Alta em produtos básicos obriga consumidores a reduzir lazer
Com aumento no custo dos combustíveis, telecomunicações, alimentos básicos, produtos de higiene e limpeza, além das tarifas administradas – energia, água e gás – o mariliense tem cada vez menos espaço no orçamento para o lazer. Os passeios ficaram mais raros, para lugares mais próximos.
Os cortes atingiram o motorista Marcos Costa e a esposa, Ariane de Oliveira Pedroso. Ele conta que o casal parou de sair para comer fora à noite, um hábito que era cultivado há muito tempo. Ao invés disso, eles fazem refeições mais elaboradas aos finais de semana em casa, com gasto menor.
“Parei de comprar carne, alguns legumes. Cada dia que passamos no supermercado, vemos as coisas ainda mais caras, um absurdo. Tem que ter criatividade para tentar comer melhor, em casa mesmo, sem passeio”, relata o motorista.
A servidora municipal Ellen Matsuchita considera ser vital a busca de lazer. Ela conta que a estratégia foi procurar opções bem perto, para gastar menos combustível e até driblar a necessidade de hospedagem.
“É bate e volta. Tem muitas opções em cidades próximas, que a gente consegue ir aproveitar o dia. Subiu tudo, combustível, alimentação, o acesso a lugares que cobram entrada, mas, pelo menos uma vez por mês, sinto essa necessidade, com meu filho e amigos”, conta.
Ellen sugere, como destino, algumas localidades como Tupã, onde o visitante pode encontrar parque aquático mais perto de casa; Ribeirão Claro, com vistas deslumbrantes a menos de 150 quilômetros, ou Águas de Santa Bárbara (160 quilômetros de Marília), para um final de semana.
Se ainda assim a despesa não couber no orçamento, o melhor é ficar em Marília e tentar algum lazer com gratuidade, para encerrar a semana. Nas férias, ao invés de praia, melhor para o bolso é se manter no interior.
É DE GRAÇA
Para Gilberto Rossi Júnior, assessor do Marília e Região Convention & Visitors Bureau (MRC&VB), fazer as pessoas circularem na própria região ou até mesmo dentro da cidade, já é uma conquista, em uma fase tão crítica.
“Estamos trabalhando para reforçar o lazer gratuito, porque você acaba movimentando de alguma forma a economia, o prestador de serviço, os restaurantes, os estabelecimentos rurais. O município está investindo em opções que tenham gratuidade”, disse.
Entre estas apostas, cita o gestor de turismo, estão a reforma do Bosque Municipal, a entrega do Museu de Paleontologia, a retomada das atividades culturais e a criação de trilhas de cicloturismo, que podem beneficiar empreendedores nas rotas.
“Parte das pessoas que viajavam para o exterior, não vai viajar no Brasil. Outra parte, sim, vai para o Nordeste. A classe média baixa, as pessoas com menores rendimentos, ficam entre as opções locais, ou até deixam de sair de casa, o que é muito ruim. Por isso a cidade tem que promover atrações”, destacou Rossi.
O assessor do MRC&VB, que trabalha com foco no turismo receptivo, vê o cenário com preocupação, mas alerta que o pior dos cenários é a paralisia. É preciso, segundo ele, “movimentar as águas”, ainda que seja com ações mais simples.
Gilberto Rossi estima que, a exemplo de outras cidades, o setor de hotelaria teve grandes perdas nos últimos dos anos. Pelo menos 150 dos cerca de 1350 quartos de hotel que a cidade tinha até o início de 2020 foram desativados. “Temos que trabalhar muito pela retomada”, ressaltou.