Advogado coloca cruzes em rotatória para homenagear vítimas da Covid
O advogado Karol Tedesque, de 36 anos, fez uma intervenção na rotatória São Francisco, em Assis (distante 75 quilômetros de Marília) e o caso gerou repercussão.
O assisense colocou 308 cruzes no gramado na madrugada de segunda-feira (7), para homenagear os moradores que morreram vítimas da Covid-19 e conscientizar a população sobre a gravidade da doença. O número de cruzes é referente ao total de vítimas que tinham perdido a vida para a doença em Assis até a data da intervenção.
Uma faixa com os dizeres “A culpa também é sua também” foi instalada – sobre isso, o advogado fez um texto (leia no final da matéria).
Tedesque fez diversas postagens em suas redes sociais com fotos da intervenção e posicionamentos sobre o assunto.
Em um deles, o morador de Assis diz que a intenção foi de homenagear os moradores da cidade que perderam a vida para a doença e fazer um apelo para que todos se cuidem.
“Uma intervenção que fiz nesta madrugada na rotatória São Francisco, uma homenagem aos 308 assisenses que perderam a vida para o vírus Covid-19 até o dia 02/06, e também um apelo para que as pessoas e as autoridades busquem mais consciência de seus atos, (sic) óbvio que muitos se curaram desse vírus malditos (sic), mas muitas famílias já foram dilaceradas e precisamos conter a disseminação dessa doença tão silenciosa, contagiante e fatal. É um apelo… (sic) agradeço a todos que me ajudaram, vocês sabem como foram importantes… Hoje minhas mãos ainda estão sujas de tinta e doloridas, mas tenho esperança que dê algo isso tudo servirá…”, escreveu em uma das postagens.
Nesta quinta-feira (10), o advogado fez outro texto falando sobre a faixa do manifesto que foi rasgada.
“Você pode rasgar a faixa, pode queimá-la, pode fazer o que bem entender… Mas você NUNCA tirará de sua memória as palavras que nela estavam escritas, (sic) se te incomodou ao ponto de destilar seu ódio, intolerância e inconformismo, o fazendo vir com seu carro ou a pé até aqui para fazer isso com ela, significa que em algum lugar aí dentro de você (sic) as palavras escritas te incomodaram e fizeram você olhar para algo aí dentro que insistia em esconder. E quando iluminamos nossas sombras acessamos pensamentos e atitudes que insistimos em negar. E isso diz muita coisa, essa faixa rasgada apenas complementa a obra…”, escreveu.
Segundo Karol, a rotatória possui câmeras gravando em todos os ângulos 24 horas por dia e é possível descobrir o autor, no entanto, ele diz não ter interesse em apurar.
“Mas confesso que não cabe a mim essa apuração e nem tenho interesse nisso, minha parte eu já fiz, e agora a obra tem vida própria não só pelas minhas mãos, mas também daqueles que não concordam comigo… Volto a dizer e insistir, respeitem as cruzes, algumas aparentemente foram chutadas no mesmo ato, mas já as arrumei agora de manhã”.
Na mesma postagem, Tedeschi diz que algumas cruzes começaram a receber flores, provavelmente de familiares, e pede respeito à população.
No último texto publicado, ainda ontem, o advogado diz que a intervenção não é mais somente dele, mas de todos e faz um convite aos moradores de Assis.
Essa intervenção não é mais minha, ela é de todos, ela é de cada um que viu nas cruzes uma homenagem, um grito, um clamor, a seus entes queridos levados pela pandemia. (…) Quero provar que o amor ainda impera, que o respeito ainda existe, que a liberdade é nossa, que pra (sic) cada ato de ódio, centenas de atos de amor. Vamos encher aquela rotatória de flores? Flores de esperança, de renovação, de amor, que cada um a seu tempo, deixe lá uma homenagem simbolizada em flores. Mas isso eu não farei sozinho, irei colocar uma única rosa, afinal como eu disse, essa arte não é mais minha, vamos juntos, colorir e demonstrar para aqueles que destilam ódio, o que significa o amor?”, diz trecho da postagem.
Veja o texto sobre a faixa na íntegra:
“A CULPA TAMBÉM É SUA!!!
Quando você se nega a usar máscara;
Quando você promove ou participa de aglomerações;
Quando você faz aquela festinha escondida “só” pra 20 pessoas na sua casa, com a ajuda de um pequeno buffet com pessoas trabalhando;
Quando você acorda com coriza ou uma pequena febre e ainda assim manda seu filho pra (sic) escola;
Quando você nega a ciência e as orientações e protocolos sanitários seguidos pelo resto do mundo;
Quando você esconde sintomas e continua indo ao trabalho;
Quando você, sem ser médico, receita tratamentos precoces aos seus conhecidos;
Quando você receita remédios sem comprovação científica (sic) mas por orientação política;
Quando você questiona a necessidade da vacina;
Quando você não usa álcool pra (sic) higienizar as mãos com frequência;
Quando você insiste naquele barzinho que não segue os protocolos de segurança;
Quando você tenta coagir o pessoal da vigilância sanitária que chegou na sua “festinha”;
Quando você fura a fila da vacina;
Quando você, patrões ou patroas, diretores ou diretoras, mantenedores ou mantenedoras, esconde de seus clientes, funcionários, colaboradores, alunos ou professores, casos suspeitos ou confirmados de COVID em sua empresa, seu negócio, sua escola, seu restaurante;
Quando você pai, mãe, ou responsável, não comunica que há casos suspeitos ou confirmados na família à escola de seu filho;
Quando você funcionário, colaborador ou professor não comunica sua empresa ou escola que teve contato com pessoa positivada ou com suspeita;
Quando você nega a ciência e coloca a vida de todos ao seu redor em risco;
Quando você sabendo de contágios e contatos em seu ambiente de trabalho não realiza a testagem em todos antes de retomar as atividades;
Quando decisões do judiciário intervêm para afrouxar decretos do Executivo para restrições de circulação no combate à pandemia;
SIM, EM TODOS ESSES CASOS E MUITOS OUTROS;
Pode ser que você nunca saiba, mas,
A CULPA TAMBÉM É SUA!!!”