Skatistas pedem apoio para pista construída por voluntários
Diante das pouquíssimas opções para prática esportiva, o espaço que vem sendo chamado de “nova pista de skate de Marília” começou a ser construído por voluntários, na zona Oeste, há quatro anos – ou seja, bem antes das recentes medalhas olímpicas que o Brasil ganhou.
Oficialmente, a cidade conta com duas pistas de skate, uma na zona Norte e outra localizada dentro do Poliesportivo Tatá, na zona Sul.
Este segundo ponto, apesar de investimentos recentes, sofre com o vandalismo por parte de não praticantes do esporte, acúmulo de lixo e falta de policiamento. Um mini half – que também ficava na zona Sul – foi demolido há alguns anos.
Já a área que vem sendo ressignificada por voluntários, e passa por um movimento oposto – de revitalização sem apoio do Poder Público – fica localizada para baixo do Jardim Cavallari, na rua Marisa de Lourdes Javaroti de Souza.
Além de adolescentes e jovens adultos, que costumam se reunir sempre ao entardecer, aos fins de semana não são poucas as crianças – acompanhadas das famílias – interessadas em dar os primeiros passos sobre as rodinhas.
Em meados de 2017, o terreno, que seria de propriedade da Prefeitura, ainda servia como área de descarte irregular de resíduos da construção civil por uma multinacional falida. O espaço, que era cheio de entulho, hoje está limpo e com diversos obstáculos para manobras de skate.
Caixotes, corrimãos e até uma rampa de 45º compõem o cenário. Tudo feito com as mãos e recursos dos voluntários. Do passado, só ficou o piso de concreto. De acordo com os usuários do local, um pouco de apoio do Poder Público poderia ser de grande ajuda.
Um dos maiores problemas atuais é a falta de iluminação, que não tem como ser resolvida pelos skatistas. Quando cai a noite, fica impossível praticar o skatebording.
Mas também poderiam ser instaladas lixeiras, ser feita limpeza recorrente nas redondezas e até mesmo mais investimentos em infraestrutura, desde que com a participação dos skatistas, já que não são raras as pistas de skate planejadas por pessoas que nunca arriscaram qualquer manobra.
VOLUNTÁRIOS
O professor Silvio Feitosa, que mora nas proximidades, é um dos pioneiros na nova pista. Ele começou a retirar o entulho do local aos poucos para voltar a andar de skate, e foi inspirando outras pessoas.
“Começaram a colar outros manos para ajudar. A princípio fizemos um ou outro obstáculo de madeira, que acabaram vandalizados. Mas foram sendo construídos novos condomínios aqui por perto e o espaço está mais vigiado, acabou a degradação”, comenta Silvio.
Foi quando começaram a ser construídos os obstáculos de concreto e a instalação dos corrimãos. “A gente se organizou porque, se fosse esperar o Poder Público, seria muito difícil, demorado”.
Já existem planos para novas intervenções no espaço pelos voluntários. Mas, para Silvio, o desafio mais urgente é a falta de iluminação.
“Tem até um refletor com lâmpada em um poste, mas a energia está desligada. Quem sai do trabalho no fim do dia, tem poucas horas para andar aqui antes que escureça”, comenta o professor.
Para o professor, o skate é mais do que um esporte, evolve cultura, estilo de vida e conversa com linguagens artísticas, como música, audiovisual, grafite. “E tem esse poder transformador dos espaços”.
Vinicius Domingues também anda de skate no local e, assim como Silvio, é docente. “Essa pista representa para mim a ideia do ‘faça você mesmo’. A ideia de ocupar um espaço, revitalizar e ser dada uma utilidade. É uma satisfação enorme”.
Para Vinicius, o skate é uma filosofia de vida, mas ele explica que quando começou a praticar, há aproximadamente 20 anos, o esporte ainda era marginalizado e sofria muito preconceito. “A sociedade não aceita muito ainda, mas depois das Olimpíadas todo mundo passou a gostar”.
De acordo com Domingues, é preciso tomar cuidado com quem queira transformar o skate em uma mera competição. “Aqui é um ajudando o outro, a competição pura não é a essência. Skate é o respeito e não a torcida para que o outro caia”.
Outro frequentador da “nova pista de Marília” se identificou apenas como Gustavo. Para ele, não se pode colocar a culpa – pela falta de espaços de lazer e esporte – apenas no Poder Público.
“Existem outras formas de investimento, por parte da iniciativa privada, por exemplo. As empresas poderiam incentivar a molecada de outra forma, como criar um centro de esportes”.
Em conversa com a reportagem, os skatistas também lembraram outros grandes nomes do esporte além dos medalhistas Kelvin Hoefler e Rayssa Leal, como Bob Burnquist, Sandro Dias, Rodil Ferrugem e o bauruense Wolney dos Santos, que já esteve entre os melhores do mundo.
Além disso, existem outras modalidades do skate para além do street, visto nas olimpíadas, como o vertical, o freestyle, o downhill speed e o downhill slide, que tem Sérgio Yuppie como uma lenda viva na modalidade.
“Imagina se existisse um projeto para o ensino do skate aqui em Marília e investimento público, quantos talentos não deixariam de ser perdidos?”, questiona um dos frequentadores da nova pista.
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