“Muitos são corruptos. Ioshi não”, diz deputado ao MN
O deputado federal Walter Ihoshi (PSD) recebeu o Marília Notícia na última semana para uma entrevista exclusiva sobre diversos assuntos.
O encontro aconteceu no escritório político do parlamentar na cidade, no Centro de Marília.
Ihoshi apresentou resultados, rebateu críticas com relação a votações recentes, falou sobre reforma política e avisou: “Muitos se envolveram em corrupção. Walter Ioshi não. O eleitor precisa tomar muito cuidado, a maioria não estuda a fundo o que acontece. Para me criticar democraticamente, é preciso ouvir tudo o que tenho para falar”.
Confira abaixo o conteúdo na íntegra.
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Marília Notícia – Como o senhor vê o ódio e a rejeição em relação a política atual?
Deputado Federal Walter Ioshi (PSD) – Primeiro agradeço pela oportunidade que o MN nos dá de falar deste momento difícil para o país. Entendemos o momento. O Brasil nunca teve uma recessão tão forte, apesar de que nos últimos dias já tivemos as notícias do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrando leve recuperação nos últimos dois meses. O governo diz que está saindo da recessão, mas ainda não saiu consistentemente. Aos poucos os resultados aparecem.
De fato, essa recessão trouxe um desemprego muito grande. São mais de 13 milhões de pessoas desempregadas no país, a economia informal continua forte e até por isso é natural que nessas condições as pessoas fiquem, de fato, muito apreensivas, descontentes com o que acontece no país.
Com tudo que está sendo divulgado de forma massiva na grande imprensa a respeito da corrupção, quando você liga a televisão e em todos os momentos se vê notícias sobre corrupção. Parece uma repetição muito grande das coisas negativas que acontecem.
A população não vê o outro lado. Nos dá a impressão de que grande parte das pessoas não sabe de fato o que está acontecendo. Não sabe de fato o que acontece no nosso país. Sobretudo no que diz respeito à legislação.
Toda a classe política hoje está contaminada [por essa visão negativa]. Infelizmente o que alguns fazem repercute para todos e as eleições estão aí. 2018 é o momento em que nós temos que julgar os legisladores, os políticos que estão no mandato, e procurar a renovação. A impressão que tenho é que haverá uma grande renovação no ano de 2018 e isso tem que se dar nas ruas.
MN – O senhor acha que é contaminado pela má conduta de outros políticos?
WI – Certamente, a conduta de grandes parte dos grandes políticos, dos grandes partidos, o modus operandi entre empresários, governantes, legisladores… essa prática que vinha acontecendo não só em âmbito federal, mas estamos vendo no âmbito estadual também, como por exemplo Rio de Janeiro. Nós sabemos, até nas cidades pequenas existe essa prática.
Temos agora a oportunidade de mudar a conduta dos políticos que vinham atuando dessa forma. O país está passando por um processo de mudança. Se de um lado existe essa contaminação e boa parte dos eleitores, população, é levada de forma errada [pelos exemplos negativos], por outro lado surge o interesse da população de acompanhar a política, o que é bom.
O que eu queria dizer é que, sem política não se faz as mudanças necessárias, sem política não se faz as transformações necessárias. É por isso que a vida pública requer muita transparência, muita seriedade e contato com seus eleitores, para eles se sentirem representados.
O eleitor precisa tomar muito cuidado, a maioria não estuda a fundo o que acontece, é levado por essa grande montanha [de notícias sobre corrupção].
MN – Como fazer para o eleitor se interessar pelo que está acontecendo?
WI – Acho que isso começa na escola. Fazendo com que os jovens conheçam o que acontece na vida pública, na política. Por exemplo: na Câmara dos Deputados temos um programa que chama Estágio Visita, onde o parlamentar tem o direito de indicar dois estudantes universitários para conhecer o Legislativo. Eles ficam lá em Brasília conhecendo o trabalho dos parlamentares e, quando acaba, voltam com outra visão da vida pública, do Legislativo. Eu acredito que esse tipo de ação tem que acontecer inclusive nos municípios, onde o prefeito e vereadores podem abrir seus gabinetes, ter uma relação direta e transparente.
