Moradores da Fazenda do Estado reclamam de segurança
Moradores da Fazenda do Estado em Marília estão amedrontados com o alto índice de furtos que tem assolado a região. O local está situado às margens da Rodovia Transbrasiliana (BR-153).
O Marília Notícia conversou com três moradores que relatam crimes constantes. Para eles, um dos motivos é a falta de patrulhamento e pronta resposta da polícia.
“Furtaram umas ferramentas e minhas roupas. Essa semana também entraram em um vizinho, levaram os fios. Outro vizinho também. Em outro lugar mataram um boi e levaram a carne. Em outro uma novilha. Teve um sítio que levaram seis cabritos. Está complicado”, conta um morador que prefere não ter o nome revelado.
Questionado sobre o patrulhamento da Polícia Militar, o homem afirma que “agora não está vindo fazer ronda mais. A gente liga, eles [polícia] demoram”, reclama.
O dono de uma propriedade na Fazenda do Estado, que também conversou com o MN, diz que o lote já foi alvo de criminosos três vezes neste ano.
“Cinco cabeças de bovinos foram furtadas no final de abril. Uma semana depois furtaram mais três. Foram dois furtos de animais em menos de 15 dias. Recentemente, há duas semanas teve um furto de fiação. Levaram fios dos postes e interrompeu o fornecimento de energia. Vem ocorrendo muitos furtos na região. Isso já acontece há algum tempo e cada ano que passa parece que cresce. Esses furtos ocorreram em plena madrugada. O pessoal vem na calada da noite. É difícil pegar no ato”, relata.
Conforme o proprietário da terra, falta policiamento e há extrema dificuldade na solicitação de uma viatura da Polícia Militar para atender ocorrências na região.
“Recentemente, tinha acabado de chegar na propriedade, me deparei com um vizinho arrendatário que propositalmente cortou uma cerca e invadiu minha área para colocar seus animais para comer a pastagem. Diante do flagrante, tentei solicitar uma viatura, foi de extrema dificuldade. Não consegui”, afirma.
“O que nos resta ou é resolver sozinhos ou fazer um Boletim de Ocorrência após o ocorrido para depois investigarem. Aí ficamos na estatística e, de fato, a solução nunca acontece”, reclama.
De acordo com o homem, de alguns anos para cá, ocorre uma migração de pessoas para a região da Fazenda do Estado. “A sede praticamente já é uma área tomada. O pessoal foi invadindo, construindo casas, são terrenos irregulares, sem escritura. Está se tornando uma comunidade periférica. O que está favorecendo o crime na região”, aponta.
O Marília Notícia também conversou com a vítima de uma tentativa de roubo em um sítio no dia 14 de julho. O homem – que prefere não se identificar – conta que estava com a esposa e os três filhos de sete, dez e 14 anos em casa no momento do ocorrido.
“Foi por volta da 0h40. Estávamos dormindo na hora que fomos surpreendidos pelo autores do assalto. Passaram a mão na janela do quarto e disseram ‘quem estiver aí dentro dentro, vai morrer tudo mundo'”, detalha.
A vítima conseguiu pedir socorro para vizinhos e amigos. A família só percebeu que os criminosos tinham ido embora quando o cunhado e mais algumas pessoas chegaram ao local.
Os ladrões não chegaram a levar nada da casa da vítima, mas da sede do sítio – casa do dono da propriedade – arrombaram a porta e chegaram a separar alguns objetos como gás de cozinha, ferramentas e fios de energia.
A vítima alega que esperou 1h40 para a polícia chegar. Segundo o homem, a primeira viatura que esteve no sítio não registrou o caso e foi necessário novo chamado, na manhã seguinte, para que fosse feito um Boletim de Ocorrência.
Foi a primeira vez que a família sofreu este tipo de trauma. De acordo com a vítima, as crianças estão abaladas e mal dormem à noite desde o ocorrido.
