Tradicionais em Marília, bares ‘raízes’ fazem sucesso na noite
O bar é um grande exemplo de manifestação social da cultura brasileira. Atualmente, os estabelecimentos são classificados pelo próprio público, existem aqueles que são considerados “gourmet”, com cardápios sofisticados e até mesmo certa ostentação, mas grande parcela da população de Marília opta por frequentar o bom e velho “bar raiz”, onde a comida é boa e barata, o público é diversificado e a diversão é garantida.
O Marília Notícia visitou quatro tradicionais bares tradicionais na última sexta-feira (30), que estavam repletos de clientes. Apesar do tempo de chuva, os frequentadores não deixaram de ir ao local favorito para apreciar a cervejinha estupidamente gelada e comer a porção predileta.
BAR DA ÁRVORE
A primeira parada do MN foi o Bar da Árvore. O local é chamado assim, pois ostenta na calçada uma majestosa árvore preservada, que garante sombra para os clientes nas tardes de sol e traz um charme especial ao estabelecimento.
Na rua Presidente Vargas, 117, Jardim Boa Vista, bem próximo ao Centro de Marília, o Bar da Árvore nasceu com a proposta de ser uma mercearia por quilo. Depois, o estabelecimento foi transformado um bar.
Juliano Mendes da Cruz comanda o espaço do cunhado Kino há dois anos. “O fundador já veio aqui e conversou com a gente um dia. São mais de 40 anos de história, que estamos dando continuidade. Nossos principais atrativos são os espetinhos, a porção de panceta, o bolinho de bacalhau e a cerveja gelada”, afirma Cruz.
QUITANDA DO SATO
O nome pode até enganar, mas a Quitanda do Sato é um dos pontos de encontro de amigos mais tradicionais de Marília. O local recebeu o título porque no passado vendia todo o tipo de verduras e frutas. O proprietário é o Hisato Yamaguti, mais conhecido apenas como Sato. Ele conta que a família se mudou para Marília em 1966, e o pai era o responsável pela quitanda e bar da família.
O atual proprietário assumiu o negócio no início da década de 90. “Quando meu pai adoeceu, eu trabalhava no IBGE e o salário lá não era tão bom. Decidi me afastar para tocar aqui. Era uma quitanda e um boteco, mas depois de um tempo, a quitanda já não fazia frente aos supermercados da cidade e deixei só o bar. Pensei em mudar o nome para Bar do Sato, mas os amigos do futebol me convenceram a manter o nome de quitanda. Eles diziam que era melhor falar para as esposas que estavam na quitanda”, se diverte.
Com o tempo, ele aprendeu a fazer espetinhos e o sashimi, principal prato do cardápio. Quem procura a Quitanda do Sato ainda encontra peixe frito, pastel e outras opções de uma culinária típica de um “bar raiz”.
“Teve um senhor que me ensinou cortar sashimi. Eu não sabia fazer praticamente nada no início. Já tem uns 30 anos mais ou menos que corto o sashimi. Acho que é o diferencial, pois corto bem fininho. É um bar bem antigo. Tem uma moçada da minha infância, que começou a frequentar e trazer os amigos. O movimento foi aumentando, um falando para o outro. Gostaram do jeito do boteco aqui e fomos tocando”, comenta Sato.
TRINDAD’S BAR
A região Leste de Marília também abriga outro dos tradicionais estabelecimentos da cidade. É o Trindad’s Bar, do conhecido Gilvan Conceição Trindade. Atualmente com 63 anos, chegou à Marília em 1973, vindo com toda a família que morava na Bahia. Desde sempre trabalhou em bar. Hoje estabelecido já há seis anos na rua Santa Helena, 2.441.
“Praticamente toda a minha vida foi trabalhando em bar. Esse é o último deles e já estou aqui há seis anos. Nosso cardápio é muito curto. Temos uma panceta muito especial, uma mandioca com azeite e a costelinha suína. Ainda servimos espetinhos e o movimento aqui é bem grande”, conta Trindade.
O Marília Notícia visitou o local em mais um dia de casa cheia. O clima era de diversão entre os presentes, em mesas espalhadas pela área interna e externa do bar. No fogão, a panceta era preparada para servir os exigentes clientes, acostumados com a qualidade da iguaria.
“Fazemos 120 quilos de panceta por mês. É o nosso principal atrativo, além da cerveja sempre gelada. Estou muito contente com o bar, mas é muito serviço. Queria ampliar, mas ainda estou estudando como vamos fazer”, explica Trindade.
BAR DO KANASHIRO
Um dos principais redutos de estudantes universitários de Marília, que buscam boa comida com preço acessível, cerveja gelada e um ambiente agradável, o Bar do Kanashiro é um tradicional “bar raiz” de Marília.
Eduardo Massayuki Kanashiro é o proprietário e atua no ramo desde 1973. Ele começou com um bar no antigo “Morro do Querosene”, no cruzamento da rua Santa Cecília com a Nove de Julho. De lá, passou para o final da avenida da Saudade, onde permaneceu por 33 anos, sendo que há sete anos está na rua Peri, número 50, no bairro Mirante.
“Nesse ponto já são sete anos. Tem que ter muita dedicação e trabalho. São 12 ou 13 horas por dia para deixar tudo em ordem. O pessoal acha que trabalhamos só durante o horário de atendimento, mas tem muito que ser feito antes de abrir as portas. E eu adoro. É um prazer para mim”, conta Kanashiro.
Os principais pratos do cardápio do Bar do Kanashiro são a isca de frango e a tilápia, mas o cliente também pode se deliciar com o gengibre em conserva, bambu em conserva, porção de linguiças variadas e com as saborosas cachaças.
“O nosso diferencial acredito que é o atendimento, que é muito bom. Temos sempre uma cerveja bem gelada e algumas porções diferenciadas. Recebemos um grande número de clientes aqui”, pontua o proprietário do Bar do Kanashiro.
Além da área interna do bar, os clientes podem se acomodar na calçada ou ainda em um terreno e frente ao bar, bem iluminado e arejado, ideal para tomar uma cerveja em um dia de intenso calor.
BAR RAIZ
Em todos os bares visitados pelo Marília Notícia, o cardápio era feito conforme a vivência do dono e da apurada percepção sobre as preferências do cliente. O bar raiz se posiciona como ponto de encontro do bairro.
Na mesa do bar ocorrem diversas manifestações sociais e preleções filosóficas. Alguns choram as mágoas de amor e outros falam mal de alguns chefes. Neste local, democrático e acolhedor, se encontram os melhores analistas esportivos, políticos, conselheiros amorosos e consultores dos mais variados segmentos. Não que tenham qualquer qualificação para o assunto, mas não falta o mais puro e ardente desejo de compartilhar conhecimento e afeto com todos os presentes.