‘Propósito é preparar munícipes esclarecidos dos problemas locais’, diz Tiago

O Tiro de Guerra (TG) recebe anualmente 100 rapazes para o serviço militar obrigatório em Marília. Durante os nove meses que se seguem, os atiradores, como são chamados os jovens civis em trajes do Exército, convivem em jornadas diárias iniciada antes de o sol nascer.
Ao final, levam consigo a bagagem de novas aprendizagens e convivênvias. “É uma experiência que contribui para os desafios da vida”, enfatiza o chefe de instrução do Tiro de Guerra 02-059, o subtenente Tiago Poerschker.
Em entrevista ao Marília Noticia, o recém-chegado ao TG fala o porquê são convocados apenas 100 atiradores, quais são os critérios de escolha, como é a rotina de instruções e quais são as penas previstas em caso de indisciplina.
Gaúcho de Santa Maria (RS), o subtenente iniciou carreira militar em uma organização tradicional, sem precisar passar pelo TG. A entrevista abaixo foi concedida após autorização do Exército. O entrevistado respondeu perguntas submetidas à avaliação do seu comando superior.
MN – Quando foi à chegada do senhor ao Tiro de Guerra de Marília?
TIAGO – Cheguei no início de janeiro deste ano. Porém, já havia vindo conhecê-lo e também a cidade no ano passado por ocasião da minha nomeação para ser instrutor do Tiro de Guerra.
MN – O sobrenome do senhor sugere sua origem no sul do Brasil. Qual sua origem e formação pessoal e no militar?
TIAGO – Sim, o sobrenome é de origem alemã. Sou gaúcho da cidade de Santa Maria. Ingressei no Exército em 1999 como soldado no 3º Grupo de Artilharia de Campanha de Santa Maria. No mesmo ano, fui aprovado no concurso da Escola de Sargento das Armas, em Três Corações (MG), vindo a fazê-la em 2000. Após a formação na Arma de Artilharia, tive a oportunidade de morar nas cidades Cruz Alta (RS), Rio de Janeiro, Santa Maria novamente, Rondonópolis (MT) e agora aqui em Marília.

MN – São 100 novos atiradores por ano. Como é definida esta quantidade?
TIAGO – A quantidade de atiradores em um Tiro de Guerra geralmente é definida com base na capacidade de organização, número de instrutores, instalações e recursos disponíveis. E pode variar ainda de acordo com a região militar. Aqui na segunda, que abrange o Estado de São Paulo, os Tiros de Guerra ou tem uma turma ou duas de 50 atiradores. É levando em consideração o porte da cidade, a quantidade de jovens alistados entre outros. Tudo para garantir que todos tenham uma formação adequada.
MN – Quais são os critérios principais para escolha dos novos atiradores?
TIAGO – Os critérios para o processo de seleção ao serviço militar obrigatório no Tiro de Guerra são que o jovem tenha feito alistamento militar, more no município tributário desse Tiro de Guerra, tenha idade entre 18 e 45 anos, condições desejáveis de saúde e físicas e ainda situação civil e familiar.
MN – Que atividades são realizadas com os atiradores ao longo do ano?
TIAGO – As atividades realizadas com os atiradores ao longo do ano podem variar dependendo do Tiro de Guerra. Porém, todos seguem um cronograma com um Programa Padrão de Instrução, voltado a formar o reservista de 2ª categoria, para que fique preparado para tarefas limitadas, no caso de uma convocação a integrarem o Exército Brasileiro e a praticarem ações comunitárias e de Defesa Civil. O propósito é preparar munícipes esclarecidos dos problemas locais, interessados nos anseios e realizações de sua comunidade, e cidadãos interessados na realidade nacional, além de tornar o atirador um polo difusor do civismo, da cidadania, do patriotismo e dos valores militares.

MN – Quais diferenças haveriam na condução das atividades desenvolvidas hoje no TG e no tempo em que o senhor entrou no Exército?
TIAGO – Apesar de não ter começado a minha vida militar em um Tiro de Guerra e sim em uma organização militar tradicional, acredito que pouco mudou, apesar de a sociedade como um todo vir passando por muitas transformações tanto de costumes, de informações, de convivência, entre outras. O Exército Brasileiro mantém sempre seus pilares ligados à hierarquia e à disciplina e desde sempre teve o objetivo de desenvolver o jovem no caminho do civismo e patriotismo.
MN – No TG, os atiradores fazem treinamento com armas. Qual é orientação, na instrução, quanto à utilização de armamento na vida civil?
TIAGO – A orientação principal é que o uso de armas de fogo deve ser feito com responsabilidade, respeito e sempre de forma segura. Os atiradores aprendem a atualizar armamento sempre em ambiente controlado pelo instrutor com noções de manuseio onde devem seguir rigorosamente as normas de segurança. Além disso, reforçamos que o mau uso pode trazer sérias consequências. O objetivo dessas orientações é garantir que os atiradores tenham consciência da responsabilidade envolvida no manuseio de armas.

MN – Em caso de indisciplina na instrução, quais são as penas previstas para os atiradores?
TIAGO – Os atiradores estão sujeitos ao Regulamento Disciplinar do Exército. Porém, consideramos a peculiaridade da atividade desenvolvida no Tiro de Guerra. As punições disciplinares, de uma forma geral, não os prejudicam na vida civil, mas vão desde advertência, repreensão, suspensões até o licenciamento a bem da disciplina.
MN – O TG é uma área do Exército Brasileiro e de acesso restrito. Qual orientação aos atiradores a quem ousar invadir esse espaço militar?
TIAGO – A área e todas as instalações do Tiro de Guerra são, na verdade, da Prefeitura de Marília, que é responsável pela manutenção, pelos materiais, por ceder alguns funcionários. Tudo conforme regulamentação feita no acordo de cooperação firmado entre o Exército Brasileiro e a Prefeitura. Quanto à orientação sobre condutas dos atiradores não posso dar detalhes dos procedimentos internos, justamente para continuarmos mantendo a segurança do Tiro de Guerra e a integridade física dos atiradores.

MN – Que diferença faz o Tiro de Guerra para a vida de um jovem?
TIAGO – O Tiro de Guerra faz uma grande diferença na vida de um jovem, pois oferece uma oportunidade de formação cívica, social e física. Além de proporcionar instrução militar básica, ele ajuda no desenvolvimento de valores como disciplina, responsabilidade, trabalho em equipe, entre outras. Também pode abrir portas para o mercado de trabalho e fortalecer o sentimento de patriotismo. É uma experiência que contribui bastante para o crescimento pessoal e para a construção de uma postura mais consciente e preparada para os desafios da vida.