Fintech da Ambev, Donus já tem 80 mil contas
Criada no parque de inovação da Ambev, a Donus, uma fintech que oferece maquininha e conta digital para bares, agora testa o oferecimento de crédito. A empresa afirma que tem crescimento de dois dígitos mês a mês em número de contas. Atualmente, já são cerca de 80 mil clientes e, destes, 20 mil estão pré-aprovados para testar os empréstimos. As linhas são ofertadas com recursos da própria empresa mãe e vão desde prazos maiores para o pagamento de mercadorias da Ambev, até o que a Donus chama de “crédito clean”, sem garantias.
O aplicativo tem a proposta de ser uma plataforma de gestão financeira do estabelecimento e, por meio dele, o empreendedor também paga boletos de outros fornecedores. Segundo o CEO da fintech, Mauro Bizatto, a empresa ouviu – e muito – os donos de bares na construção de seu aplicativo. As conversas determinaram desde o tamanho dos botões do app até o tipo de crédito que seria oferecido. Ele explica que esse segundo passo é possível, pois a Ambev conhece bem os dados desses bares e, com essas informações, consegue fazer propostas mais aderentes às suas realidades.
“Conseguimos saber muito do relacionamento do cliente com a Ambev. Histórico de relacionamento e de compras também. Assim, somos competitivos em taxa, mas, mais importante que isso, no tamanho da linha de crédito que a gente dá”, afirma. Ele diz que a empresa consegue oferecer valores de empréstimo maiores do que grandes bancos.
Além disso, dentre as reivindicações dos clientes, estava a concessão de mais prazo para pagar as mercadorias, o que também está em fase piloto. A empresa não revela quantos bares participam dessa primeira rodada, mas afirma que, das 20 mil contas pré-aprovadas para concessão de crédito, o índice de contratação das linhas – seja de mais prazo para pagamento ou de crédito tradicional – é dez vezes maior que o mercado.
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, nos últimos dois anos, a Ambev ficou “mais humilde” no trato com os clientes e tem, de fato, buscado ouvir mais as suas dores. Isso porque houve avanço de marcas concorrentes no mercado e, mais recentemente, a entrada de plataformas como o iFood, que começam também a oferecer, por exemplo, antecipação de recebíveis – um tipo de crédito que tem as vendas do cliente como garantia.
Ele afirma que o setor de comida e bebida têm sido cobiçados pelos negócios digitais por fornecerem dados preciosos do consumo dos brasileiros. “A Ambev já tem um conjunto importante de informações dos clientes. Assim, sai na frente do ponto de vista de conhecimento. Ela ainda arruma um jeito de ter mais liquidez, já que o dinheiro das vendas na maquininha fica na conta digital da Donus”, afirma Solmucci.
Com crédito escasso para o setor, as linhas da Ambev, diz o presidente da Abresel, são bem-vindas. Além disso, ele lembra que com a maquininha a cervejaria também tem dados sobre a venda de seus concorrentes, o que é precioso.
Para a analista da Eleven Financial Diana Stuhlberger, que acompanha de perto os números da Ambev, o esforço da companhia em dar capital de giro aos seus clientes mostra que a companhia precisa da saúde desses estabelecimentos para manter seu próprio negócio de pé. Quanto ao risco de se aventurar em algo em que não tem expertise, ela minimiza a questão: “A Ambev é muito grande. E a base de clientes é tão diversificada que diminui o risco. Se um cliente sozinho não paga, não faz diferença no todo”, afirma.
Ela e Solmucci afirmam que a falta de flexibilidade de prazos para pagamento de mercadorias é uma reclamação recorrente dos donos de bares. Assim, a fintech vem resolver um problema antigo no relacionamento destas duas partes. Por enquanto, a antecipação de recebíveis ainda não faz parte das linhas de crédito testadas pela Donus.