Rita Lobo diz que mundo deve comer menos carne e que veganismo é escolha
O público da Feira do Livro resistiu bravamente às baixas temperaturas se aprochegando do fogão imaginário da chef Rita Lobo na tarde deste domingo (30), no Pacaembu, em São Paulo.
Dona de um pequeno império culinário que inclui livros, cursos, vídeos e um site que atinge 5 milhões de pessoas por mês, a escritora reforçou sua defesa de que “saber cozinhar é libertador, tão fundamental quanto ler e escrever”.
Quem estava na plateia viu uma mulher carismática com minucioso controle de sua imagem, modulando com fineza o timing, os sorrisos e as frases de efeito.
Num momento mais descontraído ao fim da palestra, ela ouviu da mediadora, a colunista Isabelle Moreira Lima, da Folha de S.Paulo, uma pergunta sobre o que fazer com alguém que vive só à base de ultraprocessados. “Surra!”, exclamou, para risadas e aplausos da plateia.
Em seguida, voltou à seriedade dizendo que a melhor solução é “aprender a saber o que você está comendo”. “A consciência altera o paladar. Já para criança, simplesmente não compre o que faz mal, afinal ela só vai comer o que tem em casa.”
Logo depois, um espectador perguntou se Lobo achava que vegetarianismo era um efeito de bolha ou uma tendência da realidade. Ela respondeu não saber, soando sincera, e fez uma pequena enquete com o público.
Poucas mãos se levantaram quando ela questionou quem era vegano ou vegetariano na plateia. Mas a maioria se ergueu quando a pergunta foi se tinham diminuído o consumo de carne nos últimos dez anos.
“A orientação do mundo hoje é mesmo reduzir o consumo de carne, pela gente e pelo planeta. Hoje também existe um excesso de carne processada”, afirmou. “O vegetarianismo tem que ser uma escolha individual, afinal, aprender a assar carne foi importante para nossa evolução como seres humanos.”
“Na alimentação escolar, se não tiver carne é um grande problema. Muitas crianças vão para a escola contando com o almoço de lá”, apontou.
Lobo também criticou a moda das dietas sem glúten. “Quer turbinar sua alimentação? Esquece esse negócio de que não pode comer glúten. Isso é só para quem tem um diagnóstico médico específico. Você não precisa tirar nada da sua comida, tem é que incluir verduras e legumes.”
A chef lançou recentemente um volume de grande porte da sua marca Panelinha, em parceria com a editora do Senac, no que considera “seu livro definitivo”.
“Isso porque não imagino que vá fazer outros livros desse tamanho”, apontou, segurando o tijolão no colo, segundo ela uma culminação de toda sua obra. “Aqui tem tudo o que eu sei em 20 anos de Panelinha, em quase 30 anos trabalhando com comida.”
O que ela quer é continuar fazendo livros de recortes específicos – os próximos, adiantou, devem ser obras voltadas a crianças e um guia para “aprender a temperar as coisas”. “As pessoas ficam chocadas quando descobrem que tempero pronto é ultraprocessado. Mas o que é que eu vou fazer agora? Usar ervas e hortaliças, ué.”
A Feira do Livro continua neste domingo com mesas abertas e gratuitas com Camila Sosa Villada.
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POR WALTER PORTO