Conflito entre Israel e Irã afeta agronegócio e preocupa

A escalada do conflito entre Israel e Irã, embora distante geograficamente, já acende sinais de alerta no agronegócio brasileiro. Em Marília, produtores e especialistas demonstram preocupação com os possíveis reflexos indiretos da guerra, especialmente no aumento dos custos de produção e no agravamento do endividamento no campo.
Embora Marília não mantenha relações comerciais diretas com os países envolvidos, o economista Junior Guedes alerta que os efeitos macroeconômicos do conflito podem atingir a região por meio da cadeia de suprimentos e da elevação de preços globais — especialmente entre os parceiros comerciais do Brasil afetados pela instabilidade no Oriente Médio.
“O motivo da guerra não nos atinge diretamente, pois estamos falando de um país acusado de financiar grupos extremistas contra outro que se sente ameaçado pelo desenvolvimento de armas nucleares. Ou seja, as razões estão muito distantes de nossos interesses locais. Mas o Brasil é afetado nas importações, pois compramos adubos, fertilizantes químicos e inseticidas — itens fundamentais na composição dos custos de produção do agronegócio. Uma guerra prolongada pode comprometer essa oferta”, explica Guedes.

INSUMOS EM ALTA
Um dos principais pontos de preocupação é o encarecimento de fertilizantes e demais insumos agrícolas. O Brasil é altamente dependente da importação desses produtos, com Israel e Irã entre os fornecedores. Israel é produtor de adubos e inseticidas, enquanto o Irã fornece ureia, insumo essencial para a agricultura.
De acordo com o economista Benedito Goffredo, o país importa cerca de 80% dos fertilizantes que consome, o que o torna vulnerável a flutuações no mercado internacional. “O conflito pode pressionar os preços, reduzir a oferta e ainda elevar os custos logísticos e de frete internacional”, alerta. Ele cita ainda o risco de aumento nos combustíveis, caso o Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial — seja bloqueado.
“O dólar tende a ser buscado como ativo de segurança, o que o valoriza frente ao real. Com o câmbio mais alto, produtos e insumos importados ficam mais caros, pressionando a inflação. Isso dificulta o controle da alta de preços pelo Banco Central e pode levar à manutenção da Selic elevada por mais tempo. Por outro lado, produtos brasileiros como soja e carne ganham competitividade no mercado externo. Mas o aumento dos custos internos — como combustíveis e fertilizantes — acaba reduzindo as margens de lucro”, avalia Goffredo.

IMPACTO LOCAL IMEDIATO
Na prática, os reflexos já são percebidos em Marília. Segundo Olavo Davini, técnico agrícola da Cooperativa Sul Brasil, os preços da ureia já subiram entre 15% e 20%, provocando apreensão no setor, que já enfrentava dificuldades financeiras.
“A ureia subiu de US$ 470 para US$ 570. O nitrato e o sulfato de amônia também aumentaram na mesma proporção. Esse impacto está sendo imediato. O problema é que muitos produtores da região estão descapitalizados, após sucessivas safras com preços abaixo do esperado em culturas como milho, soja e amendoim”, relata.
Por ora, portos e aeroportos seguem operando normalmente, e os contratos de fornecimento estão sendo cumpridos. No entanto, a continuidade das tensões pode alterar esse cenário.
Mesmo sem ser diretamente atingida, Marília começa a sentir o peso de um ambiente externo volátil. Em meio à fragilidade financeira dos produtores, qualquer oscilação internacional no fornecimento de insumos ou nos custos de produção representa uma ameaça concreta à sustentabilidade do agronegócio regional. No fim das contas, os aumentos chegam ao consumidor, que não tem como escapar do impacto no preço dos alimentos.