Qual Política?
Em tempos de incerteza sobre os destinos do país, se faz necessária a elaboração de ideias e novos conceitos para que a democracia evolua. Trata-se de um jogo sem opções.
Enquanto o autoritarismo avança na onda anti-política da retórica rasa da polarização artificial, no exercício das gestões uma nova maneira de exercício do poder se torna urgente, sob o risco de retrocedermos miseravelmente. A maior participação das pessoas não significa apenas mais democracia. Significa também que a sociedade assuma seu papel com responsabilidade que lhe é devida.
A questão da participação não é apenas uma escolha pela democracia. É antes de mais nada um processo estratégico de formulação de políticas públicas ancoradas em múltiplas visões da realidade social a partir do envolvimento das pessoas, viabilizando escolhas respaldadas por dados concretos, situações vividas pela comunidade, demandas sociais concretas e projetos coletivos consolidados.
A falência da política tal como a entendemos hoje é a falência do modelo de representatividade. Políticos no país não têm observado as demandas sociais e não têm se utilizado de estratégias de conexão com as necessidades da população.
Fatores únicos à política do Brasil, tais como foro privilegiado, direitos à aposentadoria especial e a regalias do Estado têm apenas contribuído para afastar a política dos cidadãos comuns, e a cidadania amputada fica restrita a um debate superficial e a interesses muitas vezes manipulados, bem como a um diálogo raso.
Existe uma enorme diferença entre o exercício da cidadania e a múltipla profusão de ideias em redes sociais. Ao usuário das redes resta a ilusão de que, ao ter a sua opinião veiculada, está automaticamente fazendo política. Mas a política não se exerce fora do campo de decisão, e não existe decisão de âmbito público sem o envolvimento do Estado.
Assim, ao Estado cabe optar entre atender a interesses de ordem particular ou coletiva, não havendo meio-termo. A ordem Republicana nos faz crer que os interesses públicos devem se sobrepor aos interesses individuais, mas a nossa realidade tem sido inversa.
Interesses privados marcaram a ocupação do território e marcam dramaticamente a segregação social que na nossa cidade implica em que milhares de famílias vivam em situação de sub moradia, ou em situação de desamparo em função da falta de infraestrutura de transporte, educação e saúde, por conta de planejamento urbano feito para privilegiar o lucro de alguns em detrimento à qualidade de vida de muitos.
Falta de visão, desinteresse, obtusidade e desrespeito marcaram o planejamento de Marília e, se não houver mudanças, isso continuará.
O resgate da cidade ocorrerá pelo interesse real do poder público através da nomeação de quadros profissionais que assumam para si a responsabilidade da política, pelo envolvimento dos conselhos municipais, pelo respeito à participação social.
Enfim, por uma política que seja menos midiática e mais efetiva em relação às questões mais sérias da nossa cidade. A questão da mobilidade no Brasil é também uma questão de desigualdade a acesso e, consequentemente, uma questão crucial no desenvolvimento da cidade.
Faz-se necessário, ao gestor, uma governança que resgate a confiança da população através do estabelecimento de metas claras, de prestação de contas a partir dos planos de governo, de métricas tangíveis cujos resultados são naturalmente compartilhados e cotidianamente debatidos com a população, assim como um envolvimento com as questões daqueles que têm menos acesso aos equipamentos públicos e menos inclusão social. Transparência se faz palavra do dia, não se trata mais de uma opção; transparência é requisito básico da República.
Que a política seja assim: menos entretenimento e mais resultado, menos jogos de vaidades e mais trabalho sério do governo e da sociedade pelo bem comum.