Mulher e filhos, ex-moradores de Marília, são feridos em bombardeio no Líbano
A ex-moradora de Marília Fátima Boustani, libanesa naturalizada brasileira de 30 anos, recebeu alta de um hospital em Beirute nesta quarta-feira (12), após ter sido ferida em um bombardeio no sul do Líbano. Ela e dois de seus quatro filhos ficaram feridos em um ataque aéreo atribuído a Israel no dia 1º de junho. A explosão ocorreu a poucos metros de sua casa enquanto ela preparava o almoço para as crianças em sua cidade natal, Seddiqine.
O Marília Noticia conversou com amigos de Fátima, que relataram uma possível intenção da família em voltar a Marília. “Ela está bem, saiu do hospital, mas vai precisar de uma ou duas cirurgias. A filha de dez anos ainda está internada. O filho de nove que também ficou ferido já teve alta, está com ela”, disse um amigo da família ao MN.
Fátima decidiu retornar ao Líbano em meio a uma série de dificuldades pessoais. Em setembro do ano passado, quando ainda morava em Marília, ela registrou um boletim de ocorrência contra seu companheiro, Ahmad Aidibi, por suposta agressão.
Segundo o documento registrado na polícia, Aidibi teria agredido a mulher na noite do dia 19 de setembro, durante uma briga interrompida por vizinhos que entraram na casa da família na zona leste de Marília. De acordo com o relato, eles teriam encontrado o marido supostamente tentado enforcar Boustani no quarto do casal.
Ainda conforme o boletim de ocorrência, Aidibi saiu do local em seguida, levando o celular de sua esposa e ainda o RNE (Registro Nacional de Estrangeiros) dela e de seus quatro filhos, além dos passaportes das crianças – Boustani nasceu no Líbano e obteve cidadania brasileira em janeiro deste ano.
De acordo com informações apuradas pelo portal UOL, Ahmed teria pedido ao irmão dele para buscar os filhos em Marília e levar para Itapevi, na Grande São Paulo, onde o cunhado da mulher mora. Uma semana depois, Ahmed embarcou para o Líbano com as crianças. Fátima e seu advogado registraram um boletim de ocorrência em Marília após o episódio.
“Como forma de me punir, meu marido (…) embarcou para o Líbano (…) levando nossos filhos sem a minha autorização”, diz o relato do documento. A viagem, que teria ocorrido na madrugada do dia 26 de setembro, foi o que motivou o registro do boletim.
Procurado pelo jornal Folha de S.Paulo, Aidibi não quis se manifestar, mas seu primo, Hussein Ezzddein, nega as acusações e afirma que não houve agressão – os dois discutiam naquele momento e ambos gritavam, segundo ele. “Os vizinhos entraram [na casa], mas era uma briga de casal”, afirma.
Ezzddein também refuta que o primo tenha enganado a esposa para assinar a autorização de viagem. “Eles combinaram de ela ficar no Brasil, e ele foi com as crianças para o Líbano”, diz. Ainda segundo o parente de Aidibi, o casal se comunicava normalmente pelo celular até o momento do ataque. Desde então, ela teria parado de responder às mensagens do marido.
Sem entrar em detalhes, Ezzddein afirmou que seu primo estaria a caminho da Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (13) para pedir esclarecimentos e que iria consultar um advogado para cuidar do caso.
Boustani ficou ferida após um ataque aéreo atingir a casa em que morava na cidade de Saddiqine, no sul do Líbano, em 1º de junho. Naquele dia, Israel bombardeava instalações na região, palco de trocas de fogo quase diárias entre Tel Aviv e o Hezbollah, grupo extremista libanês que apoia o palestino Hamas.
Dias depois, as Forças Armadas israelenses disseram à Folha de S.Paulo que haviam aberto uma investigação para apurar um possível “mau funcionamento técnico” em uma ou mais bombas usadas na ofensiva daquele dia, embora não tenham assumido a autoria do ataque que feriu a brasileira.
Boustani teve alta do hospital dez dias após o incidente e agora está sob cuidados domésticos. Antes disso, ela havia sido transferida de um hospital em Tiro, cidade perto de Saddiqine, para a capital, Beirute. De acordo com seu tio, Jihad Azzam, ela ainda precisará passar por outros procedimentos, incluindo uma cirurgia plástica.
Dois dos filhos de Boustani também foram atingidos pelos bombardeios. A menina de 10 anos passou por uma operação bem-sucedida na perna e chegou a ficar na UTI. Ela agora precisará ser submetida a outra operação, segundo Azzam. O garoto de 9 anos que havia sofrido ferimentos leves, foi liberado no começo da semana passada.
A reportagem do jornal Folha de S.Paulo tentou entrar em contato com Boustani, mas ela desistiu da entrevista após ser informada da nova cirurgia de sua filha, segundo um familiar.
Um amigo do casal ouvido pela reportagem do Marília Notícia, disse que Ahmad Aidibi acompanha a situação da família e pretende voltar a viver com a esposa e os filhos em Marília, onde encontraram tranquilidade.
“Brigar, todo mundo briga. As pessoas ao invés de estarem preocupadas em ajudar, para que eles possam reconstruir a vida em família, ficam falando sobre a parte pessoal”, afirma o amigo libanês, também radicado em Marília.
Ele diz ainda que “o assunto importante é que ela [Fátima] e as crianças foram feridas em um ataque”, e que são brasileiros vitimados pela guerra. “Precisam de ajuda, mas infelizmente a imprensa do Brasil fala mais da vida conjugal do que do conflito que está ferindo inocentes”, critica.
O MN também procurou a Polícia Civil de Marília, para questionar sobre eventual crime de violência doméstica, mas foi informado que caso tramita em segredo de Justiça.
Com informações da repórter Daniela Arcanjo da Folhapress