Bilionário busca imortalidade com “download” do cérebro
“Nos próximos 30 anos, farei com que todos nós possamos viver para sempre”.
A ambiciosa frase é do bilionário russo Dmitry Itskov, que promete dedicar seu tempo e fortuna para o projeto de transferir mentes humanas para um computador.
“Estou 100% confiante de que isso vai acontecer, ou não teria iniciado tudo isso”, explica Itskov, de 35 anos, que diz ter deixado o mundo dos negócios para se dedicar ao que ainda soa como um filme de ficção científica.
A morte é inevitável, pelo menos até agora, porque as células que formam nosso corpo perdem a capacidade de regeneração à medida que envelhecemos, o que nos deixa mais vulneráveis a doenças cardiovasculares e outras condições relacionadas ao processo de envelhecimento.
Itskov está investindo parte de sua fortuna em um plano que concebeu para tentar “driblar” a passagem do tempo. Ele quer usar a ciência para desvendar os segredos do cérebro humano e fazer o upload para um computador, o que livraria a mente de indivíduos das restrições biológicas do corpo.
“O objetivo final é transferir a personalidade da pessoa para um corpo completamente novo”, explica o russo, fã de ficção de científica.
Mas como ele planeja tornar o plano realidade?
O neurocientista Randal Koene, que já trabalhou no Centro de Estudos da Memória e do Cérebro da Universidade de Boston (EUA), é o diretor científico do projeto de Itskov e ridiculariza sugestões de que o russo teria perdido a noção de realidade.
“Toda a evidência que temos até agora parece dizer que (a transferência) é possível. É extremamente difícil, mas é possível. Sendo assim, você pode até dizer que alguém como Itskov é um visionário, mas não louco. Porque isso implicaria pensar que se trata de algo impossível”, diz Koene.
A possibilidade teórica a que Koene se refere está baseada em como nossos cérebros funcionam – algo que a ciência ainda não respondeu. Nossos cérebros são feitos de 86 bilhões de neurônios, células que enviam informações umas às outras por meio de descargas elétricas. Mas como o cérebro gera a mente ainda é um dos maiores mistérios da ciência, de acordo com o neurobiólogo Rafael Yuste, da Universidade Colúmbia (EUA). “O desafio é exatamente como sairmos de uma conjunção de células conectadas no interior do cérebro para o mundo mental – pensamentos, memórias e sentimentos”, explica.
Para tentar desvendar esse mecanismo, muitos cientistas tratam o cérebro como um computador. Nessa analogia, o computador recebe dados (informações sensoriais) e os transforma em resultados (comportamentos) por meio de cálculos. Este é o argumento que norteia a possibilidade teórica de transferência da mente. Se o processo cerebral pudesse ser mapeado, poderia ser possível copiar o cérebro em um computador, juntamente com a mente criada por ele.
O pesquisador, porém, é realista. “Infelizmente, estamos muito distantes de um mapeamento do conectoma humano. Para se ter uma ideia, para mapearmos o cérebro de uma mosca, podem ser necessários até dois anos. Com a tecnologia de que dispomos hoje, mapear inteiramente um cérebro humano é impossível”.
E há ainda outro desafio teórico. Mesmo que pudéssemos criar um diagrama da “fiação” do cérebro humano, a transferência da mente para um computador iria requerer a leitura constante da atividade dos neurônios.
Fonte: UOL