Um quinto da população de Marília depende de benefícios

Marília vive um cenário social marcado pela alta dependência de programas públicos de transferência de renda e de serviços socioassistenciais para que dezenas de milhares de pessoas possam sobreviver na cidade.
Dados deste mês, divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, mostram que ao menos um em cada cinco moradores do município vive em situação de vulnerabilidade e depende diretamente de políticas públicas para garantir renda, alimentação, acesso a serviços e acompanhamento familiar.
Com estimativa populacional de 247.348 habitantes, segundo o IBGE para 2025, Marília tem 56.588 pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, o que equivale a 22,8% da população — pouco mais de uma a cada cinco pessoas.

Os números apontam que 23.771 famílias de Marília estão registradas no Cadastro Único. Entre elas, 6.895 famílias se enquadram na faixa de pobreza, somando 17.317 pessoas. Outras 5.862 famílias, com 16.866 pessoas, são classificadas como de baixa renda.
O conjunto desses grupos indica que mais de 34 mil moradores enfrentam algum grau de vulnerabilidade econômica — situação que exige acompanhamento contínuo da rede socioassistencial local.
Mesmo entre as famílias cadastradas com renda per capita mensal acima de meio salário mínimo, que somam 11.014 núcleos familiares e 22.405 pessoas, parte ainda acessa serviços de assistência em razão de fragilidades diversas, como desemprego, baixa escolaridade, vínculos familiares frágeis, instabilidade habitacional ou dificuldade de acesso a políticas públicas continuadas.
A situação das pessoas em situação de rua também integra o diagnóstico social do município. Marília contabiliza 296 pessoas vivendo nas ruas. Destas, 189 integram famílias inscritas no Cadastro Único, o que indica que boa parte desse público já esteve, em algum momento, em acompanhamento da rede socioassistencial — dado que reforça a complexidade do fenômeno e a necessidade de políticas articuladas de proteção social.

Bolsa Família
O Bolsa Família permanece entre os principais instrumentos de proteção social no município. Em novembro, 7.588 famílias receberam o benefício, que alcançou 20.620 pessoas, com valor médio de R$ 672,94. O repasse federal no mês totalizou R$ 4.994.534.
O levantamento aponta ainda 6.457 benefícios variáveis pagos a crianças, gestantes e adolescentes — 5.407 destinados ao público infantil e 1.050 voltados a adolescentes — reforçando o foco no desenvolvimento de famílias com filhos.

Suporte pelo Cras
Diante da demanda crescente, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania informou à Câmara Municipal que a criação de novos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) depende de critérios técnicos e de pactuação entre município, Estado e União.
Em resposta assinada pela secretária Hélide Maria Parrera, a pasta explicou que a implantação de um Cras exige diagnóstico socioterritorial que identifique áreas com alta concentração de famílias vulneráveis, de acordo com indicadores do Cadastro Único e do IBGE.
Cada unidade, segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, deve atender entre 2.500 e 5.000 famílias, ter estrutura física de 200 a 300 m², acessibilidade, salas de atendimento e equipe técnica mínima, além de garantir oferta regular de serviços como o Proteção e Atenção Integral à Família (Paif) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

A secretária destacou que a criação de novos equipamentos depende também de previsão orçamentária municipal, habilitação no Sistema Único de Assistência Social e apresentação de projeto técnico à esfera estadual para pactuação na Comissão Intergestores Bipartite.
O cofinanciamento federal, via Piso Básico Fixo e Piso Básico Variável, só ocorre após credenciamento e comprovação de capacidade de funcionamento, conforme normas vigentes.
Atendimento atual
Atualmente, Marília conta com cinco unidades do Cras, distribuídas nos bairros Leonel Brizola e Santa Antonieta, ambos na zona norte; Teotônio Vilela e Comerciários II, na zona oeste; e Paulo Corrêa de Lara, na zona sul.

As unidades atuam no atendimento social às famílias de seus territórios, em ações de fortalecimento de vínculos, prevenção de rupturas familiares, mediação de acesso a direitos, orientação, atividades em grupo e encaminhamentos para benefícios como o BPC e o Cadastro Único.
Os Cras funcionam das 8h às 17h e mantêm equipes técnicas com assistentes sociais, psicólogos, orientadores e profissionais administrativos para atendimento contínuo à população.
Com mais de 56 mil pessoas registradas nas bases federais e forte dependência de programas como o Bolsa Família, o diagnóstico social reforça que a rede de assistência tem papel estruturante na organização social do município. Ao mesmo tempo, evidencia a necessidade de ampliar a cobertura territorial dos serviços para atender o contingente de famílias vulneráveis que cresce em ritmo superior ao da estrutura instalada.