Daniel Alonso avalia começo de governo em Marília
Eleito em outubro de 2016, Daniel Alonso (PSDB) assumiu a administração de Marília em 1º de janeiro.
Passados 100 dias, o prefeito diz que a escassez de recursos é o principal complicador, até momento.
Na entrevista ao Marília Notícia, Alonso fez um balanço dos primeiros 100 dias de gestão. Ele falou sobre saúde, educação, coisas que lhe incomodam, servidores, cargos comissionados e metas.
Confira a entrevista na íntegra abaixo:
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Marília Notícia – Como o senhor avalia os 100 primeiros dias da sua gestão? Encontrou muitas dificuldades?
Daniel Alonso – Olha, dizer que não encontramos dificuldades seria mentira. Encontramos muitas dificuldades. Mas não gosto de falar isso. Inclusive o pessoal me cobrou muito nesses 100 dias que eu não estava mostrando como encontrei a Prefeitura.
De tantos pedidos dessa natureza acabei colocando alguns veículos sucateados no desfile de 4 de abril e acabei sendo criticado. Era apenas uma simbologia. Embora estejamos bastante otimistas com a gestão, é importante sempre lembrar do momento delicado que passamos, principalmente nas finanças do município.
O desafio é grande mas a motivação está na mesma altura. O grande problema nosso até agora foi organizar essas finanças. Pegamos muitas, mas muitas dívidas mesmo.
Conseguimos compor com os principais fornecedores, principalmente essenciais como na área da saúde. Regularizamos o pagamento da UPA, da Gota, da Santa Casa e alguns outros convênios. Pegamos os postos sem remédios e aos poucos isso vai se regularizando. O mais básico já colocamos em ordem.
Falando de saúde. A grande mudança que iremos proporcionar na rede básica de atendimento é fazer com que as unidades de família funcionem de fato. Até então elas não funcionavam dentro da visão e estratégia de saúde da família. Hoje temos 37 USF (Unidade de Saúde da Família) e 12 UBS (Unidade Básica de Saúde).
A ideia é chegar a 41 USF. As UBS eu quero transformar em mini AMEs (Ambulatório Médico de Especialidades), ela precisa ser a referência da USF. É um trabalho que vai melhorar muito o atendimento da população. Já começamos e isso vai se expandir.
MN – Prefeito, o que a sua gestão conseguiu fazer de concreto nesses primeiros 100 dias? Quais os acertos que o mariliense já pode notar?
Daniel Alonso – Vou dar o exemplo das escolas. Nós pegamos elas literalmente abandonadas porque depois que os caras [equipe do ex-prefeito Vinícius Camarinha] perderam as eleições largaram mão de tudo. Não fazia capinação, limpeza, manutenção. Fizemos o básico. Dedetizamos muitas escolas, checamos itens de segurança, limpamos, organizamos. Coisas pequenas mas de suma importância, que não estavam sendo feitas. Isso é visível. A manutenção está sendo feita agora.
Nós também preenchemos cerca de 400 salas de aula. Tínhamos esse imbróglio do final do contrato com as professoras e educadoras. Tivemos que a toque de caixa contratar mais 200 e poucas professoras para preencher essas salas.
Outra coisa importante: regularizamos a questão do transporte escolar. Conseguimos recuperar alguns veículos inclusive. Também foi feita a licitação de seis ônibus novos, três vans adaptadas e mais três vans normais, que vão reforçar a frota. Além da segurança dos alunos, essa ação vai diminuir o gasto com os veículos velhos.
Melhoramos a qualidade da merenda. O serviço superou as dificuldades enfrentadas nos meses de fevereiro e março, com as entregas de todos os alimentos previstos no encerramento do mês. Por dia, são servidas mais de 54 mil refeições na cidade. A aquisição foi de 80 toneladas, sendo 20 mil quilos de carnes. Estamos melhorando qualidade e custo das merendas.
Incrementamos também aula de educação ambiental, aulas de empreendedorismo, atividades pela cidade. Ou seja, estamos fazendo a gestão da educação de forma mais ampla. Isso pode ser notado. Mesmo que educação seja uma coisa que não tem fim, é meu destaque a curto prazo. A longo prazo planejamos reformar todas as unidades.
MN – Qual sua maior preocupação no momento? O que tira o sono do senhor?
Daniel Alonso – Você vê que falamos das áreas mais importantes, que consomem metade da receitada cidade, que são educação e saúde. Mas o que tira mais o sono mesmo é ver a quantidade de buracos que temos pelas ruas, o mato que não para de crescer e as muitas áreas públicas que precisamos conservar.
A questão da falta de água também. Quando dá um problema em alguma adutora ou algo do tipo eu fico muito incomodado. Castiga muito a população. Claro que é pontual, mas isso me atormenta. Até porque são serviços básico né? Isso é o mínimo que temos que fazer para a cidade ficar realmente bonita. Essas coisas me chateiam um pouco, mas estamos avançando e com o tempo será resolvido, eu garanto.
Dinheiro. Dinheiro é uma coisa que realmente me preocupa muito. Precisamos equalizar as finanças. Sem isso não faço nada. Temos uma expectativa dos governos Federal e Estadual, mas por lá também a reclamação é grande. Então, percebe? A responsabilidade de tudo está ficando para os municípios, é complicado.
MN – A relação com os servidores parece que está desgastada nesse começo de governo. O que pode ser feito?
