Moradores do RS deixam estado para se abrigar com parentes e amigos em Santa Catarina
Diante das enchentes que deixaram mais de cem mortos no Rio Grande do Sul nos últimos dias, gaúchos buscam refúgio com familiares ou amigos em Santa Catarina e outros aguardam carona para fazer esse deslocamento.
A arquiteta Bruna Meotti é moradora do centro histórico, um dos bairros mais afetados de Porto Alegre. A luz acabou no prédio onde mora, a água foi racionada até acabar por completo e os vizinhos foram saindo aos poucos, à medida que a água avançava. Mesmo morando em uma parte mais alta do bairro, ela conta que ficou ilhada por dias.
A decisão de viajar, contudo, aconteceu apenas nesta terça (7) pois, além de o centro histórico estar sem luz e sem água, a sensação de insegurança tomou conta, ela diz.
“Não dá para enxergar à noite. Nas partes mais baixas do centro, os moradores já foram embora. No meu prédio ficaram poucos moradores e eu decidi não ficar mais lá”, afirmou. Também pesou na decisão a previsão do tempo, que aponta mais chuva para região.
Bruna conta que, para chegar a Santa Catarina, conseguiu uma carona até Florianópolis, onde está hospedada na casa de um tio. A arquiteta tem também parentes no norte gaúcho, mas, como não havia certeza sobre uma forma segura de se deslocar até lá, optou pelo estado vizinho.
“A gente não sabe quando vai melhorar, quando vai ter luz novamente, e ainda há a questão de doenças por causa da enchente”, disse a arquiteta.
O antropólogo Everson Fernandes mora na rua que separa os bairros Cidade Baixa e Menino Deus na capital gaúcha. Ele diz que conseguiu sair do prédio na última segunda (6), com apenas uma mochila, quando a água já atingia a altura da cintura.
“Eu ia ficar no prédio, mas logo que encheu, faltou luz. E para não ficar sem comunicação, decidi sair. Com auxílio dos bombeiros, quando eles resgatavam os idosos, eles deram diretrizes por onde tinha que sair em segurança”, contou.
Fernandes disse que, num primeiro momento, ficou em uma casa com dois amigos no bairro Moinhos de Vento, uma região mais alta em relação às demais. E logo todos deixaram a capital gaúcha -os amigos seguiram para Curitiba e São Paulo, e Everson foi para Palhoça, na Grande Florianópolis, onde mora a irmã.
“Minha família é de Santa Catarina, e eu ficando lá em Porto Alegre os deixava preocupados. A cidade está colapsando, uma situação difícil. Falta água nos supermercados, uma situação horrível”, disse. A previsão de mais chuva para os próximos dias também pesou na decisão.
A família de Jussara Martini se deslocou nesta quarta-feira de Porto Alegre até Itapema, cidade do litoral norte de Santa Catarina, onde tem um apartamento de veraneio. Embora não estivessem numa área de alto risco, no bairro onde vivem em Porto Alegre, chamado Ipanema, começou a faltar água e já havia prateleiras vazias nos supermercados próximos.
“Resolvemos sair, pois temos casa em Santa Catarina e parte da família mora aqui. E também para sermos uma família a menos indo a mercado, abastecendo carro, gastando água e luz em Porto Alegre”, disse.
Jussara, que viajou com o marido e o filho, diz não saber quando poderá retornar. “O clima em Porto Alegre é de muita tristeza, você sai na rua e é água para todo lado, gente pedindo ajuda, você tenta ajudar com o que pode, mas não consegue, parece ser insuficiente.”
Caio Tito, mestrando em ciência política, é natural de Marília, no interior de São Paulo, e estuda na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que está com atividades suspensas até 18 de maio. Ele conta que conseguiu uma carona para vir até Florianópolis, onde mora uma amiga, mas apenas na sexta (10).
“No local onde estou ainda não tem previsão de alagamento, mas com a previsão de chuva, não queria arriscar ficar por aqui. Também há as oscilações [de informações] sobre ter ou não água”, afirmou o estudante, que mora sozinho no Jardim Botânico.
A advogada Sarita Vallim é voluntária de um grupo que auxilia organiza doações na região metropolitana de Porto Alegre, mas começou a ficar sem água e luz onde reside e então também decidiu deixar a cidade.
“O próprio prefeito pediu para quem pudesse se retirar de Porto Alegre para deixar água para quem não consegue. Como tenho uma prima que mora em Florianópolis, consegui me deslocar para cá. Continuo trabalhando na logística das doações, mas de forma remota.”
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POR GIORGIO GUEDIN