Meio ambiente sustentável versus agro: qual é o nosso negócio?
O primeiro escrivão português em solo brasileiro, Pero Vaz de Caminha, em sua carta de 22 de abril de 1500 ao rei, assim eternizou o meio ambiente brasileiro: “Esta terra, Senhor… Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia… muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa… a terra em si é de muito bons ares… Águas são muitas; infindas”.
Na sequência, vislumbra o potencial do agro: “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”.
Intérprete do futuro, antecipou aquilo que muitos não querem enxergar: “meio ambiente” e “agro”. Ambas são grifes fundidas em nosso DNA, tais a “café”, “samba” e “Pelé” – objetos dos sonhos (e consumo) dos estrangeiros.
Exclusivas, materializam desejos perduráveis para além de gerações e gerações.
São atávicas: já nasceram com o germinar da nação.
Estimular o confronto de progressistas do agronegócio contra conservadores ambientalistas alimenta tumor fatal entre nós mesmos. Insana cruzada autoimune: confusa, nossa própria substância combate a si mesma.
Causas externas dificilmente aniquilam nações, estados e cidades. O suicídio os faz desaparecerem: extinguem-se por razões internas. A morte devora por dentro.
Enquanto cidadãos, somos os responsáveis diretos e indiretos pelo autocídio. Por ação ou por omissão.
Na lógica binária do mercado global, podemos enfrentar a questão de duas formas. Numa: desafiarmos e nos arremessarmos contra os punhos dos 194 “Mikes Tysons”, países também concorrentes no palco do comércio mundial.
Noutra: darmos as mãos aos sábios do oriente e integrarmos as poderosas energias do Universo – fluir a favor dos nossos interesses nacionais e marilienses.
Usar a grife em benefício do nosso povo, da nossa coletividade.
Creio que a segunda doa menos.
Ademais, confio na teoria da soma positiva: independentemente dos interesses comuns ou opostos dos participantes, o resultado sempre será positivo para todos.
Com base nesses dois princípios e enquanto secretário do Meio Ambiente, trouxe à mesa ativistas e entusiastas, representantes de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) ligados à preservação ambiental, bem como de empresas da agroindústria.
Iniciamos tratativas em pesquisa acadêmica com universidade regional que disponibilizou imediatamente estrutura física, recursos financeiros e principalmente capital humano.
Objetivo maior: criarmos ecossistema de negócios sustentáveis, socialmente conscientes e corretamente geridos. Além disso, aproveitarmos experiências locais, a exemplo dos projetos “Doce Futuro” e “AgroFloresta”, ambos na zona norte da cidade.
Uma legítima “Agenda Verde” amparada nos fundamentos de gestão orientada à excelência. Também alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) previstos na Agenda 2030. Mais: amparada no imperativo das melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
Tudo sob o guarda-chuva do acrônimo Environmental, Social and Governance (ESG) ou Meio Ambiente, Social e Governança): exigência da contemporaneidade.
Isso exige civilidade, tempo e maturidade. Também liderança.
Liderança vigorosa, imensa e generosa: protetora de impactos e conversora de conquistas em benefícios às pessoas. Vale para empresas e terceiro setor.
Vale especialmente para as lideranças do setor público, cujo princípio é servir à sua gente ao invés de lamber os próprios dedos após se lambuzar no banquete servido por cofres mantidos por nós, cidadãos.
Liderar positivamente um povo é dar vida à profecia esculpida pelo mesmo fidalgo português na citada Carta a el-Rei Manoel sobre o achamento do Brasil: “… o melhor fruto, que nela (terra brasileira) se pode fazer, me parece que será salvar esta gente”.
Seja nas esferas nacional e estadual. Principalmente: municipal.
Sucesso. Sempre
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Marcos Boldrin
Ex-secretário municipal do Meio Ambiente e da Administração. Urbanista, arquiteto e coronel da reserva
@marcosboldrin
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