mesma intervenção. Esse tipo de procedimento ainda é pouco comum no Brasil, principalmente pelo alto custo, mas é corriqueiro em outros países. Ele é indicado para pacientes que não obtêm benefício suficiente com aparelhos auditivos convencionais e que apresentam condições clínicas e fonoaudiológicas adequadas”, explicou Lupp.

CADA VEZ MAIS ACESSÍVEL
O alto custo é uma das principais barreiras para o acesso ao implante coclear bilateral. Uma cirurgia desse tipo, considerando próteses, materiais, equipe e hospital, pode ultrapassar R$ 170 mil.
Segundo Lupp, a tendência é que os procedimentos se tornem mais frequentes e acessíveis. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) já oferece o implante coclear, mas a demanda é muito maior do que a capacidade de oferta. Em contrapartida, planos de saúde vêm ampliando a cobertura após decisões judiciais que reconhecem o direito à audição plena.
As duas cirurgias inéditas em Marília foram integralmente custeadas pela Unimed, após auditoria que comprovou a necessidade.

A EMOÇÃO DE VOLTAR A OUVIR
Para os pacientes, a jornada da perda auditiva e a longa espera pelo tratamento deram lugar à emoção, à gratidão e à fé. O Marília Notícia acompanhou a ativação dos implantes e registrou momentos inesquecíveis.
Janaína, auxiliar de enfermagem aposentada precocemente por conta da anemia falciforme, perdeu a audição há cerca de cinco anos. “É uma felicidade muito grande conseguir voltar a ouvir, mesmo que ainda de forma suave. Estou me acostumando novamente com o som”, relatou.
De acordo com a fonoaudióloga Lívia Maria Daniel, por Janaína ter adquirido a linguagem oral antes da perda auditiva, a adaptação ao novo som poderá ocorrer entre três e seis meses, com retornos anuais para ajustes.
Já Luciano, morador de Quintana e pintor de obras, perdeu a audição na infância. Com o pouco que ouviu nos primeiros anos, aprendeu a falar e a se comunicar principalmente pela escrita e leitura labial. Sua readaptação poderá levar mais tempo, mas a emoção do reencontro com a voz da mãe foi imediata e comovente.

QUANDO PROCURAR UM MÉDICO
Rodrigo Lupp reforça que a medicina tem evoluído rapidamente em favor da qualidade de vida dos pacientes com perda auditiva. Prótese e aparelhos auditivos modernos oferecem captação cada vez mais detalhada de sons e timbres.
“Qualquer sinal de desconforto ou redução da audição deve ser motivo para procurar imediatamente um otorrinolaringologista. Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, maiores as chances de tratamento eficaz”, alerta.
Como exemplo, Lupp cita que uma criança com deficiência auditiva não tratada adequadamente até os três anos de idade pode perder de forma irreversível a capacidade de desenvolver a audição.

Mais do que um avanço da medicina em Marília, as cirurgias de Luciano e Janaína simbolizam a vitória da ciência sobre o silêncio. Cada som redescoberto, cada palavra escutada novamente, é um testemunho da esperança que a tecnologia e a dedicação médica podem devolver. Para quem já havia se acostumado com o vazio, ouvir é, mais do que um sentido recuperado — é a vida sendo celebrada em cada nota e em cada voz.


Assista abaixo o vídeo do momento em que os dois pacientes voltam a ouvir com a ativação da prótese: