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Primeira mulher a governar Assis, Telma Spera (PL) assumiu a Prefeitura da cidade, que tem 101 mil habitantes, em meio a desafios urgentes. No primeiro mês de gestão, encontrou a Secretaria de Obras sem materiais básicos, a Saúde sobrecarregada e um cenário financeiro crítico, com dívidas milionárias e multas ambientais.
Telma aposta no diálogo e na organização para enfrentar os problemas e defende que a liderança feminina pode trazer um olhar mais estratégico e eficiente para a administração pública.
Em entrevista ao Marília Notícia, a prefeita detalha as dificuldades iniciais, as medidas emergenciais e os planos para reestruturar a cidade.
MN – Como está sendo este início de governo em Assis?
Telma – Estamos completando este primeiro mês de gestão de forma intensa. São dias de diagnóstico aprofundado, mas, ao mesmo tempo, de tratativas emergenciais. Algumas situações não podem esperar. É preciso tomar medidas imediatas, como a limpeza da cidade, praças e ruas. Havia muito mato, lixo e entulho espalhados. Estamos realizando mutirões para acelerar essa revitalização, não só pela questão visual, mas também higiênica, para evitar doenças.
MN – Como estavam as secretarias?
Telma – Infelizmente, encontramos a Secretaria de Obras sem materiais básicos, como cimento, pedra e areia. Além disso, tanto essa pasta quanto a Secretaria do Meio Ambiente estavam com equipamentos bastante danificados. Temos travado uma verdadeira batalha para colocar a cidade em ordem.
MN – A senhora tem experiência na Saúde. Como encontrou a área em Assis?
Telma – Outra frente que tem demandado medidas emergenciais é a Saúde, especialmente a ampliação de leitos na emergência. A situação no município é muito preocupante. A Atenção Básica não tem funcionado adequadamente e, como consequência, há um número elevado de pacientes em estado grave. Eles acabam permanecendo internados por mais tempo, o que gera a superlotação e a falta de leitos para novos atendimentos. Estamos buscando soluções emergenciais para minimizar esse impacto.
MN – Como está a cidade de Assis na área social?
Telma – A cidade tem um número elevado de moradores de rua, e estamos trabalhando ativamente para encaminhá-los a um atendimento adequado. Além disso, encontramos a Secretaria de Assistência Social sem suprimentos básicos. Não havia um único grão de arroz. Tivemos que agir rapidamente para garantir cestas básicas às famílias necessitadas, respeitando a lista de espera e o planejamento já existente.
MN – A senhora disse que algumas dificuldades já eram aguardadas e outras surpreenderam. O que mais chamou a atenção?
Telma – Eu jamais imaginei que uma gestão que se diz preocupada com o povo pudesse encerrar o ano sem garantir materiais essenciais para a nova administração. Sabíamos das dívidas, mas a falta total de mantimentos para crianças e famílias carentes foi um choque.
MN – A dívida de Assis hoje é muito grande?
Telma – Sim, é preocupante. Até 31 de dezembro, identificamos um grande volume de fornecedores com pagamentos em atraso. A dívida com a AssisPrev já alcançou um montante elevado, e ainda há multas ambientais que podem ultrapassar R$ 35 milhões. Além disso, há valores pendentes que foram deixados para o mês de janeiro. Já sabíamos que a situação seria difícil, por isso nos antecipamos e buscamos alternativas antes mesmo de assumir a Prefeitura.
MN – Está sendo feita alguma auditoria na Prefeitura?
Telma – Algumas pessoas nos questionaram sobre isso, e já temos resultados preliminares de uma auditoria contábil interna. Além dela, há outras auditorias em andamento, analisando contratos, convênios e patrimônio. Também estamos apurando os valores das multas ambientais para entender o real impacto financeiro.
MN – A cidade precisou devolver dinheiro por não ter executado projetos?
Telma – Sim, identificamos recursos que foram devolvidos ou estão prestes a ser devolvidos por falta de uso, o que é muito triste. Muitas emendas não foram aproveitadas. Temos equipes trabalhando nesses diagnósticos e só divulgaremos os resultados quando tivermos total certeza das informações.
MN – Como está sendo ser a primeira mulher a assumir a Prefeitura de Assis?
Telma – Nunca fui de pensar muito nisso. Sempre trabalhei muito e estou acostumada a desafios. Fui a primeira mulher a assumir a provedoria da Santa Casa e encarei o cargo com a mesma dedicação. Mas quando as pessoas mencionam essa conquista, me sinto honrada em representar o público feminino e espero fazer isso da melhor forma possível.
MN – Existe diferença na forma de administrar entre homens e mulheres?
Telma – Acredito que a mulher tem mais facilidade no diálogo e consegue transitar por diferentes grupos. Apesar do meu vínculo partidário, a gestão de uma cidade precisa ser suprapartidária, pautada pelo diálogo e pela colaboração. Isso não significa evitar o contraditório, mas sim saber lidar com ele. Percebo que as mulheres conseguem encontrar mais facilmente pontos de convergência, o que pode ser uma grande vantagem na administração pública.
MN – A organização feminina faz diferença na gestão?
Telma – Sem dúvida. As mulheres tendem a ser mais organizadas, cuidadosas com processos e documentação. Esse olhar detalhista e estratégico faz diferença na administração pública. Além disso, temos uma sensibilidade natural para lidar com diferentes públicos, desde crianças até idosos, o que ajuda na condução de políticas sociais.
MN – Como foi sua trajetória até se tornar prefeita?
Telma – Minha vida sempre foi pautada pela transparência, honestidade e dedicação ao trabalho. Venho de uma família simples, mas batalhadora. Cresci estudando em escola pública, fiz mestrado e doutorado em instituições públicas e sempre atuei no ensino. Além disso, trabalhei na Santa Casa e no Hospital Regional de Assis, onde implementei diversas melhorias. Minha trajetória sempre foi focada no serviço à comunidade.
MN – Como a senhora avalia a Educação em Assis?
Telma – Hoje, o município tem um dos piores índices da região. Precisamos de um diagnóstico aprofundado para entender onde estão os problemas e como melhorar a qualidade da educação para nossas crianças e adolescentes.
MN – Como foi o processo de transição?
Telma – Foi desafiador. Muitas informações só surgiram depois da posse, e tivemos que lidar com a falta de materiais, dívidas e equipamentos sucateados. Precisamos agir rápido para garantir os serviços essenciais à população.
MN – Após um mês e várias medidas emergenciais, quais são os projetos que você pretende implantar?
Telma – Estamos focados na reestruturação da rede de urgência e emergência, além de melhorias na Atenção Básica e na Saúde Mental, que é minha área de pesquisa. Precisamos ampliar o atendimento para crianças com necessidades especiais, já que mais de 500 aguardam diagnóstico.
MN – Existem outras áreas prioritárias?
Telma – Uma área que eu não te falei, mas que nós estamos trabalhando fortemente é a área do emprego. Vamos trazer novas oportunidades, em busca de investidores, para que nós possamos fornecer empregos, novas oportunidades de negócios e fortalecer também o comércio e a nossa indústria. O pequeno, médio e grande produtor. Para o pequeno produtor, a gente já reativou o programa de patrulha rural, que é o fornecimento de implementos agrícolas para o pequeno produtor, para que ele consiga minimamente desenvolver o seu cultivo.
MN – Como está sendo feito o planejamento para colocar em prática tudo que pensaram antes de assumir a Prefeitura?
Telma – Temos um planejamento para o curto, médio e longo prazo. Quando assumimos, muitas pessoas acham que os projetos começam automaticamente no dia 1º de janeiro. Aqueles possíveis, claro, colocamos em prática de imediato, mas nem tudo pode ser feito de uma hora para outra. Trabalhamos essa conscientização aos poucos, com muito cuidado, e vamos conseguir. Esse começo não será fácil. Se tivéssemos encontrado os equipamentos em ordem e materiais disponíveis, já estaríamos mais adiantados. O problema é que, até conseguirmos finalizar os processos licitatórios, há um tempo necessário. Peço que todos mantenham a calma e confiem no nosso trabalho. Eu não vim para brincar. Saí de uma situação confortável, onde conhecia exatamente o que fazia e para onde ia, para assumir um desafio inusitado e complexo. Mas aceitei porque sei que posso fazer a diferença. Vou fazer um trabalho maravilhoso.
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