Campos Neto diz que inflação cai como esperado e vê crescimento mais forte no trimestre
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a inflação no Brasil tem caído “mais ou menos” de acordo com a expectativa da instituição, apesar de os preços do setor de serviços mostrarem mais resistência, como mostraram os dados mais recentes do IPCA (índice de preços ao consumidor do IBGE).
Campos Neto também disse que o mercado financeiro tem errado nas previsões de crescimento da economia há três anos e que os dados deste início de ano devem surpreender para cima, também puxados pelo setor de serviços.
“Olhando a perspectiva de crescimento do primeiro trimestre, está parecendo que vai surpreender para cima. Essa é a nossa primeira intuição lá no Banco Central, olhando os dados de mais alta frequência. A gente vê serviços puxando bastante o crescimento”, afirmou o presidente do BC durante evento do banco BTG Pactual nesta terça (6).
Segundo ele, há um debate se as surpresas positivas no crescimento econômico nos últimos anos estão ligadas ao efeito de reformas feitas no passado. “Eu acho que tem [relação]. Acho difícil dizer que é somente efeito de um programa de transferência maior ou alguma coisa desse tipo.”
Campos Neto afirmou que o mercado de trabalho continua surpreendendo positivamente também e que os dados de inflação mostram pressões maiores em bens e serviços de setores mais intensivos em uso de mão de obra.
O presidente do BC destacou ainda que a confirmação da meta de inflação de 3% para os próximos anos pelo governo foi um marco que ajudou a reduzir as expectativas de mercado para o índice de preços.
Citou ainda queda nas expectativas de inflação implícitas em prazos mais longos, o que, segundo ele, derruba o argumento de que existe um risco de mudança de equipe no Banco Central. Campos Neto deixará a presidência do BC no final deste ano, após seis anos no cargo, e será substituído por alguém indicado por Lula.
Em relação à taxa básica de juros, que foi cortada na semana passada para 11,25% ao ano, Campos Neto disse que a taxa real está acima da vista no mundo desenvolvido, mas com uma diferença menor do que no passado, além de estar alinhada com o verificado hoje nos mercados emergentes.
Ele também destacou o dado que mede o esforço monetário, que é a diferença entre taxa de juro real e a taxa de equilíbrio, aquela que não gera nem inflação nem deflação. Segundo ele, o Brasil está novamente em uma posição acima das economias avançadas, mas, em relação aos emergentes, é a menor taxa que existe na América Latina.
Nesta terça, o BC divulgou a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), na qual a instituição destacou que o cenário doméstico tem evoluído como o esperado pelo BC, com um progresso desinflacionário relevante, mas que a incerteza internacional prescreve cautela à política monetária, frisando que ainda há um longo caminho a percorrer no retorno da inflação à meta.
***
POR EDUARDO CUCOLO