Escolas recém-reabertas em Muçum (RS) voltam a ficar cobertas por lama das enchentes
Inundada pela terceira vez em um período de nove meses, a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Família Feliz está, mais uma vez, coberta pela lama das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul. O colégio que fica em Muçum (115 km da capital gaúcha) não tem previsão para reabrir.
A cidade situada no Vale do Taquari, região banhada pelo rio Taquari, também foi atingida pelas enchentes de setembro e novembro do ano passado e novamente neste ano. A escola, que atende crianças de quatro meses a quatro anos, ficou submersa em todas as vezes.
Mas seguiu de pé e, com ajuda de voluntários e ONGs que abraçaram a obra de restruturação, a unidade foi reinaugurada no dia 24 de fevereiro, adaptada para novas situações de cheia. Mesmo assim, com as novas enchentes, a escola sofreu muitos danos.
“Atingiu a estrutura, a rede elétrica e hidráulica. Nós já limpamos tudo por dentro, mas ainda não tem como retornar as atividades porque há muito reparo a fazer. Vai demandar muito tempo para deixar a escola em condições”, afirmou a secretária municipal de Educação, Jucéli Baldasso.
Segundo a secretária, o pátio do colégio foi uma das áreas mais afetadas. “Tínhamos construído uma pracinha, com grama sintética, parquinho, e foi tudo destruído. Ficou inviável das crianças utilizarem. São 30 centímetros de lodo, no mínimo, que tem ao redor e para tirar tudo isso não vai ser fácil’, disse Baldasso.
Enquanto a escola tenta se reerguer mais uma vez, os bebês e crianças serão atendidos na única outra EMEI do município, que não foi atingida pelas enchentes e tem salas disponíveis.
“Os pais precisam voltar para o trabalho, se organizar, e não tem como esperar a escola ficar pronta para retornar as atividades. Por isso, os alunos da educação infantil vão ser atendidos na EMEI Pingo de Gente”, afirmou a secretária.
A prioridade, segundo ela, será reabrir a EMEF (Escola Municipal de Educação Fundamental) Castelo Branco, que também foi novamente invadida pela água após se recuperar das inundações de setembro. As obras de reconstrução do colégio haviam terminado fazia duas semanas antes das novas chuvas que assolam o estado.
Ali estudam alunos da pré-escola ao 5º ano do ensino fundamental que, por falta de espaço, não poderiam ser realocados na outra EMEF da cidade, no Jardim Cidade Alta.
“São muitos alunos e a gente não tem outro lugar para acomodar eles. Então, nós estamos agilizando o máximo para colocar ela em condições de retorno o mais breve possível”, disse Baldasso.
Ao primeiro sinal de chuva forte, funcionários das duas escolas correram para tirar todos os itens possíveis. Na Castelo Branco, mobiliário e objetos foram levados para o segundo piso, na esperança de que o nível da água não subisse tanto.
A cidade de Muçum foi devastada pelas cheias históricas e está em estado de calamidade. Antes de setembro do ano passado, a última grande enchente havia acontecido em 1941. Nos últimos 83 anos, nenhum dos dois municípios tinha vivido algo parecido. No máximo, grandes chuvas causavam alagamentos pontuais, sem invadir residências tampouco destruí-las e arrastá-las, como tem acontecido.
O município está sem energia até hoje e a previsão é que fique mais quatro dias nessa condição. Na maioria das casas que foram inundadas, pessoas com mangueiras e lava-jato expulsam o barro de dentro. Na parte da frente, vê-se entulhos e móveis sujos de barro.
As placas de trânsito, agora, foram improvisadas com pichações em muros, que indicam o rumo dos municípios vizinhos.
A equipe da prefeitura trabalha no hospital, único local com energia, devido a um gerador. A população se aglomera nos arredores para dividir tomadas para carregar o celular e conectar na internet.
O prefeito Mateus Trojan (MDB) diz que 85% da área urbana é inundável e que o ideal seria fazer a transferência de toda essa área, mas considera a ideia inviável. Diante disso, o plano é transferir cerca 30% dos locais mais suscetíveis para regiões mais altas.
O Vale do Taquari sofreu com as enchentes pela primeira vez em setembro de 2023, quando morreram 54 pessoas. Muçum registrou o maior número de mortes: foram 20 ao todo, sendo que dois corpos não foram encontrados. Desta vez, não houve óbito.
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POR ALÉXIA SOUSA