Pandemia ameça empregos e causa apreensão em marilienses
São inúmeros os relatos de marilienses com medo de perderem seus empregos por conta do fechamento temporário do comércio e de boa parte do setor de serviços. A medida de contenção ao novo coronavírus foi tomada nos âmbitos municipal e estadual.
Em janeiro só no comércio local foram contabilizados 15,4 mil trabalhadores com carteira assinada distribuídos em 4,4 mil empresas. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Isso significa uma média de pouco mais de três empregados formais por estabelecimento – e só seguem funcionando aqueles considerados essenciais para a população. A indústria também não parou.
Já o setor de serviços – hoje o maior empregador da cidade – conta com 28,1 mil trabalhadores com carteira, divididos em 6,5 mil empresas. A média é de mais de quatro empregados por estabelecimento.
Vale lembrar que o Brasil vive recordes de trabalhadores informais e autônomos. Em Marília também existe um enorme contingente que se enquadra em tal condição – ainda mais vulnerável, sem direito ao seguro-desemprego ou FGTS, por exemplo.
Muitos deles acabaram se tornando Microempreendedores Individuais (MEIs). Números de dezembro de 2019 indicam 15,3 mil marilienses nesta situação, segundo a Fazenda Nacional.
Relatos
Algumas empresas que atuam na cidade, como a Paschoalotto, especializada em cobranças, já têm demitido seus trabalhadores. Inclusive por telefone, conforme funcionários e ex-funcionários ouvidos pela reportagem.
“Só na minha ala foram quatro pessoas demitidas”, disse uma pessoa que não quer se identificar. “Eu acabei de ser demitido por telefone, disseram que é por causa do vírus”, disse outro entrevistado.
Além dos desligamentos, as medidas de contenção já provocam uma onda de férias coletivas. Sindicatos ouvidos pela reportagem sem dizem “com as mãos amarradas”.
O Governo Federal tem anunciado medidas emergenciais – e também feito recuos em algumas propostas. Enquanto isso, a realidade se impõe.
Em casa, para proteger a própria saúde e de seus familiares, o pintor autônomo Everton William Valderrama, de 34 anos, fica de olho no telefone. Ele só ganha se trabalhar e espera contato com pessoas que possam contratá-lo para a pintura de imóveis fechados.
“Ninguém vai querer pintor em sua casa, com esse risco de transmissão de doença. A única esperança, como pintor, é se aparecesse uma obra. Mas isso também não está fácil, porque quem tem dinheiro não está querendo gastar”, constata.
Ele tem união estável e uma filha de sete anos do primeiro relacionamento. Por isso, já pensa em entrar no setor de entregas. “No começo do ano já é meio fraco de serviço, então não dá para fazer reserva de dinheiro. Ninguém esperava por isso”, disse o pintor.
Aos 43 anos, Raquel Bento de Souza tem uma conviteria – faz convites personalizados para casamentos e outros eventos. Mesmo tendo inventado seu próprio serviço e usar a internet como canal de vendas, ela não está livre da crise. Os eventos do semestre foram adiados.
“Eu vou aproveitar esses 15 dias, a princípio, para fortalecer minhas redes sociais. Mas se durar mais de 15 dias e os eventos do segundo semestre forem adiados também, vou partir para embalagens de ovos de páscoa e Dia das Mães e outras datas. Vou procurar me conectar com pessoas que fazem alimentos, para usar essas embalagens e continuar caminhando”, conta Raquel.
Em momentos de crise, é preciso ter sensibilidade. “Outra providência que estou tomando, no momento, é ajudar as noivas que adiaram, planejando e pausando as artes. Para as que já entregaram os convites, vamos fazer novos convites virtuais, sem custo”, disse.