Daniel Alonso – Não desgastou. Deixa eu te falar uma coisa, há um grande equívoco quando se fala nisso. Eu convivo com os servidores quase o tempo todo, gostaria de ficar inclusive mais tempo, principalmente nas grandes secretarias. O que eu percebo é que o sindicato junto com uma minoria, que evidentemente está fazendo seu papel, passa uma impressão errada do que realmente acontece. Isso reverbera de uma forma, dando a falsa sensação de que os servidores e prefeito estão em desgaste. Não enxergo assim.
Desde o começo deixei clara a situação. Agradeço imensamente os servidores que me apoiaram, mesmo no momento difícil que foi a anulação daqueles planos de carreira inconstitucionais. Tive o apoio de todos, mas deixei claro que neste primeiro momento nada ia ser fácil, que eu precisaria da compreensão de todos.
Só posso fazer alguma coisa pelos servidores depois da lição de casa feita, que é arrumar as finanças. Aí dentro de um orçamento mais generoso posso fazer algo melhor. Eu trabalho com orçamento, tenho que ter responsabilidade, se eu der um aumento agora crio problemas com a lei de responsabilidade fiscal. Quem não quer ser amado pelos servidores, pelo povo? Qualquer um quer, mas as coisas não são bem assim.
O que foi feito no nosso exercício por exemplo? A incorporação do abono. Eu assumi essa decisão para mim. Todas as equipes técnicas e o jurídico da Prefeitura me aconselharam a não incorporar o abono, isso lá em janeiro. Me falaram: Daniel você não pode fazer isso, vai trazer um impacto de 12% na folha, por isso, por isso e por isso. Mesmo assim eu assumi a bronca. Alguém pode dizer, ‘Daniel mas quem deu foi o outro’, mas mesmo assim, o reflexo é no meu governo.
Na média o aumento foi de 5.48%. Mais aquilo que foi oferecido em termos de aumento no vale, que é de 54,5%. Mais 2% de aumento salarial. A bem da verdade é que ninguém faz essas contas. Se colocar na ponta do lápis os servidores verão que a gente já fez mais do que podia no momento. Estão fazendo uma leitura muito ruim sobre a questão da valorização do servidor. Essa coisa de falar em aumento zero é ou ignorância ou maldade. Não é possível se levar em consideração o que já foi feito. Eu diria que essa questão do estado de greve irá de dissipar naturalmente, não há motivo para isso, sei que a maioria dos servidores acredita no nosso trabalho.
Quem que não tá estressado por causa de dinheiro? O que eu mais sinto é a dificuldade financeira de cada um. A maioria dos servidores está devendo e isso estressa mesmo. Mas isso não é um problema só do prefeito, é do país todo.
MN – O senhor foi criticado por várias nomeações que fez para cargos comissionados. Os quais inclusive prometeu que iria extinguir. Como responde a isso?
Daniel Alonso – É um crime falar isso. Eu concordo que participei e tenho minha parcela de culpa nisso, quando lá atrás em uma entrevista eu disse que iria acabar com os cargos comissionados. Primeiro lugar, a referência que eu tinha desses cargos era dentro daquele contexto que a gente vivia. Depois que você assume a Prefeitura, vê as deficiências que existem. Não tem como governar sem esses cargos. Na secretaria de Obras por exemplo a maioria são comissionados. Muitos dos comissionados são profissionais de carreira, só mudaram a nomenclatura. Fala que é desnecessário. Digo com certeza: não são.
O que existe foram algumas nomeações polêmicas. Venhamos e convenhamos, eu não inventei esses cargos. Existem nos Estados Unidos, Europa, Brasil inteiro. E além do mais, eu sou o prefeito que menos cargos utiliza na história. Camarinha teve quase 700. Bulgareli 400. Vinícius teve 245. A Matra conseguiu através de meios jurídicos que abaixasse para 160. A última limpeza que foi feita sobrou o mínimo do mínimo. É o que tem que ficar.
O que se apegam muito é na minha fala. Eu falei num contexto que era uma festa de cargos fantasmas. E digo mais, os cargos comissionados custam menos para o município. Não tem os benefícios que tem os de carreira. Você exonera a qualquer momento.
MN – O que a população de Marília pode esperar da sua gestão no curto prazo? O que dá pra ser resolvido ainda este ano?
Daniel Alonso – Esse é um ano em que o principal objetivo é melhorar os serviços essenciais. A questão da criança na escola, a rede básica de saúde, manutenção das ruas, limpeza, o que eu considero básico da gestão. Vamos fazer bem feito o que o outro não fazia.
O que vamos fazer ainda este ano é retomar as obras do esgoto e a construção de três grandes reservatórios de água, para acabar com o problema do abastecimento. Vamos iniciar também a construção do Centro de Iniciação ao Esporte. O Parque do Povo retomamos as obras também.
Esse ano nós estamos vivendo um período de elaboração de muitos projetos. A coisa funciona assim: fabrico todos esses projetos, encaminho tanto para as secretarias de Estado quanto para os ministérios do Governo Federal e tento angariar os recursos necessários para execução disso. Mas isso só ano que vem mesmo. Seja reforma de escola, postos de saúde, um recape mais amplo, a região das novas casas de Nóbrega, que não tem estrutura nenhuma, revitalização do centro, parques, enfim, existem muitos gargalos.