Marília terá disputa eleitoral com embates internos e ideológicos

A menos de um ano do início oficial das campanhas, a política mariliense já se movimenta em torno das eleições de 2026. O cenário aponta para uma disputa pulverizada, com dezenas de pré-candidatos e uma fragmentação que pode dificultar a eleição de representantes locais.
O desafio, segundo interlocutores políticos, será convencer o eleitorado a concentrar os votos para garantir o maior número possível de cadeiras nas esferas estadual e federal.
Atualmente, o PL lidera o cenário político da região com duas figuras consolidadas: a deputada estadual Dani Alonso, eleita em 2022 com 80.337 votos, e o deputado federal Capitão Augusto, que somou 168.740 votos no mesmo pleito. Ambos já confirmaram que disputarão a reeleição e seguem como favoritos para permanecer na Alesp e na Câmara dos Deputados.

Disputa interna
Além dos embates entre campos ideológicos, há sinalização de possíveis disputas dentro do próprio grupo político do prefeito Vinicius Camarinha (PSDB). Um embate pode surgir entre Abelardo Camarinha (Podemos), pai do prefeito, e o atual vice Rogerinho (PP), ambos de centro e com influência no mesmo campo político.
Abelardo, ex-prefeito e ex-deputado estadual, confirmou que pretende retornar à Alesp, mas ainda precisa resolver pendências judiciais que o tornaram inelegível por condenação por improbidade administrativa. Caso não consiga disputar, avalia lançar sua esposa, a vereadora Fabiana Camarinha (Podemos), como alternativa do grupo.
Rogerinho, por sua vez, disse estar sendo cogitado para concorrer a deputado estadual, mas que a decisão será tomada em conjunto com o prefeito e seu partido. Sua eventual candidatura deve representar a continuidade do atual governo municipal no Legislativo estadual.
Nos bastidores, aliados avaliam que a eventual disputa entre Abelardo e Rogerinho pode dividir forças dentro do núcleo político mais próximo do prefeito. Embora o grupo tente demonstrar coesão, a definição de apenas um nome competitivo para a Assembleia Legislativa será um teste de articulação e unidade interna. Além da estrutura da máquina pública, ambos buscam colar suas candidaturas à imagem de Vinicius Camarinha, cuja gestão mantém, até o momento, avaliação positiva junto ao eleitorado.

No PSD, o ex-deputado federal Walter Ihoshi tenta retornar à Câmara após conquistar 55.027 votos na última eleição. “Estou me organizando para disputar as eleições do ano que vem como deputado federal, buscando meu quarto mandato pelo PSD”, afirmou ao Marília Notícia. Ele é o primeiro suplente do partido na Câmara.
Já no plano estadual, a vereadora Rossana Camacho, também do PSD, articula uma possível candidatura à Alesp, o que amplia a presença da legenda na corrida eleitoral.
Direita mobilizada
Na direita, a movimentação é intensa, com nomes que buscam capitalizar o movimento bolsonarista.
Garcia da Hadassa (Republicanos), candidato a prefeito em 2024 com 18.625 votos, afirma haver “grande chance” de se lançar deputado federal. Ele articula uma estrutura robusta com apoio da comunidade judaica, lideranças religiosas e empresários locais. Busca também uma “dobradinha estratégica” com outro nome da direita paulista.
Juliano da Campestre (PRD) articula novo voo político após conquistar 22 mil votos para deputado federal em 2022 e cerca de 23 mil na eleição de 2024, quando foi candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardinho (PL), representante do grupo político da família Alonso.
Assessor do deputado estadual Tenente Coimbra (PL), Juliano articula uma parceria com ele e avalia migrar para um partido “mais robusto” visando aumentar sua viabilidade eleitoral. “Marília e região precisam de dois ou três deputados federais e até quatro estaduais para garantir voz política na capital”, defendeu.

Esquerda incerta
Enquanto a direita se movimenta com intensidade, a esquerda ainda busca nomes competitivos. No momento, apenas Isis Flor (Psol) desponta como possível candidata a deputada estadual. Ela obteve 1.130 votos na eleição para vereadora em 2024, mas não foi eleita. Ganha, no entanto, relevância com a possível ausência de candidaturas próprias do PT e do PV, o que pode consolidar sua posição como principal representante da esquerda na cidade.
“É uma questão a ser decidida coletivamente e não de forma pessoal ou unilateral. Estou focada no trabalho de base que construímos enquanto Psol em Marília, na luta pela juventude no Conselho Municipal, contra o preço absurdo da passagem de ônibus, pelos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, contra a nova licitação da água e esgoto e outros movimentos de privatização”, afirmou Isis Flor.
Principal nome da esquerda nas duas últimas eleições municipais como candidata à Prefeitura, a enfermeira e ativista da causa da cannabis Nayara Mazini (Psol) segue com futuro eleitoral indefinido. Em 2020, conquistou 5.498 votos; em 2024, somou 6.414.
O Marília Notícia apurou ainda que o PT pode lançar um candidato apenas para reforçar a eventual campanha pela reeleição de Lula à Presidência da República. A continuidade da Federação PT–PV–PCdoB, que disputou as eleições municipais de 2024, segue indefinida.

Risco de dispersão
Em 2022, Marília teve sete candidaturas para deputado estadual, sete para federal e até uma ao governo do Estado — a professora Lilian Miranda (PCO). Apenas dois foram eleitos: Vinicius Camarinha (PSDB) e Dani Alonso (PL), ambos para a Alesp.
Capitão Augusto (PL), depois casado com Dani, completou o trio mariliense em Brasília, sendo o mais votado para deputado federal na cidade.
Apesar do esforço de candidaturas locais, 75% dos 20 parlamentares mais votados em Marília em 2022 eram de fora da cidade. Em 2026, a fragmentação pode se repetir — e, com ela, o risco de a cidade continuar com baixa representatividade nas instâncias de poder.