Quando nós tivemos aquela crise que aconteceu com a denúncia do Michel Temer todos ficaram atônitos, eu também fiquei. Não estava entendendo o que estava acontecendo naquele momento. Vim para a região logo depois, fiz contato com meus eleitores. Visitamos junto com o vereador Marcos Rezende (PSD) a região, tínhamos uma agenda pré-estabelecida, mantivemos essa agenda, para tentar explicar do nosso ponto de vista o que estava acontecendo.
Acho que ações como essa aproximam o eleitor do político. Aquele político que se afasta, com medo, é pior. Tem que partir para o enfrentamento, ir de encontro da sociedade para juntos encontrar as soluções.
MN – Michel Temer. Comente sobre sua posição diante do pedido de abertura de processo contra o presidente.
WI – Meu voto [contra a abertura de processo contra Temer naquele momento] foi no sentido de defender a estabilidade no nosso país e as reformas que precisam ser feitas, encaradas, debatidas. O Brasil precisa fazer esse enfrentamento. Estamos caminhando nesse sentido com pequenos, mas bons resultados. Caminhando para sair da recessão. O país não podia enfrentar mais um momento de instabilidade.
Não votamos para absolver ou condenar o presidente. Votamos para que o presidente possa encerrar este ciclo do mandato dele até 2018 e, lá na frente, como cidadão comum, ser investigado. Será investigado. Quis manter a estabilidade.
Infelizmente, grande parte da população, manipulada pela grande imprensa, não entendeu. Entendeu que os parlamentares estavam absolvendo o Presidente da República e não foi isso o que aconteceu. Não estamos falando de A, B ou C. Estamos falando da presidência da República. É uma instituição. A pessoa que está lá agora está enfrentando um momento importante, mas o Brasil não precisava enfrentar outra instabilidade.
As pessoas não sabem: naquele momento, se o presidente fosse afastado, estaria sendo empossado o atual presidente da Câmara, que iria chamar uma eleição indireta. Com isso o Congresso iria escolher um novo presidente da República e não eleições diretas, como muitas pessoas acreditavam.
MN – Qual sua posição a respeito das reformas? O senhor votou a favor da trabalhista e a da previdência vem logo mais, como o senhor se posiciona?
WI – Primeiro eu votei a favor da reforma trabalhista, que encaro como modernização da legislação. Há muito tempo que o país não fazia uma revisão da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), das leis do trabalho. Com o processo da inovação, internet, novas tecnologias, com nova forma de relação e trabalho, tínhamos que fazer uma revisão dessa legislação. Foi feita e trará resultado com certeza. Vai possibilitar a renovação das vagas de emprego.
A reforma previdenciária é uma necessidade do atual governo, uma necessidade do país. Ainda não temos uma definição do que vai ser votado. Não podemos nos pronunciar, pois não sabemos exatamente o que vamos votar. E não sabemos se o governo terá números suficiente de parlamentares para aprovar a reforma, dadas as circunstâncias políticas que temos.
O governo está reorganizando sua base para poder ter número suficiente [de votos dos congressistas] para poder apreciar o projeto, que poderá sofrer alterações.
MN – O senhor se destaca pelo trabalho na Saúde aqui na região. Temos previsões de mais recursos financeiros serem trazidos por emendas?
WI – Nós este ano já conseguimos trazer recursos para a Saúde, a Santa Casa de Marília já foi contemplada por indicação nossa. Projeto já foi empenhado, agora estamos esperando que o Governo possa finalmente liberar um recurso de R$ 400 mil para custeio.
Na Unimar atendemos o projeto Amor de Criança. Primeira vez que conseguimos indicar uma emenda para a Unimar. Foi no valor de R$ 150 mil. Ficamos sensibilizados com esse trabalho feito por essa entidade. Na mesma direção conseguimos liberar esse recurso.
No âmbito do Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual) conseguimos junto com o apoio do nosso prefeito, da Câmara de |Vereadores, ampliar o teto dos serviços feitos para o Iamspe. Foram R$ 2,4 milhões. Isso só na saúde em Marília.
Estamos agora tentando negociar, buscar junto com o Governo Federal, mais ambulâncias. Sabemos que o setor de ambulâncias precisa de uma atenção. Estamos buscando convênio no Ministério da Saúde… três ambulâncias que acreditamos ser possível.
MN- Parte das críticas feitas ao senhor parte de sindicatos e sindicalistas. Como o senhor lida com isso?
