‘Achei que era o doutor’, diz servidor que perdeu R$ 72 mil em golpe

Um servidor público perdeu R$ 72 mil no golpe do falso advogado, que tem enganado diversas pessoas em Marília. Na prática, o bandido utiliza o nome e fotos de advogados reais para praticar os crimes, que se repetem cada vez mais. A Polícia Civil tem registrado boletins de ocorrência e iniciado investigações na cidade.
Com 12 anos de experiência como advogado, Arthur Mechedjan jamais imaginou que um dia se tornaria alvo. A credibilidade, que levou mais de uma década para construir, foi colocada à prova por criminosos que criaram um perfil falso com sua identidade profissional e passaram a enganar clientes.
“É uma situação delicada, envolve vários escritórios e clientes. Eles são enganados. Criam outro número, com foto do pessoal do escritório e começam a entrar em contato. Usam documentos verdadeiros, que são públicos, para enganar. O escritório também é vítima. Fizemos boletim de ocorrência, mas o número continua ativo dias depois do golpe, provavelmente aplicando mais fraudes”, relatou Mechedjan.

A estratégia dos golpistas é bem planejada. Eles obtêm documentos de processos judiciais, criam perfis falsos de advogados e se passam por representantes legítimos para convencer as vítimas de que têm valores a receber. Em seguida, induzem os alvos a fornecerem dados bancários ou fazerem transferências para contas fraudulentas.
Foi o que aconteceu com o servidor público Wellington Silva Araújo. Ele move uma ação trabalhista, acreditou que tinha vencido o processo e acabou caindo em um golpe que drenou suas economias.
“O rapaz entrou em contato, postando documentos do processo, dizendo que a ação tinha tido êxito. Para receber o dinheiro, isento de taxas e impostos, precisava fazer algumas operações. Outra pessoa me ligou para dar sequência. Achei que era o WhatsApp do doutor, mandei mensagens, conversamos pelo telefone. A partir daí, abriram uma conta falsa no meu nome e o dinheiro foi saindo para essa conta. Não tenho acesso. Nunca imaginei que fosse passar por isso. É humilhante e deixa a gente sem chão”, lamentou Wellington.

Segundo o delegado Wanderley Santos, do Setor de Investigações Gerais (SIG) de Marília, os golpistas atuam com pressa e aproveitam o momento de euforia da vítima.
“O golpe teve uma crescente no Brasil inteiro, e Marília não foi diferente. Houve um salto grande desde novembro do ano passado. Os golpistas fazem uma pesquisa prévia e identificam quem está movendo ações judiciais. Eles criam uma narrativa envolvente e pressionam pela liberação de valores, com urgência. É preciso desconfiar sempre”, contou o delegado.

Santos explicou que se alguém entrar em contato se passando por advogado, é importante confirmar pessoalmente ou por chamada de vídeo. Se caiu no golpe, o importante é coletar todas as provas, como registros de conversa, para qual conta foi enviado o Pix.
“Procure a instituição bancária para solicitar o Mecanismo Especial de Devolução (MED) e depois registre boletim de ocorrência na delegacia”, orientou o delegado.