‘Cada ano é uma emoção diferente’, diz intérprete de Jesus em Marília

Após emocionar milhares de fiéis na encenação da Paixão de Cristo, realizada na Sexta-feira Santa (18), no Parque do Povo, zona sul de Marília, Vander Batistone, de 41 anos, compartilhou com o Marília Notícia a experiência de interpretar Jesus pela 14ª vez.
Com 25 anos de participação no espetáculo — que chegou à sua 29ª edição neste ano — Vander já representou outros personagens marcantes, como Judas, Tomé e o bom ladrão.
Atuando como encarregado de logística há mais de duas décadas, ele divide a rotina de trabalho com o compromisso intenso da montagem, que envolve cerca de 130 voluntários e atrai público estimado entre oito e dez mil pessoas.
Neste ano, a apresentação trouxe novidades como três cenas inéditas retratando milagres. Em entrevista concedida dias antes da apresentação, Vander falou sobre fé, preparação e o impacto de viver um dos papéis mais simbólicos do cristianismo.

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MN – Qual é a sua profissão?
Vander – Eu sou encarregado de logística.
MN – Há quanto tempo você atua nessa área?
Vander – Já são 22 anos.
MN – E na encenação da Paixão de Cristo, há quanto tempo você participa?
Vander – Da encenação da Paixão de Cristo já são 25.
MN – Quais papéis você já interpretou ao longo desses anos?
Vander – Na encenação já fui o bom ladrão, já fui Judas, já fui Tomé. Este é o 14º ano que eu faço o papel de Jesus.
MN – O papel de Jesus é mais desafiador ou emocionante que os demais?
Vander – Muito mais. A responsabilidade é maior. Numa encenação não é só Jesus. É um conjunto, mas o papel de Jesus é o mais observado. A referência que a gente tem é Jesus, né? Eu acho que a importância de todos os papéis é igual, mas Jesus tem maior destaque.
MN – Como você passou a interpretar Jesus?
Vander – Tudo que você faz na vida, eu acho que você tem que fazer com amor e dedicação. Quando você vai fazer um teatro, qualquer outra coisa, você dá o seu sim, você tem que entregar de corpo e alma. Isso serve na vida conjugal, na vida profissional. As pessoas que fizeram Jesus antes de mim saíram e então o pessoal perguntou se eu queria fazer. Eu aceitei e já são 14 anos.

MN – Você sente frio na barriga mesmo depois de tantos anos no papel?
Vander – Eu vou falar para você que, para mim, é como fosse o primeiro. Outras pessoas já me perguntaram, mas assim, como é o 14º ano que você faz, não é a mesma coisa? Não é a mesma emoção. Cada ano é uma emoção diferente. É uma emoção inexplicável. Não tem como eu te falar ou medir a emoção que é. Vai chegando nessas épocas, a adrenalina é grande e eu vou ficando emotivo.
MN – Você trabalha durante todo o dia e de noite ainda vai ensaiar?
Vander – O meu horário no trabalho é até às 18h18. Chego em casa por volta de umas 19h e depois descemos para cá. Ficamos ensaiando até 22h30 ou 23h. Nesses dias que antecedem, ficamos a semana inteira.

MN – Como é a sua preparação para o papel?
Vander – Você tem que se preparar um pouco mais do que os outros. Psicologicamente, fisicamente e mentalmente, com espiritualmente. Precisa se concentrar um pouco mais. Na sexta-feira eu tento me concentrar, ficar mais reservado, pedindo a proteção. Acho que a gente tem que tá um pouco mais reservado.
MN – Sua família participa da encenação com você?
Vander – Acompanha. Meu filho vai ser um anjo do sepulcro. Meu pai é Pedro. Eu tenho um menino de dois anos que já foi o menino de Jesus. Só a minha esposa e minha mãe que não atuam, mas trabalham ajudando por fora.

MN – Houve alguma novidade na apresentação deste ano?
Vander – Esse ano temos três cenas novas, que é a parte dos milagres. São três cenas de milagres. Nos outros anos a gente tinha uma cena só no meio do pessoal. A gente sentiu que precisava se aproximar mais do público, sentir a emoção do público. Tem sempre uma novidade.
MN – Quantas pessoas integram a encenação atualmente?
Vander – Umas 120 ou 130 pessoas, mais ou menos. São de 80 a 100 atores. Mais umas 30 pessoas mais ou menos, entre serralheiros, costureiras e outras pessoas que ajudam. São todos voluntários. Fazemos com amor. É um trabalho voltado diretamente à evangelização. O pessoal ainda precisa um pouco de Jesus no coração. O amor que ele teve por nós na cruz.
MN – Os voluntários são todos da zona sul?
Vander – Tem gente até de cidades vizinhas. Esse ano a gente tem uma voluntária de Oriente. Temos pessoas do Jardim Itaipu, do Jardim Santa Antonieta e de vários pontos da cidade. Claro que a maioria é daqui da zona sul. Temos pessoas da cidade inteira.
