Operação da Anac e da PF interdita duas aeronaves em Vera Cruz
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Polícia Federal (PF) interditaram nesta segunda-feira (24), em Vera Cruz (distante 17 quilômetros de Marília), duas aeronaves que estariam sendo utilizadas em suposta associação ao contrabando de entorpecentes entre o Brasil e países vizinhos.
Durante a ação, batizada de Fuselo, em analogia ao pássaro de maior autonomia de voo no mundo, os agentes recolheram uma grande quantidade de peças aeronáuticas — hélices, partes de motor e estruturas de aeronaves — com sinais de adulteração.
A operação foi dividida em duas etapas, sendo a primeira na empresa de manutenção aeronáutica Triângulo, local onde as aeronaves foram encontradas. Já no período da tarde, os agentes da Anac e da PF cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do proprietário da oficina e dono de uma das aeronaves interditadas.
Ao final da operação foram constatadas irregularidades na manutenção de aeronaves, como a falta de registro de reparos aeronáuticos, componentes sem rastreabilidade e o uso de partes de diferentes aeronaves para a reconstrução. Todo o material recolhido na ação ficará retido até que seja analisado e periciado por agentes da Polícia Federal.
A partir das provas obtidas na operação, a Agência irá instaurar um processo administrativo para apurar as responsabilidades dos envolvidos no caso. Se comprovadas as infrações, eles poderão responder administrativamente e poderão ser punidos com multa, suspensão de habilitação e até cassação do certificado da organização de manutenção.
Por se tratar de possível ação criminal, o caso será encaminhado ao Ministério Público Federal.
DETENÇÃO
A Polícia Federal deteve, durante a ação, o administrador de negócios no Aeroporto Municipal de Vera Cruz (distante 17 quilômetros de Marília), Fausto Jorge, por porte ilegal de arma de fogo. Ele é considerado o rei do contrabando regional.
A polícia encontrou armas na casa de Fausto Jorge e o prendeu por porte ilegal. Contudo, por se tratar de crime afiançável, após o pagamento do valor, que não foi divulgado, o acusado foi liberado para acompanhar as buscas ao lado do advogado.
Em nota distribuída à imprensa, a PF informa que as suspeitas são de que, para permitir a realização de viagens a locais distantes – países vizinhos – e sem a realização de escalas, as aeronaves eram modificadas, de forma clandestina, a fim de aumentar a autonomia de voo.
Os materiais confiscados durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão serão analisados pela Polícia Federal, com o objetivo de apontar a responsabilidade.
CPI
Fausto Jorge foi citado em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), constituída pela Assembleia Legislativa no início dos anos 2000, com a finalidade de apurar organizações que atuam no narcotráfico no Estado de São Paulo.
No documento, houve menção de que a adulteração de aeronaves supostamente foi realizada na oficina de propriedade de Fausto Jorge, em Vera Cruz.
Fato teria sido verificado pela CPI em um relatório da Polícia Federal – Superintendência Regional do Pará, que investigava as atividades da quadrilha de narcotraficantes internacionais liderada por Elvis Moreira Rocha, também conhecido por Manicaca, grande transportador de cocaína colombiana e de outros países sul-americanos para o Brasil, Estados Unidos e Europa, com rota pelo território nacional.
O relatório da CPI reproduz inclusive alguns trechos, que indicam a participação da oficina regional na modificação de uma das aeronaves utilizadas pela quadrilha.