O Natal e as Metamorfoses da Virada
Olá, caro leitor!
Havia uma lenda na antiguidade que dizia “[…] a maioria dos seres surge a partir de outros indivíduos; mas há um certo tipo que se reproduz sozinho. Os assírios chamam-no de fênix. […] Quando já viveu por cinco séculos, constrói para si um ninho sobre os galhos de um carvalho ou na copa de uma palmeira […], edifica e acende uma pira sobre a qual se coloca, e, morrendo, exprime o seu último suspiro entre aromas. A partir do corpo desse pássaro surge uma jovem fênix, destinada a viver uma vida tão longa quanto a de sua predecessora. Quando essa nova ave já cresceu e adquiriu forças o bastante, ela ergue o ninho que está na árvore (a um só tempo seu berço e a sepultura de sua mãe) e o carrega até a cidade de Heliópolis, no Egito, depositando-o no templo do Sol” (“A Fênix” por Ovídio, retirado de “O Livro da Mitologia”- Thomas Bulfinch).
O mito da ave fênix remonta ao antigo Egito, tendo sido transmitido posteriormente aos gregos e a outras civilizações. Mesmo atualmente, não é difícil perceber a representação e o sacrifício da fênix relacionados ao novo.
Com sua coragem e força, a fênix guarda em si a esperança da renovação e da transitoriedade. Símbolo da reinvenção, deixa que se vá aquilo que foi bom, útil, belo, mas não serve mais. É passageiro. Era, portanto, representante da coragem, mas também de estados de luto e de melancolia.
Porém, sendo caracterizada por atear fogo ao seu próprio corpo para que disso venha o surgimento de uma nova ave, a fênix simbolizava a esperança, a persistência e a transformação. Representava a vitória da vida sobre a morte. E por carregar grande peso nas costas, também era conhecida por sua força.
E aqui estamos. Em geral, nossa cultura está para comemorar a data de um nascimento. Aos católicos fica reservada a crença do aniversário do nascimento de Cristo. De qualquer maneira, nos encontramos em uma época de festas e do nascimento, também, de um novo ano. Um ano se vai para a vinda de um novo. A fênix ilustra o nascimento e a natural possibilidade de metamorfose de renovação. Representa força e a necessidade do novo e de transformações.
Não pude resistir em pensar, ainda, que a ave teria tido bons encontros com a falecida e extraordinária Elis Regina, que em 1976 cantava Belchior aos quatro ventos: “no presente, a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais…”(música “Velha Roupa Colorida”).
Enfim, no último artigo conversamos sobre esperança. E trouxe aqui, para o fechamento da minha coluna deste ano, um tema que trata da renovação, da transitoriedade e das metamorfoses da vida.
Que nossos “eus” antigos possam ficar para trás para que possamos abrir espaço para o surgimento de novos “eus” nossos. Que daquilo que é velho, nasça algo melhor. Mas quem sabe, acima de tudo, novos “eus” para um novo mundo. E que venha de nós. Para todos nós.
Finalizo assim minha coluna em 2015. E a você, obrigado pela “companhia”. Farei uma pequena pausa até janeiro, dia 12.
Um abraço e boas transformações!