Europa teve recorde de dias com calor e estresse térmico extremo no ano de 2023
A Europa é o continente que aquece de forma mais acelerada, com temperaturas crescendo em torno do dobro da taxa média mundial. A informação é do novo relatório Estado do Clima na Europa, publicado pelo observatório Copernicus em parceria com a OMM (Organização Meteorológica Mundial).
O documento, lançado nesta segunda-feira (22), revela que 2023 foi particularmente recheado de eventos climáticos extremos na região, que enfrentou um número recorde de dias com “estresse térmico extremo”.
Os cientistas confirmaram a excepcionalidade das temperaturas registradas em 2023, declarado como o ano mais quente da história da humanidade em termos globais. Especificamente para o velho continente, a depender da base de dados – o trabalho compara diferentes informações – , o ano passado foi o primeiro ou o segundo mais tórrido.
O documento destaca que, em 11 dos 12 meses do ano, as temperaturas médias na Europa ficaram acima da média. O último setembro foi o mais quente já catalogado no continente.
Em diversos pontos do território europeu, houve registros de secas e de ondas de calor, muitas vezes seguidas de incêndios florestais. Houve ainda regiões com cenário oposto, onde chuvas acimada da média, muitas vezes concentradas em um curto espaço de tempo, também provocaram grandes inundações.
A Europa teve, no passado, precipitações cerca de 7% acima da média. Ao longo de 2023, o caudal dos rios de um terço da rede fluvial do continente excedeu o limiar de cheias “altas”, enquanto 16% ultrapassaram a barreira de cheias “severas”.
“Em 2023, a Europa testemunhou o maior incêndio florestal já registrado, um dos anos mais chuvosos, ondas de calor marinhas graves e inundações devastadoras generalizadas. As temperaturas continuam a aumentar, tornando nossos dados cada vez mais vitais na preparação para os impactos das mudanças climáticas”, disse Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Alterações Climáticas (C3S) do observatório Copernicus.
O novo relatório confirmou ainda algo que muitos europeus – em particular os adeptos do esqui e do snowboard – já relatavam: a redução da neve no continente.
Em 2023, uma boa parte da Europa teve menos neve do que a média, com destaque para a região central do continente e para os Alpes, que tiveram uma perda “excepcional” de gelo glaciar.
Em 2022 e 2023, principalmente devido à acumulação de neve abaixo da média no inverno e ao forte derretimento no verão associado às ondas de calor, os glaciares dos Alpes perderam cerca de 10% do seu volume.
O relatório evidencia a tendência de aquecimento acelerado na Europa, que teve seus três anos mais quentes desde 2020. Todos os anos que integram o ranking dos dez mais abrasadores foram desde 2007.
“A crise climática é o maior desafio de nossa geração. O custo da ação climática pode parecer alto, mas o custo da inação é muito maior”, disse Celeste Saulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial. “Como este relatório mostra, precisamos aproveitar a ciência para fornecer soluções para o bem da sociedade.”
As altas temperaturas já provocam prejuízos à saúde dos europeus. Nos últimos 20 anos, a mortalidade relacionada ao calor aumentou 30%.
Ainda não há estimativas precisas para as mortes relacionadas às ondas de calor ocorridas em 2023. No entanto, segundo a OMM, entre 55 mil e 72 mil pessoas morreram durante esses fenômenos em 2003, 2010 e 2022.
“A exposição prolongada ao estresse térmico pode exacerbar condições de saúde existentes e aumentar o risco de doenças relacionadas ao calor, como exaustão por calor e insolação, especialmente entre populações vulneráveis”, ressalta o relatório.
Entre as poucas notícias favoráveis apresentadas pelo documento, o crescimento das energias renováveis é o maior destaque. Em 2023, essas fontes representaram 43% da geração de eletricidade no continente, uma proporção recorde. Em 2022, elas responderam por 36%.
O aumento das tempestades entre outubro e dezembro contribuiu para o crescimento acima da média da produção de energia eólica. Já as grandes precipitações, que encheram o fluxo de vários rios no continente, favoreceram as hidroelétricas.
Pelo segundo ano consecutivo, a produção de energia a partir de fontes renováveis na Europa ultrapassou a produção utilizando combustíveis fósseis.
POR GIULIANA MIRANDA