Indicado por Francisco, bispo de Marília mantém perfil conservador

Falecido na segunda-feira (21) aos 88 anos, o Papa Francisco marcou seu pontificado nos últimos 12 anos por iniciativas como maior protagonismo feminino, o aprofundamento no diálogo inter-religioso e a bênção a casais do mesmo sexo.
Tais iniciativas, consideradas progressistas na comparação com outros papas da Igreja Católica, não foram necessariamente seguidas por seus representantes nas mais de três mil dioceses espalhadas pelo planeta – inclusive, na de Marília.
Um dos dois primeiros bispos nomeados pelo papa Francisco no Brasil, em maio de 2013, menos de dois meses após o início do pontificado, dom Luiz Antonio Cipolini se manteve na linha mais conservadora, desde o início de seu episcopado.
Em 12 anos à frente da Cúria de Marília, o bispo de Marília evitou se manifestar publicamente sobre os temas mais polêmicos provocados por Francisco, a exemplo da ampla maioria de seus colegas no país e no exterior.

O posicionamento é explicado, ao menos em parte, pela preferência do Vaticano, ainda que sob o papado de Francisco, da nomeação a bispo de padres com características conservadoras, ampla maioria nos seminários e nas sacristias católicas.
Inclusive na Diocese de Marília, onde a renovação do clero no bispado atual tem convivido com a ordenação de padres mais alinhados às tradições, inclusive nas vestimentas clericais, do que na simplicidade cobrada por Francisco em sua primeira encíclica.
O próprio rebanho, mais afeito à sua doutrina e à rotina litúrgica, indica o caminho que a Igreja Católica pode seguir na escolha do próximo papa, em uma eventual guinada aos rumos pastorais apontados pelo finado argentino.
CONCORDÂNCIAS
Apesar das diferenças de conduta do mesmo rebanho católico, o bispo de Marília posicionou-se em sintonia com as decisões de Francisco em alguns dos momentos mais sensíveis do pontificado encerrado na segunda-feira.
Na pandemia de 2020, quando o papa pediu ao mundo que houvesse proteção à vida em meio a tantas mortes, Cipolini decretou o fechamento das igrejas, reabrindo aos poucos, além de se posicionar a favor da vacinação, em confronto ao negacionismo inclusive de alguns católicos.
Em novembro de 2021, por determinação do papa, o bispo de Marília instalou uma comissão diocesana para o recebimento de denúncias de abusos sexuais contra menores e pessoas em situação de vulnerabilidade, seja pelo site, por e-mail, carta ou pessoalmente pela vítima.
Contados entre os preferidos por Francisco, os pobres e demais pessoas em situação de rua encontraram novas portas para atendimento no bispado de Cipolini em Marília. Atual assessor estadual da pastoral carcerária, o bispo tem visitado presídios.
Também os dependentes químicos têm recebido suporte material e espiritual de dom Luiz em entidades como a Casa Mateus 25, em Marília; a Fazenda da Esperança, em Garça e a Pousada Bom Samaritano, em Dracena.

Ainda nesta última segunda-feira, o bispo de Marília presidiu missa pela alma do papa Francisco, celebrada na catedral São Bento. Em sua homilia, discorreu sobre as mensagens do papa falecido, a quem chamou de “profeta corajoso”.
“Papa Francisco nos ensinou a amar com gestos, não apenas com palavras. Ele nos lembrou que a fé não exclui, mas acolhe. Ele parte para Deus, mas o amor que deixou permanece. Queira Deus que permaneça também no futuro da nossa Igreja Católica”, finalizou.