Polícia pede prisão de PM que matou jovem
A Polícia Civil de Ourinhos (94 quilômetros de Marília), por meio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), representou pela prisão temporária do policial militar que matou um rapaz de 22 anos, no último dia 9, próximo ao espaço que abrigava a Feira Agropecuária e Industrial (Fapi) da cidade.
Os delegados alegaram que houve eventual intenção de matar e tiveram, inclusive, dificuldades de produzir provas.
Na representação, assinada pelos delegados João Ildes Beffa e André Rossignoli, consta que o policial militar Luís Paulo Izidoro, de 27 anos, foi o autor da morte de Brian Cristian da Silva.
No mesmo dia, a Polícia Militar (PM) solicitou a presença da Polícia Científica “em um local de disparo de arma de fogo acidental”. Ciente disso, o delegado plantonista aguardou a apresentação da ocorrência, o que não foi feito.
Então, ele entrou em contato com a Santa Casa de Ourinhos, que o informou que Brian já estava morto quando deu entrada no hospital. Na manhã seguinte, três policiais militares foram ao plantão da Civil para comunicar que a ocorrência seria lavrada pelo Batalhão de Polícia Militar de Ourinhos, que entendeu que era um homicídio culposo – quando não há intenção de matar -, e que corresponde a um crime militar.
Contudo, os delegados afirmam que houve eventual intenção de matar e as imagens das câmeras de segurança de um estabelecimento próximo ao local do crime deixam claro que o policial foi em direção ao carro onde a vítima estava, sacou a arma e apontou para o peito do rapaz. Ele tentou, ainda, puxar a vítima pela janela do veículo e, em seguida, disparou.
Os delegados defendem, na representação, que “aquele que saca uma arma de fogo, em abordagem policial, aponta para o peito de uma pessoa sentada no banco do carro, presa pelo cinto de segurança, assume o risco de dispará-la e de produzir o resultado morte. Isso se não teve a intenção direta de matar pelo simples fato de Brian pegar um cone de sinalização”.
Provas
Os delegados defendem, ainda, que a PM não preservou o local do crime até a chegada da Polícia Civil. Toda a ocorrência foi levada ao Batalhão, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante de Izidoro, que havia sido acusado do crime militar de homicídio culposo. Depois, ele foi solto, porque a prisão em flagrante teria sido considerada ilegal pela 1.ª Auditoria Militar.
A Polícia Civil alega que “desde o início das investigações, encontra enorme dificuldade de produzir prova”. Exemplo disso é que a cópia do auto de prisão em flagrante do policial e as imagens das câmeras de segurança tiveram de ser solicitadas judicialmente. Além disso, outro policial teria copiado as imagens em um pen-drive e apagado do DVR.
Segundo os delegados, Izidoro teria alegado que a arma disparou sem que acionasse o gatilho e a única questão que a PM deixou de fazer à perícia foi se o equipamento apresentava algum defeito. Quando a Polícia Civil fez a mesma pergunta, de forma complementar, a arma já havia sido retirada do Núcleo de Perícias Criminais de Ourinhos pela própria PM.
Quando a Civil requisitou a devolução, o item tinha sido levado ao Centro de Suprimento e Manutenção de Armamento e Munições da PM, “órgão esse sem qualquer competência e atribuição para a realização de exame pericial”. Os delegados também constataram que o projétil, que atingiu a vítima e se alojou no carro, foi retirado sem a presença de perito criminal.
Ele queria ser policial
Brian Cristian da Silva sonhava em ser policial militar e, por ironia do destino, morreu pelas mãos de um.
É o que revela a mãe do rapaz, a dona de casa Valdinéia Pontes, de 41 anos. “Ele até brincava comigo. Queria ser policial rodoviário e disse que me multaria quando eu passasse pela base”, acrescenta.
Desolada, dona Néia, como é chamada, só espera por justiça. “Quero ouvir o júri dizendo que ele (o PM) foi condenado”, desabafa.
PM defende que crime é militar
Em nota, a comandante do 31.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (31.º BPMI), a tenente coronel Cenise Araújo Calasans, defende que o crime é militar. “Portanto, todas as medidas legais foram realizadas imediatamente e as peças processuais, encaminhadas ao Tribunal de Justiça Militar”, escreveu.
Ela revelou que a abordagem policial foi correta, porém, o resultado, lamentável. Segundo a tenente coronel Cenise, os militares não forçaram a parada da ambulância, só solicitaram o atendimento e “a equipe médica prestou o atendimento inicial”. A comandante afirmou também que nenhum policial deletou imagens das câmeras de segurança.
Sobre o fato de o veículo onde a vítima estava ter sido lavado, a tenente coronel explicou que o carro passou por perícia, foi liberado ao proprietário e levado à sede do Batalhão, junto com as testemunhas. Como o estofamento estava com sangue, foi determinado que fosse lavado, mas só porque já havia passado por perícia. “A lavagem do veículo foi um favor”, disse.
Em relação à arma, ela foi enviada ao Instituto de Criminalística de Ourinhos e, posteriormente, ao Centro de Suprimento e Manutenção de Armamentos da Polícia Militar. Em seguida, foi entregue ao Tribunal de Justiça Militar. Já o policial foi preso, mas conseguiu alvará de soltura. Ele aguarda o processo prestando serviços administrativos.
Outra investigação
O caso ganhou tanta repercussão que chegou ao conhecimento de Luiz Carlos dos Santos, que é relator da Comissão de Violência Policial e Letalidade do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). Ele também investiga o crime e pretende concluir seu relatório ainda hoje. O documento será publicado até terça-feira, quando o conselheiro deverá vir a Bauru para se reunir com os órgãos competentes.
Com base na análise do inquérito policial e das imagens das câmeras de segurança, Santos já adiantou alguns pontos: a abordagem do rapaz não foi correta; os policiais teriam ameaçado a médica e outra funcionária do Samu, para que socorressem a vítima; um policial apagou as imagens das câmeras de segurança; o carro foi levado ao Batalhão e lavado; a ocorrência e a arma não foram conduzidas até a delegacia.
Fonte: JCNET