Diocese de Assis afasta padres acusados de abusos sexuais
A Diocese de Assis (distante 75 quilômetros de Marília) publicou nesta terça-feira (31) a medida cautelar que afasta os dois padres acusados de abuso sexual, por um ex-seminarista. Os crimes teriam sido cometidos quando a vítima ainda era menor de idade.
O documento, datado nesta segunda-feira (30), é assinado pelo bispo Dom Argemiro de Azevedo.
Conforme a medida, os dois padres ficam proibidos de praticarem o ministério sacerdotal. Ao fim do processo, se não houver condenação, o afastamento é revogado.
O texto considera graves as acusações feitas aos sacerdotes e é aplicado para “a garantia e proteção da Justiça; e para evitar escândalo com manifestação violenta, física ou moral”.
ENTENDA
O caso veio à tona na última semana, mas os supostos crimes teriam ocorrido há 20 anos, mas foram denunciados em janeiro de 2021 ao Tribunal Interdiocesano de Botucatu, localizado em Assis. A vítima alega que precisou passar por tratamento psicológico e psiquiátrico devido ao trauma.
O ex-seminarista encaminhou a documentação com a denúncia aos órgãos de imprensa de Assis e também a um blog de Marília. O Marília Notícia também teve acesso aos documentos.
A identidade dos envolvidos será preservada por se tratar de acusação sob investigação. Os padres apontados pela vítima continuavam atuando até os acontecimentos se tornarem públicos. Os fatos narrados na denúncia teriam ocorrido entre outubro de 2002 e o primeiro semestre de 2003.
O denunciante alega que tinha 16 anos na época, havia ingressado no seminário e acompanhava os padres em diversas celebrações.
“No outro dia ainda dormindo, acordei com o Pe. (…) ofegante forçando seu corpo sobre o meu (eu estava deitado de bruços), forçando minha cabeça contra o travesseiro com um dos braços, tapando minha boca com a mão e com a outra abaixando minha cueca e logo depois me penetrando com voracidade, como se ali não tivesse um ser humano de carne, com sentimentos e dignidade a ser ferido, apenas o objeto do seu desejo”, diz trecho do documento.
O ex-seminarista afirma que procurou um segundo padre para “direção espiritual”, já que estaria transtornado pelo ocorrido. Ele alega que o sacerdote o “ludibriou” e “disse que precisava de um mentor para estas descobertas, que o sexo era algo importante para a saúde do corpo e da mente, não era algo errado.”
O declarante conta que os dois passaram a sair juntos para “conversas e direções espirituais” e em certa noite tudo aconteceu.
“(…) ele foi me conduzindo com falas suaves, me dando um beijo e, quando me dei conta, estava na cama com ele em um quarto da casa paroquial da Catedral. Hoje sei que na verdade ele estava fazendo uso do que tinha dito nas direções espirituais para ir me conduzindo até que chegasse ao ato”, declarou.
A vítima também enviou carta ao bispo de Assis, Dom Argemiro de Azevedo. O ex-seminarista e diz que “foram anos de agonia, ideação suicida, medicamentos controlados e terapia. Tive que reformular constantemente a minha fé, pois questionava a todo tempo o Sagrado a quem eu servia com muito amor e entrega.”
No texto consta que um dos padres acusados teria ligado para a vítima após a denúncia e tentado o calar. “Na ligação, que durou 26 minutos, ele tentou me persuadir, me ofereceu uma ‘proposta concreta’ de sua parte, vulgo suborno, para que eu retirasse a queixa. Em nenhum momento negou as acusações que fiz, em nenhum momento me disse que eu estaria mentindo”, afirma.
O áudio e transcrição da ligação constam anexados ao processo de investigação. O MN apurou que a vítima registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), na útlima quinta-feira (26), para que os fatos sejam apurados também na Polícia Civil.