Sobre duas rodas, entregadores têm altos e baixos na pandemia

Jorge Luiz tem 25 anos, quatro deles ganhando a vida sob duas rodas (Foto: Divulgação)
Próteses odontológicas, calçados, alimentos, maquiagens e até animais de estimação – em caixas apropriadas – tem ajudado centenas de motofretistas de Marília a ganharem a vida sobre duas rodas. Os serviços se diversificaram e aumentaram com a pandemia.
Há pelo menos um ano, os altos e baixos tem marcado a rotina de quem trabalha no setor. Quando a pandemia começou, conta o motoboy José Eduardo Braga Leite, de 26 anos, os serviços dispararam.
“O auxílio emergencial colocou dinheiro pra circular. Muita gente procurou um conforto a mais. Sentimos o aumento na procura, teve muito serviço”, contou o motociclista, que começou sozinho na profissão e hoje tem uma agência de entregadores.
Ele define “em altos e baixos” os últimos 12 meses, tanto no volume de trabalho dos veteranos como na disponibilidade de novos entregadores, dispostos aos desafios do trânsito, para ganhar de moto.
“Muita gente perdeu emprego e está tentando ganhar a vida como entregador, mas não é tão simples assim. Não basta você ter o GPS e uma moto, tem que entender como esse serviço funciona, ter responsabilidade, atender com qualidade” constata Eduardo, que até entrega de um cão já foi chamado para fazer.

José Eduardo Braga Leite, 26 anos: ‘serviços dispararam no início da pandemia, mas tiveram queda na segunda onda’ (Foto: Divulgação)
O motoboy trabalha das 7h à meia noite, diariamente. Ele tem um filho de cinco anos e a esposa está grávida. Para o jovem, o momento exige sacrifício.
Ele aprendeu que neste segmento, o trabalhador faz seu salário. Tem melhor remuneração quem passa mais tempo na rua, trabalha de acordo com a lei e fideliza clientes e parceiros.
Além dos pequenos serviços, nesse mercado estão em disputa contratos mensais ou anuais estáveis, com empresas que necessitam dos serviços para o transporte regular de alguns objetos, serviços bancários e administrativos.
“Se você é formalizado, tem nota fiscal, consegue uns contratos melhores. Com a fase vermelha, também dá pra fazer bastante parceria para entregas de objetos diversos”, conta Eduardo.
Do táxi ao tudo
Há poucos anos, o serviço de entregas representava fatia pequena do movimento do ponto de mototaxistas administrado por Thiago Andrade dos Santos, na rua XV de Novembro, mas com o passar o tempo, o dinâmico mercado se transformou.
“Primeiro vieram os transportes de aplicativo. Caiu bastante o movimento de passageiros, começou a crescer de entregas e encomendas. Veio a pandemia e no começo teve muito serviço, abriram vagas”, conta.

Trânsito da cidade, mais vazio que o normal, favorece o fluxo das motos (Foto: Divulgação)
Durante o auxílio emergencial Thiago teve dificuldades para contratar. “Era difícil achar gente para trabalhar. Por exemplo, um casal com a mulher trabalhando, aí o governo dá auxílio para o marido… o cara esperou o benefício acabar para procurar serviço”, conta.
Sem o auxílio em janeiro, fevereiro e março, a entrega de currículos no ponto de motos que ele administra virou rotina.
“Toda hora vem gente procurando vaga, mas só contratamos com indicação e alguns casos por entrevista, quando a pessoa mostra serviço. Estamos em uma fase mais difícil, com tudo fechado e as pessoas com mais dificuldades”, avalia.
Em meio à crise generalizada, os comerciantes – não apenas do ramo de alimentos – viraram grandes aliados dos motoboys.
“Alguns heróis estão conseguindo vender, o que é bom pra gente, mas no geral está complicado para todo mundo. Aqui a nossa regra é ser solidário, não explorar ninguém na taxa de entrega. Assim, tudo mundo ganha um pouco e sobrevive”, garante.
Os ganhos sobre duas rodas variam de acordo com a experiência, foco no trabalho e horas trabalhadas. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que a média é de R$ 2 mil, com alguns casos de motociclistas que ultrapassam R$ 4 mil por mês.