O morador diz que não se sente seguro. “Até uma viatura se deslocar de Marília até aqui demora mais de 1h30. A gente se defende como pode, ligando para os vizinhos e amigos por perto. Essa demora é muito ruim. Deveria ter uma viatura para fazer ronda noturna”, pontua.
Os moradores ouvidos também afirmam que muitos acabam nem chamando a polícia ou registrado Boletim de Ocorrência, devido à dificuldade para solicitar uma viatura ou para resolução das ocorrências.
Vale lembrar que atitudes suspeitas podem ser denunciadas através do 190 ou 197.
PM
Através de nota, a PM afirma que a região é policiada pela 3ª Companhia do 9º Batalhão de Polícia Militar do Interior.
Segundo a PM, estatisticamente, desde o início do ano de 2022, a corporação registrou na Fazenda do Estado um boletim de ocorrência de furto de fio em 21 de abril e um boletim de tentativa de roubo em 14 de julho.
O comunicado informa que em 19 de junho, as equipes policiais militares efetuaram a prisão de um acusado de homicídio nas proximidades da Fazenda do Estado e, em 13 de julho, também foi realizada a prisão de um procurado pela Justiça.
Sobre a demora para a chegada de uma viatura, a PM diz que “tendo em vista que o local supracitado dista aproximadamente 20 km da área urbana, ou seja, do setor sob responsabilidade da viatura mais próxima (Santa
Antonieta), o tempo resposta é costumeiramente maior que o de atendimento a ocorrências na área urbana.”
“O policiamento é empregado de acordo com um planejamento próprio nessa região, incluindo o distrito de Rosália e adjacências, sendo para tanto analisado os indicadores criminais e as diretrizes do Policiamento Ostensivo e Preventivo que norteiam a elaboração do Cartão de Prioridade de Patrulhamento, ou seja, locais onde há maior necessidade de patrulhamento com demandas específicas”, afirma a PM.
De acordo com o informe, “diante da solicitação de moradores e necessidades apontadas, será realizada nova avaliação para melhor e maior emprego do policiamento e patrulhamento no local indicado na demanda em questão”.
“Esclareço que a Fazenda do Estado também faz parte da área de abrangência do Policiamento Ambiental, o qual foi cientificado e informou que também intensificará o policiamento”, finaliza.
POLÍCIA CIVIL
Na Polícia Civil, os casos de furtos na região estão sendo investigados pelo Setor de Investigações Gerais (SIG). A tentativa de roubo pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
O Marília Notícia questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre a falta de solução dos crimes da região. Em 2020, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) foi alvo de furto. Até hoje não houve uma resposta para o caso.
PREFEITURA
A Prefeitura também foi questionada pelo MN sobre as áreas que estariam sendo invadidas irregularmente na Fazenda do Estado.
Em nota, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano informa que “está atenta à situação, a qual foi objeto de ajuizamento de ação civil pública pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e, neste ínterim, a divisão de fiscalização de obras tem procedido com vistorias ‘in loco’, realizou embargos administrativos, a fim de fiscalizar, instruir os autos da presente ação e cumprir com a legislação municipal”.
CPFL
A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) também foi procurada. A empresa alega não ter números referentes a quantidade de fios que já foram furtados na região neste ano e que precisaram ser repostos, mas confirma os casos.
“A CPFL Paulista informa que vem registrando, nos últimos meses, falhas e interrupções no serviço de rede elétrica na região de Marília, devido a furtos de fiações e cabos. A companhia esclarece que realiza a identificação de suspeitos juntamente com as Polícias Civil e Militar e, além disso, participa de reuniões com forças de segurança, visando intensificar a fiscalização e o combate desse tipo de furtos na cidade”, afirma.
“A CPFL Paulista ressalta também que essa atividade criminosa causa interrupção no fornecimento de energia para os clientes e transtornos à distribuidora. Por meio da sua campanha Guardião da Vida, a distribuidora reforça os possíveis riscos à integridade física da população e dos próprios praticantes de furto, uma vez que os cabos, quase sempre, encontram-se energizados, podendo causar choques elétricos”, finaliza o comunicado.