Azeite de oliva vira artigo de luxo e ganha lacres antifurto em supermercados
A alta no preço do azeite de oliva fez o produto virar artigo de luxo no mundo todo. No Brasil, supermercados já o tratam como tal: em algumas redes, os vidros do produto levam lacres de segurança antifurto, como ocorre com bebidas alcoólicas de primeira linha, cosméticos e eletroeletrônicos.
A imagem surpreende quem antes tinha o azeite como um ingrediente do dia a dia. “Azeite vale ouro no Brasil. Acabei de chegar do mercado, e as garrafas têm até lacre de segurança”, escreveu um usuário do X, ex-Twitter.
Na rede social, há uma enxurrada de imagens do produto lacrado, ainda que a medida de segurança não tenha virado uma política oficial das redes de supermercado.
Os relatos dos usuários começaram em 2022. A medida já foi vista em uma unidade do supermercado Sonda, na Penha, zona leste de São Paulo, e em uma loja do Atacadão em Vitória, capital do Espírito Santo.
No Rio de Janeiro, os lacres apareceram no Extra do Largo do Machado, no Catete, bairro da zona sul, e no Assaí Atacadista do Shopping Carioca, na zona norte fluminense.
O lacre tem sido usado também no país que é o maior produtor mundial de azeite, a Espanha. Lá, os supermercados estão trancando com correia, chave e cadeado – os vidros do produto. As garrafas têm preço médio de 14,5 euros (US$ 15,77 ou R$ 77,25), um aumento de 150% nos últimos dois anos.
No Brasil, dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação, apontam que, de 2020 para cá, o azeite ficou 44,23% mais caro. Só no ano passado, o aumento chegou a 24,7%, segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
A alta do preço levou a uma maior incidência de furtos – e também de operações para confiscar azeites falsificados ou impróprios para consumo.
O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) interceptou uma carga de 20.400 litros de azeite falsificado vindos da Argentina no início de março, dentre outros movimentos coordenados pela pasta. A Polícia Civil do Rio de Janeiro fechou uma fábrica clandestina do óleo de cozinha, também no mês passado.
Até receitas tradicionais têm mudado de cara. Restaurantes portugueses e espanhóis estão reinventando – ou encarecendo – o cardápio. Na Páscoa, o bacalhau, outrora o item mais caro da cesta, virou uma estrela solitária.
“O azeite está caro no mundo todo, já que as altas temperaturas e a escassez hídrica afetaram a produtividade das oliveiras dos grandes produtores, notadamente Portugal, Espanha, Itália e Grécia”, disse Felippe Serigati, professor de economia e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (Fundação Getulio Vargas), em entrevista à Folha em dezembro.
A previsão é que o valor não volte aos patamares anteriores tão cedo. “As oliveiras são culturas permanentes. A árvore de hoje é a mesma de anos atrás, e uma oliveira que ficou machucada em uma safra carrega essas cicatrizes para a safra seguinte. Vai demorar para que o azeite volte ao preço normal”, afirma.
Em nota, o Sonda Supermercados e o Extra disseram que seguem padrões de proteção para produtos de alto valor agregado, os quais estão sujeitos a procedimentos adicionais de segurança e proteção.
O Assaí disse que “conta com medidas de segurança para garantir uma experiência de compra protegida, adotando práticas amplamente reconhecidas no setor de varejo e atacado, e que podem incluir a instalação de mecanismos antifurto em diferentes categorias de produtos”. Procurado, o Atacadão não respondeu até a publicação deste texto.
POR TAMARA NASSIF