“Estou na minha melhor fase”, diz Jéssica Prates sobre sonho de disputar Paris 2024
Atual segunda colocada no ranking nacional de tênis de mesa, aos 31 anos, a mariliense Jéssica Prates está na melhor fase de toda a sua carreira que começou há 18 anos. Ela está se preparando para mais uma etapa do Campeonato Brasileiro, que será disputada na próxima semana, em Uberlândia, Minas Gerais. O objetivo é trazer novos resultados positivos para a cidade em que nasceu e tem orgulho de representar.
Jéssica atingiu uma maturidade no esporte que permite sonhar com voos ainda maiores. Ela já está treinando com a Seleção Brasileira da categoria e cada disputa é importante para conseguir uma das quatro vagas nas próximas Olimpíadas, que serão disputadas no próximo ano, em Paris, na França.
Ao contrário do que muitos possam imaginar, ela começou no esporte praticando o karatê. Depois disso, na escola, começou a jogar basquete, até conhecer o tênis de mesa. Com passagens pela liga de Portugal e da Espanha, a atleta conversou com o Marília Notícia, contando um pouco de sua história no esporte, sua rotina de treinamentos e competições, além dos objetivos de sua carreira.
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MN – Como você começou no esporte?
Jéssica Prates – Eu comecei no karatê, quando tinha apenas oito anos. Depois comecei a jogar basquete na escola, até que, em uma aula de Educação Física, me interessei pelo tênis de mesa, que na época conhecia por ‘ping pong’. Depois disso nunca mais parei. Abandonei o basquete e segui para o tênis de mesa.
MN – Onde você estudou?
Jéssica Prates – Estudei na escola estadual Professora Oracina Correa de Morais Rodine. Foi lá que descobri o esporte e comecei a praticar. Já tinha 12 ou 13 anos de idade. Normalmente as crianças aprendem muito mais cedo. Posso dizer que comecei tarde no tênis de mesa, mas desde então nunca mais parei.
MN – Foi nessa época que você foi descoberta pelo Nelson Machado?
Jéssica Prates – Foi sim. Todo ano tinha um campeonato escolar de tênis de mesa em Marília. Eu fui representar minha escola e o Nelson Machado me fez um convite, perguntando se eu não queria treinar profissionalmente no esporte. Comecei os treinamentos e sigo até hoje.
MN – Quais foram seus principais títulos?
Jéssica Prates – Eu já fui campeã Paulista. Já tem dez anos que não perco nos Jogos Regionais. Fui vice-campeã nos Jogos Abertos no ano passado, campeã do Brasileiro. Atualmente estou fazendo parte da Seleção Brasileira. Fui vice-campeã Sulamericana. Fiz intercâmbios em Portugal e joguei a Liga Portuguesa. Fiquei quatro anos na Espanha. Tudo pelo tênis de mesa.
MN – Você jogou quatro anos na Espanha? Quando decidiu retornar ao Brasil?
Jéssica Prates – Na pandemia eu voltei para Marília. Estava na Espanha e voltei, mas gostava muito. Lá a gente acordava tênis de mesa e dormia tênis de mesa. Eu jogava a segunda liga mais forte da Europa. Viajava toda sexta-feira e voltava segunda-feira. Treinava até quinta. Era muito puxada a rotina, mas eu amava.
MN – Qual a diferença para o esporte aqui no Brasil?
Jéssica Prates – O tênis de mesa e o esporte em si são mais valorizados na Europa. Eles investem mais, então é tudo muito mais profissional. Lá eles investem mesmo, principalmente no tênis de mesa.
MN – Como foi sua experiência na China?
Jéssica Prates – A China inventou o tênis de mesa. Fui ao lugar onde tudo foi criado. É uma experiência que levo para vida. Qualquer pessoa que começa no esporte quer fazer esse intercâmbio. Eu fiquei um mês no Japão e um mês na China, em 2015. Foi a melhor experiência da minha vida.
MN – Viu muita gente praticando na China?
