Abelardo Camarinha recebeu mais de R$ 140 mil do Metrô em 2019
O ex-prefeito de Marília e ex-deputado Abelardo Camarinha (Podemos) recebeu líquido, ou seja, livre em sua conta corrente, mais de R$ 140 mil do Metrô de São Paulo somente em 2019. Isso sem nunca ter efetivamente trabalhado lá em 30 anos de nomeação sem concurso público.
Os valores foram pagos entre março e dezembro, já que nos primeiros meses do ano ele ainda recebeu como deputado estadual, cargo ocupado nos quatro anos anteriores.
Ao fim do mandato, quando deveria assumir o cargo de “especialista 3” no Metrô, Abelardo foi mais uma vez emprestado para outro órgão – como aconteceu nas últimas três décadas.
Mais especificamente, ele foi cedido “sem prejuízo de sua remuneração” para o gabinete da liderança do Partido Socialista Brasileiro (PSB) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, sob o comando de seu filho, deputado estadual Vinicius Camarinha.
Abelardo saiu recentemente da legenda, como mostrou o Marília Notícia, com críticas ao PSB. Mesmo assim, ainda continua no mesmo cargo de confiança do partido no Legislativo paulista, segundo pesquisa feita nesta segunda-feira (10), quase três meses após a debandada.
A Alesp explica que devolve o dinheiro para o Metrô. Mas em breve, como sempre faz, Abelardo deve tirar novamente licença remunerada diretamente da empresa de transporte público de São Paulo – como dito, onde ele nunca trabalhou na prática.
Isso porque ele tem direito a ser bancado pelo Metrô enquanto está em campanha política.
É o que Abelardo tem feito a cada eleição que disputa, seja para deputado federal, estadual ou prefeito de Marília.
Nos últimos dias, uma decisão da Justiça Eleitoral suspendeu os efeitos de condenação em segunda instância que tirava os direitos políticos de Camarinha. Ele promete há muito tempo ser candidato a prefeito da cidade este ano.
Entenda
Em outubro de 2019, ao que parece, o político mentiu ao Marília Notícia ao ser questionado sobre sua nomeação para o cargo. Ele disse ter sido aprovado em concurso em 1989.
“O Metrô de São Paulo não realizou contratações via concurso público antes de 1990. A admissão do senhor Camarinha ocorreu em 1989, de forma direta”, respondeu o Governo do Estado após questionamento feito pelo site.
Foi necessário apelar para a Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter as explicações. Mesmo assim, não foi dada resposta para a pergunta sobre quem foi a pessoa responsável pela nomeação.
Segundo o Metrô, Camarinha foi contratado no dia 16 de janeiro de 1989 e no mesmo dia já foi cedido para a Secretaria de Estado da Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Desde a contratação são ao todo 14 afastamentos ininterruptos durante esses 30 anos. Nesse período o político foi eleito algumas vezes deputado e prefeito de Marília e o afastamento foi na modalidade não remunerada nesses casos.
Já quando não exerceu cargo político eletivo, Camarinha foi cedido pelo Metrô para órgãos públicos, como acontece agora com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que desta vez reembolsa a empresa de transporte público.
No entanto, em outras ocasiões, o político recebia do Metrô e trabalhava em outros lugares sem reembolso.
Ele também recebeu diretamente do Metrô nas ocasiões em que obteve licença para fazer campanha política.
Durante todo esse tempo, segundo o Metrô, “Camarinha desempenhou funções compatíveis com os cargos eletivos para os quais concorreu e obteve nomeação”. E o controle de frequência do político em seus trabalhos nunca ficaram a cargo da companhia.
“O controle de frequência deve ser informado pelos órgãos aonde o senhor Camarinha prestou serviço”, consta na resposta obtida via LAI.
Outro lado
Em outubro do ano passado Abelardo negou irregularidades tanto em suas nomeações para Alesp e Metrô, quanto nos valores recebidos por ele.
“Mas podem ficar sossegados que em 2020 eu serei eleito prefeito de Marília e abro mão novamente do salário no Metrô”, debochou o político na ocasião.
A reportagem entrou em contato novamente com Camarinha para comentar o montante recebido por ele em 2019. “Recebi do meu trabalho, que trabalho o dia inteiro”, afirmou.
Sobre a natureza de seu serviço e onde era prestado, o político disse que “atua por todo o Estado a serviço da liderança do PSB”.
Abelardo também declarou que continuará no cargo comissionado no PSB até sair de licença para campanha eleitoral, mesmo tendo migrado para o Podemos. “Ano que vem ou estarei na Prefeitura de Marília ou vou para o gabinete do Podemos”.
Incomodado com os questionamento da reportagem, Abelardo ainda disparou: “Eu recebi menos do que o Marília Notícia levou da Prefeitura de Marília no ano passado”. A informação não procede. O MN recebeu do poder público municipal, durante todo o ano de 2019, R$ 36.436,32 – média de R$ 3.036 por mês, para divulgar campanhas educativas, como a importância do tratamento do esgoto, respeito ao trânsito e combate à dengue, entre outros. Todos os recebimentos relativos ao jornal estão dentro da legalidade, sendo inclusive fiscalizados pelo Tribunal de Contas do Estado.