WI – Quando tivemos a votação do afastamento do presidente, nós monitoramos todas nossas redes sociais. No dia a dia tem um grupo de pessoas que nos acompanha com apoio ou críticas – que é natural. Nós monitoramos exatamente quando aconteceu essa votação. Antes da votação mesmo, nós percebemos um grande número de internautas que não tínhamos relacionamento nenhum entrando em nossas redes sociais, criticando, antecipadamente o voto. E após o voto continuamos monitorando.
Nós verificamos que boa parte das pessoas [que fizeram ataques virtuais] vinham de sindicatos, sindicalistas, pessoas que têm cargos no governo estadual, municipal e Federal, pessoas que têm estabilidade no emprego e são essas pessoas, grande parte que fizeram dessa ação.
Inclusive nosso escritório no dia da votação trabalhista foi cercado por manifestantes, por gente que luta pelos seus interesses. Nós acreditamos ser democrático, mas atrás desse grupo vem uma legião de outras pessoas influenciadas por essas críticas. É uma crítica para toda a classe política não somente a Walter Ioshi, ou a B, ou C.
MN – Para o eleitor, o que o senhor diria para mostrar que é diferenciado e não igual aquele que aparece fazendo coisa errada na grande mídia?
WI – Me defino como político municipalista. Estou aqui na região desde o primeiro mandato, me identifiquei com a região, fui adotado pela região, faço um trabalho de formiguinha, chego em Brasília, volto para a região, três, quatro cinco municípios por dia, mantendo contato com lideranças, eleitores, sempre de portas abertas. E esse nosso trabalho trouxe um resultado muito gratificante. Como o resultado da saúde que já falamos há pouco. O pessoal conhece a gente como deputado da saúde na região.
Me coloco como um deputado municipalista, que faz um trabalho de formiguinha no cotidiano. Em Brasília sigo atuando nas comissões. Três comissões permanentes com atuação plena. Hoje estou na Comissão de Desenvolvimento Econômico e Social, de Relações Exteriores e Defesa do Consumidor, três permanentes. E algumas especiais, a da Micro e Pequena Empresa, que vamos fazer agora a revisão do Estatuto Nacional.
Nosso trabalho como parlamentar eu diria que cerca de 70% a 80% está nas comissões, em se debruçar, aprofundar nosso conhecimento na área em que nos identificamos. Por exemplo a área econômica. É nessas comissões onde a coisa efetivamente acontece. Depois quando o projeto chega no plenário, está tudo acordado pelos grandes líderes.
O Walter Ioshi não é um parlamentar polêmico. Nós vemos muito deputados polêmicos que querem aparecer a qualquer custo, seja nas redes sociais, seja na grande imprensa. Não vou citar nomes mas temos até potenciais futuros candidatos a presidente, que, por sua polêmica, conseguiram espaço. Temos até quem tatuou o nome do presidente da República para uma votação. Aquela tatuagem foi lavada e acabou. Mas pela polêmica, pelo barulho, ele se tornou um parlamentar conhecido. Bem ou mal para ele, mas ele se tornou conhecido.
Outros grandes parlamentares, de grandes partidos, que ocuparam grande cargos, tiveram envolvimento em grandes situações até de corrupção, situações que estão sendo levantadas agora. Walter Ioshi não. Walter Ioshi é um parlamentar consciente da sua missão, do seu trabalho, do seu dever. Três mandatos com muita dedicação no seu trabalho nas comissões, votando geralmente com o partido, um parlamentar de partido, que constrói o partido na região. Parlamentar com transparência que recebe as pessoas, rebate as críticas e está sempre preparado para o enfrentamento.
Temos plena consciência de que esse mandato tem sido feito com muita seriedade, transparência e agora acompanhado de bons parceiros, como o vereador Marcos Rezende, uma pessoa íntegra, a gente procura estar do lado de gente como o Marcos, como outros grandes parceiros na política, porque é vendo com que você anda, que você acaba sabendo quem é a pessoa.
MN – O senhor acha que sua postura de discrição tem mais resultado para a população?
WI – Dos 513 não dá para falar que a maior parte seja corrupto. A população fala que “basta ser político para ser corrupto”. Não. Temos outros Walteres Ioshis lá em Brasília. Temos outros bons parlamentares lá, que estão fazendo trabalho como eu, municipalistas, que têm sua bandeira, sua luta, sua área de atuação e que cuidam de sua região.
