Quem vai parar o STF?
Há um problema grave em curso no Brasil que precisa ser discutido com seriedade, coragem e responsabilidade: os indícios de abusos e conflitos éticos na atuação de integrantes do Supremo Tribunal Federal. E a pergunta que se impõe é direta — quem fiscaliza quem está no topo do Judiciário?
É preciso deixar algo absolutamente claro desde o início. Este editorial não questiona a atuação do STF contra os atos de 8 de janeiro. Os ataques às instituições foram errados, criminosos e precisam ser punidos. Há quem considere as penas duras demais, há quem as considere adequadas. Essa é uma discussão legítima. Mas não é essa a crítica aqui. Misturar os temas apenas confunde o debate e serve para blindar problemas que são de outra natureza.
O que está em discussão é algo ainda mais sensível: a normalização de condutas que indicam conflitos éticos claros dentro da mais alta Corte do país.
A relação profissional e pessoal envolvendo as esposas dos ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, atuando em causas diretamente ligadas a processos sob influência do Supremo, é um escárnio institucional. Talvez o mais grave seja o fato de isso ter sido, aos poucos, tratado como algo normal. Mas desde quando isso é normal? Desde quando não acende todos os alertas possíveis?
Outro episódio emblemático foi a viagem do ministro Dias Toffoli para a final da Libertadores, acompanhado de advogado ligado a um caso de grande repercussão envolvendo o Banco Master. Não se trata de uma ilegalidade comprovada, mas de um conflito ético evidente, que jamais deveria ser tolerado em um cargo dessa envergadura. A aparência de imparcialidade é tão importante quanto a imparcialidade em si — e, nesse caso, ela foi claramente violada.
O Supremo Tribunal Federal é a última instância. Não há para onde recorrer. Quando o Judiciário perde credibilidade, o dano é estrutural. A pior forma de corrupção é a do Judiciário, porque ela corrói o próprio mecanismo de contenção dos abusos. Quando a população deixa de confiar em quem deveria punir crimes e frear ilegalidades, o país deixa de ser uma democracia funcional e passa a ser terra de ninguém — ou pior, terra de quem paga mais.
A crítica ao STF não é ataque à democracia. Pelo contrário: é um alerta em defesa dela. Instituições fortes não são aquelas blindadas a qualquer questionamento, mas as que suportam escrutínio público, prestam contas e corrigem desvios.
Silenciar diante de conflitos éticos tão evidentes não é prudência institucional. É conivência. E normalizar isso é aceitar que não há mais freios no sistema.
Se o Supremo não pode ser questionado, fiscalizado ou contido, então a pergunta permanece, incômoda e necessária: quem vai parar o STF?