Jéssica Prates – Lá na China é bem legal. Na cidade que fiquei, eram dois ginásios. Um deles tinha 100 mesas e outro com 25 mesas. Quem estava no ginásio de 25 mesas, tinha futuro no tênis de mesa. Quem estava no outro ginásio maior, com mais mesas, eram os que foram na metade do caminho ou que eles pegavam para ser sparring [a pessoa que auxilia no preparo do atleta]. Tem muito disso na China. Levam dois ou três sparrings para um atleta.
MN – É difícil enfrentar os chineses?
Jéssica Prates – Os asiáticos são difíceis de bater. Eles são muito rápidos. Os chineses são absurdos. O físico deles não tem comparação. Eu acho que nasceram para jogar tênis de mesa. Os asiáticos são muito rápidos.
MN – O estilo deles é diferente?
Jéssica Prates – Cada um tem um estilo diferente. O brasileiro tem um estilo, o europeu tem outro. Os asiáticos são os mais difíceis de enfrentar, só no futebol que não.
MN – Qual é a sua atual posição no ranking?
Jéssica Prates – Atualmente sou a número dois do Brasil na categoria mais forte, que é a categoria adulta.
MN – Isso te credencia a sonhar com Olimpíadas?
Jéssica Prates – Eu penso em disputar uma Olimpíada. Esse ano comecei a integrar a Seleção Brasileira, também nos treinamentos, que sempre acontecem em São Paulo. É muito boa a experiência. Estou vivendo isso agora. Brinco que estou na minha melhor fase, igual vinho. Quanto mais velho, melhor. O objetivo de todo atleta é disputar uma Olimpíada. Quero estar entre os melhores do mundo. Estou em 620º no mundo, mas dá para chegar.
MN – Você é uma das mais experientes da Seleção Brasileira?
Jéssica Prates – Tem gente muito mais nova. Sou uma das mais velhas da Seleção Brasileira. Tem as meninas de 18 anos, 19 anos. Treinamos também com a Seleção juvenil, com garotas de 15 e 16 anos.
MN – Quantas vezes você foi treinar?
Jéssica Prates – Esse ano eu fui duas vezes. Eles podem mandar mensagem amanhã dizendo que segunda-feira vai ter um treino da Seleção Brasileira. Nestes casos, preciso ir logo para lá. Ainda que eu moro no interior de São Paulo, não é tão longe, mas tem gente que precisa sair do Rio Grande do Sul.
MN – Qual será a sua próxima competição?
Jéssica Prates – Vou disputar agora mais uma etapa do Campeonato Brasileiro. Vai ter um campeonato de dupla mista, mas eu não gosto muito. É ruim você jogar dependendo do outro. Acho bem mais legal o individual, pois você depende apenas do seu trabalho e desempenho.
MN – Qual é a sua rotina de treinamentos?
Jéssica Prates – Minha rotina é de treino todos os dias da semana. Treino de duas a três horas por dia, fora a parte física, na academia.
MN – Você já enfrentou problemas físicos e pensou em parar?
Jéssica Prates – Nunca passou pela minha cabeça parar. Quando coloco algo na cabeça, eu vou atrás e sigo em frente. Nunca tinha sofrido com lesão nos 18 anos que jogo, mas tive uma no final do ano passado. Foi uma lesão no joelho e logo em seguida, após dois meses sem treinar, sofri um acidente de motocicleta e fiquei mais um mês e meio sem treinar. Foi muito difícil ficar em casa quase quatro meses, em um esporte que nunca tinha parado, mas está sendo o meu melhor ano. Comecei ganhando tudo. Estou em primeira no ranking paulista e vou lutar semana que vem em Uberlândia para vencer o Brasileiro.
MN – Você tem uma referência no esporte?
Jéssica Prates – Eu sempre vejo jogos das chinesas mesmo. Aqui no Brasil eu vejo a Bruna Takahashi, que está se destacando bem. Tive a oportunidade de treinar com ela. Foi muito bacana, já que ela é a 36ª do mundo. Num geral, nossa referencia é o Hugo Hoyama. Todo mundo que começa a jogar, sempre se lembra do Hugo.