Marília tem aumento de estelionatos durante pandemia
Dados obtidos a pedido do Marília Notícia mostram que o registro de Boletins de Ocorrências de estelionatos, em Marília, aumentaram aproximadamente 79% de 2019 para 2020.
De janeiro a dezembro de 2019, foram registradas 773 ocorrências deste tipo, sendo 117 de autoria conhecida e 656 de autoria desconhecida. Já em 2020, durante a pandemia de coronavírus, são 1.385, das quais 105 tem autoria conhecida e 1.280 desconhecida.
Ainda conforme os dados em 2019, 85 casos foram esclarecidos, o que representa cerca de 11% do total de ocorrências do ano. No ano passado, apenas 70 foram solucionados, um total de 5% dos registros.
Os números obtidos pela reportagem mostram que em janeiro de 2021, já foram registrados 161 Boletins de Ocorrências de estelionato. Apenas sete deles – 4,34% – foram esclarecidos.
Do total de registros no primeiro mês deste ano, três tem autoria conhecida e 158 desconhecida.
Pandemia
A reportagem conversou com o delegado seccional de Marília, Wilson Carlos Frazão, sobre os números obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Questionado se o aumento de casos no ano passado está ligado à pandemia, o delegado afirmou que sim.
“O aumento exponencial de casos de estelionatos sem dúvida é reflexo da pandemia. É diretamente ligado a transações por internet muitas vezes ocorridas em sites falsos, com fornecimento de dados pessoais”, explicou Frazão.
O MN também perguntou se existe a tendência de que em 2021 os números continuem aumentando e mais uma vez o seccional respondeu de forma afirmativa.
“Sim, os números observados nos meses iniciais do ano indicam que os casos devem continuar crescendo, ainda que em ritmo mais lento, levando-se em conta os anos de 2019 (pré-pandemia) e 2020”.
Investigação
Frazão afirmou ainda que a “análise fria dos números não traduz a realidade da investigação”.
Segundo ele, a Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, passou a exigir uma representação das vítimas para que as investigações fossem iniciadas e que o processo seguisse adiante no Poder Judiciário.
“A Polícia Civil só pode agir, de acordo com a lei, após esta manifestação formal da vítima. Por outro lado, como dito, a maioria dos crimes de estelionato tem ocorrido nas chamadas compras on-line, ou por meio de clonagem de aplicativos de mensagens, onde o crime se consuma no local onde o autor obteve a vantagem indevida, ou seja, na maioria das vezes, onde se situa a agência bancária para a qual os valores foram depositados ou transferidos”, explicou o delegado.
“A Polícia Civil com atribuição para investigação é aquela do local onde se situa esta agência bancária, muitas vezes em outros municípios e até em outros Estados. Por outro lado, os golpes praticados por instituições financeiras federais são de atribuição da Polícia Federal, o que ocorreu com bastante intensidade no último ano em relação, por exemplo, ao auxílio emergencial. Assim, o número de registros em Marília não representa a realidade dos crimes que aqui ocorreram, já que são encaminhados para apuração das polícias civis dos outros locais ou até mesmo a Polícia Federal”, complementou.
O seccional enfatizou que há dificuldade para se chegar ao autor do crime, já que muitas vezes eles utilizam contas correntes e linhas telefônicas em nomes de terceiros, os chamados ‘laranjas’, que sequer sabem que seus dados foram usados para a prática do golpe.
“O comércio, principalmente após a pandemia do novo coronavírus, foi intensificado por meio virtual e, consequentemente, os golpes acompanham esta tendência”, destacou.
Como se proteger?
Frazão também orientou que as pessoas realizem transações comerciais em sites confiáveis, certificados e, quando se tratar de grandes valores que façam pessoalmente.
“Não se adquire um veículo ou um imóvel, por exemplo, de alto valor, sem contato visual com o bem e certificando se o vendedor é realmente o proprietário. Não se fornece dados pessoais, senhas ou códigos por meio virtual ou ligações telefônicas. Sempre desconfie de preços atrativos, negócios muito lucrativos, prêmios fáceis. Atualize sistemas operacionais de computadores e mantenha um sistema antivírus. Fique atento a falsos sequestros e tente manter contato com o parente que estaria em cativeiro em outra linha telefônica fixa, amigos ou familiares que mantenham contato mais próximo”, disse.
Caso alguém se torne vítima de um estelionatário, a orientação é para registrar uma ocorrência policial imediatamente, o que é possível fazer inclusive na delegacia eletrônica, no site da Polícia Civil de São Paulo.
“Mantenha contato imediato com o gerente de sua conta bancária para bloqueio dos valores transferidos ou depositados, o que, em muitos casos tem sido possível. E, depois do registro policial, compareça na delegacia e manifeste seu desejo de que o autor seja identificado e responsabilizado, possibilitando o início da investigação”, finalizou Frazão.