50 anos do Caso Herzog: homenagens e tecnologia resgatam legado do jornalista

Cinco décadas após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, novas produções e tecnologias ajudam a preservar seu legado e a reforçar a importância de sua trajetória na defesa da democracia e dos direitos humanos. Herzog foi morto sob tortura no DOI-Codi, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975, após se apresentar voluntariamente para prestar depoimento ao órgão de repressão da ditadura militar. O crime mobilizou amplos setores da sociedade contra a violência do regime.
Entre as homenagens pelos 50 anos do caso, a TV Cultura exibe neste sábado (25), às 23h, o documentário A Vida de Vlado – 50 anos do Caso Herzog, que reúne fotos, filmes e documentos inéditos sobre a vida e a morte do jornalista. A estreia ocorreu na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com a presença da equipe e da família de Herzog.
Segundo Marília Assef, diretora de Jornalismo da TV Cultura, o filme resgata materiais recentemente incorporados ao acervo do Instituto Vladimir Herzog (IVH). “Tem muita foto que o Instituto recebeu ultimamente, slides do filme que ele estava fazendo sobre Canudos. Tinha slides inéditos do Vlado, que agora foram recuperados pelo instituto”, afirmou.
O documentário também traz registros raros do culto ecumênico realizado na Catedral da Sé em 31 de outubro de 1975, um dos marcos da resistência democrática, e do descerramento do túmulo de Herzog no ano seguinte.
No domingo (26), a Praça Memorial Vladimir Herzog, no centro de São Paulo, receberá a instalação permanente Calçadão do Reconhecimento, com os nomes dos vencedores do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Entre os homenageados está o conjunto de trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), reconhecido pela defesa da comunicação pública.
Podcast ‘O caso Herzog: A Foto e a Farsa’
Outra iniciativa é o podcast O Caso Herzog: A Foto e a Farsa, do jornalista Camilo Vannuchi, que entrevista o fotógrafo Silvaldo Leong, autor da imagem forjada para sustentar a versão de suicídio. A produção inclui áudios e documentos inéditos que ajudam a contextualizar o episódio e o período da ditadura.
O jornalista Paulo Markun, amigo de Herzog e ex-colega na TV Cultura, desenvolveu ainda uma ferramenta de inteligência artificial que simula respostas com base em textos, cartas e reportagens de Vlado, utilizando voz clonada a partir de gravações originais. A tecnologia será apresentada no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP, em evento sobre IA e memória nos dias 30 e 31 deste mês.
Para Markun, as homenagens reforçam valores fundamentais. “O que levou à derrota da ditadura foi o entendimento de que pessoas que pensam diferente podem se unir em torno da ideia de que a democracia é importante e que a ditadura é inaceitável”, afirmou.
Um novo ato inter-religioso em memória de Herzog será realizado neste sábado (25), às 19h, na Catedral da Sé — 50 anos após a cerimônia que, em 1975, reuniu mais de 8 mil pessoas sob a liderança de Dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel e Jaime Wright, em um dos marcos da luta pela redemocratização.