Eu acredito que amanhã, se vier uma reforma política de verdade, uma reforma política que venha trazer voto distrital, eu estou plenamente preparado para representar e lutar pela nossa região.
MN – Reforma política. Qual a visão o senhor tem sobre o melhor sistema político para o Brasil?
WI – Acredito que essa reforma política seja um paliativo, essa que está tramitando no congresso nacional será um paliativo, não terá número suficiente de parlamentares para aprovar o que foi aprovado na comissão especial. Na minha opinião, nessa visão de trabalho com os municípios, eu acredito muito no distrital.
Cada um dos 513 deputados tem uma reforma política na cabeça. Cada prefeito tem uma reforma política na cabeça. Cada cidadão acredita em uma reforma ideal. A minha reforma ideal é o voto distrital misto, onde o parlamentar vai ser escolhido pela atuação na região. O Estado de São Paulo seria distribuído em 35 regiões e cada partido indicaria o parlamentar seu para representar aquela região. E os outros 35 parlamentares [do Estado] seriam escolhidos pelo partido.
Tem a tal da lista fechada… não seria bem uma lista fechada. É uma lista pré-ordenada com parlamentares daquela lista. Aí o eleitor vai escolher o partido e não o candidato. Então um voto no partido e outro no candidato que poderá representar ele naquela região. Esse sistema talvez não seja o melhor, mas é um sistema que já funciona na Alemanha. Vejo funcionando no Japão.
Hoje infelizmente não temos partido. Temos um número muito grande de partidos. É fundamental que nessa reforma política seja conquistada a cláusula de desemprenho. Ou seja, partidos têm que ter um mínimo, 1%, 1,5%, 5% de desempenho nas urnas para que possam receber parte do fundo partidário.
Aqueles pequenos partidos que fazem negociata, esses tendem a desaparecer. Então, temos sim eu trabalhar em uma reforma política onde as pessoas possam votar nos partidos. O partido possa mostrar sua cara, seus integrantes. Ter bandeiras claras, ideologias claras. Hoje é uma grande mistura onde o eleitor não entende o que acontece na política.
MN – Sobre financiamento de campanha, como o senhor vê isso?
WI – Eu sempre fui favorável ao financiamento privado, onde pessoas físicas e jurídicas pudessem escolher seus representantes, apoiar não somente candidatos, mas também partido. Mas nas circunstâncias como estamos vendo, não vejo a médio e curto prazo a manutenção do modelo de financiamento de pessoas jurídicas. E qual empresário, qual empresa gostaria de vincular seu nome a um político nesse momento? Até um bom político?
Infelizmente não temos ambiente para que empresas possam fazer isso agora, mesmo com transparência. Ainda existe um grupo de partidos que estão tentando viabilizar o retorno da doação de empresas, mas acho muito difícil. Nos EUA, Japão, Europa, ainda existe a doação de pessoa jurídica, mas no Brasil não vejo condições [de voltar] neste momento. Está se buscando uma solução no Congresso para isso.
O fundo eleitoral é uma tentativa de substituir esse modelo, mas eu vejo muita dificuldade. A sociedade hoje não aceita mais que se retire recurso do orçamento para eleições. Não sei como vamos chegar nessa solução.
Existe hoje o fundo partidário, mas ele é muito pequeno… para fazer campanha nos modelos tradicionais vai ser praticamente inviável com o modelo atual. O parlamento está buscando uma solução, o fundo eleitoral é uma solução, mas estamos vendo que a sociedade hoje não aceita a criação disso.
MN – Uma mensagem final?
WI – Agradecer a oportunidade de estar em contato com a população através do MN, que faz um trabalho excepcional, trazendo a verdade para nossa cidade de Marília e região. Agradecer o carinho da população e inclusive as críticas que estamos sempre estamos recebendo. Principalmente através pelas redes sociais. Não tanto no cara a cara, mas nas redes, no WhatsApp, estamos sempre recebendo sugestões.
Estamos aí fazendo esse intercâmbio, esse canal de comunicação, conversando com as pessoas.
A democracia está amadurecendo no nosso país, não estamos em uma Venezuela, nós teríamos até o risco de chegar lá, mas neste Governo que estamos, vivendo o atual Governo Federal, estamos certamente em um caminho bem diferente da Venezuela. Agradeço muito por ter me tornado um cidadão mariliense e o carinho de todos vocês.